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O presidente francês Emmanuel Macron anunciou um pacote que pode chegar a € 8 bilhões para recuperar a indústria automotiva da França, que sai seriamente abalada da dura quarentena imposta na Europa para conter a pandemia de coronavírus. Durante visita ao fabricante de componentes Valeo na terça-feira, 26, Macron delineou o plano, que inclui incentivos de € 1,3 bilhão à compra de veículos elétricos em um programa de renovação de frota, além de empréstimo de € 5 bilhões à Renault, € 1 bilhão para renovação de fábricas e € 600 milhões em participação no capital de startups e outras empresas promissoras no setor da mobilidade.
O pacote tem fortes traços nacionalistas. Em troca dos incentivos, Macron colocou sobre a mesa de negociação com os fabricantes de veículos e componentes a meta de transformar a França no maior produtor global de modelos elétricos e híbridos, bem como repatriar a capacidade de produção instalada fora do país e desenvolver em solo francês os novos produtos.
“Este é um plano histórico para uma situação histórica. Nosso país não será o mesmo sem suas grandes marcas Renault, Peugeot e Citroën”, disse Emmanuel Macron, presidente da França.
Durante a crise gerada pela pandemia, o governo francês bancou diretamente o pagamento de salários de 250 mil trabalhadores da indústria automotiva nacional. Na semana passada, autoridades francesas já vinham externando a visão de que qualquer extensão na ajuda do governo ao setor automotivo deverá estar atrelada ao repatriamento da produção que essas empresas mantém fora do país.
No anúncio do novo pacote, Macron não se referiu diretamente a essa demanda, mas disse que nenhum modelo atualmente fabricado na França deverá ser produzido em qualquer outro lugar no futuro, e que o valor adicionado aos produtos deverá ser “relocalizado” em território nacional.
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Ajuda à Renault
É sob essas condições que está sendo tratado o empréstimo com garantia estatal de € 5 bilhões à Renault, que enfrenta problemas financeiros após registrar prejuízo (o primeiro em 10 anos) de € 141 milhões em 2019 e queda de 20% nas receitas do primeiro trimestre de 2020. O crédito está pendente de um plano de reestruturação que a companhia irá apresentar até a próxima sexta-feira, 29, que antes será examinado por líderes sindicais franceses. A empresa planeja cortar € 2 bilhões em custos, incluindo o fechamento de fábricas menores de montagem de veículos componentes na França, o que deve levantar questionamentos sobre a sustentabilidade de outras unidades industriais do grupo fora do país.
A pressão nacionalista do governo francês para manter no país os projetos de veículos eletrificados já pode ser vista em alguns movimentos recentes da indústria. A Renault anunciou que irá se juntar ao Grupo PSA (dono das marcas Peugeot, Citroën e Opel) e à Total para formar uma sociedade 100% francesa de produção de baterias para carros elétricos e híbridos.
Macron confirmou que a Renault irá desenvolver na França, em vez da Ásia, um novo motor elétrico de 100 kWh para a Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi. Em um novo plano estratégico do grupo franco-japonês, a Renault tomaria a liderança no desenvolvimento de veículos elétricos.
O presidente francês também anunciou que o Grupo PSA vai produzir uma versão 100% elétrica do SUV 3008 sobre uma nova plataforma na planta de Sochaux – atualmente o modelo é vendido na Europa com motorização a gasolina, diesel e híbrida plug-in.
Outras medidas anunciadas na terça-feira envolvem a criação de um fundo de € 1 bilhão para apoiar investimentos na produção local, incluindo € 200 milhões destinados a financiar a modernização de fábricas de fornecedores de componentes. Em paralelo, o governo quer investir € 600 milhões em startups e outras companhias ligadas ao setor automotivo com grande potencial de crescimento na nova economia.
Ambição elétrica
“Nosso país precisa abraçar esta vanguarda. Necessitamos não só salvar a indústria, mas transformá-la. Para isso colocamos uma meta motivacional: fazer da França o maior produtor de veículos limpos, ao elevar a produção para mais de 1 milhão de carros elétricos e híbridos nos próximos cinco anos”, disse o presidente Macron.
Ao anunciar o plano de ajuda à indústria automotiva do país, o presidente francês divulgou um ambicioso plano de incentivos para a compra de veículos elétricos e híbridos, que começa a valer em 1º de junho próximo e vai durar até 31 de dezembro.
No novo programa, a França aumentou de € 6 mil para € 7 mil o bônus para quem compra um carro elétrico de até € 45 mil. Para clientes corporativos o subsídio é de € 5 mil. Se o cliente preferir um híbrido plug-in, a ajuda do governo será de € 2 mil, válida para modelos até € 50 mil e que tenham autonomia para rodar no mínimo 50 km com tração 100% elétrica.
Em paralelo, foi lançado um programa de renovação de frota para tirar carros mais velhos e poluentes da ruas. Quem trocar seu veículo antigo por um modelo novo ou usado de última geração a gasolina ou diesel terá direito a bônus de € 3 mil, ou de € 5 mil se a troca for por um automóvel 100% elétrico.
O consumidor na França poderá ganhar bônus duplo de até € 12 mil, somando os € 7 mil dados pela aquisição do elétrico zero-quilômetro e mais € 5 mil pela migração do usado a combustão para a mobilidade elétrica. Os dois descontos cumulativos serão aplicados até que 200 mil unidades sejam vendidas.
Ao mesmo tempo, as exigências de renda para financiamentos foram relaxadas, o que segundo Macron torna 75% das famílias francesas aptas a participar do programa de renovação e eletrificação. Ao todo, a França colocou disponível € 1,3 bilhão para incentivar a demanda e fazer girar os estoques das concessionárias.
O estímulo aos veículos elétricos na França também inclui a promessa de instalação de 100 mil estações de recarga de baterias até o fim de 2021.
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