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O primeiro mês cheio de quarentena e crise econômica provocada pela pandemia de coronavírus foi um desastre para o mercado de veículos. Foram emplacados apenas 51,3 mil automóveis e utilitários leves em abril, o que representa queda 67% sobre março passado e de 77% sobre abril de 2019, segundo levantamento da Autoinforme. Mas os números oficiais de licenciamentos não refletem integralmente a realidade, pois muitos carros foram vendidos e estão circulando sem placa, devido ao fechamento de boa parte dos Detran no País.
Ninguém duvida que a quarentena provocou a forte contração do mercado, mas é certo que os números são um pouco melhores do que mostram os registros oficiais. As vendas reais podem ultrapassar os 70 mil automóveis e comerciais leves, conforme indicam fontes ouvidas pela Autoinforme. Isso porque boa parte do sistema de licenciamentos dos Detrans está paralisada desde o fim de março, ao mesmo tempo em que muitas concessionárias continuaram vendendo com ferramentas on-line, mesmo de portas fechadas ao público para atender as medidas de isolamento social.
Considerando que as concessionárias estão fechadas e o cenário de aprofundada crise econômica pela frente, até que o movimento de vendas foi razoável, porque os fabricantes e suas redes investiram na venda pela internet, com financiamento e compra de usados on-line, test drive com veículos higienizados levados aos clientes e entrega do carro comprado em casa. Assim a tendência das negociações on-line, que já vinha crescendo, foi intensificada com a quarentena e fez a rede aproveitar a demanda que ainda restava no mercado. O fluxo de loja caiu, mas o fluxo de internet cresceu.
Com emplacamentos menores do que o número real de vendas, especialistas do mercado acreditam que os volumes de veículos vendidos são entre 30% e 40% acima dos licenciamentos registrados. Ou seja, é provável que as vendas reais de abril tenham somado entre 65 mil e 70 mil unidades.
Detrans fechados represam emplacamentos
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Um fator que ajuda a desiquilibrar a relação entre emplacamentos e vendas reais é a Deliberação 185 do Contran, que desobrigou o proprietário a emplacar seu carro novo no prazo máximo de 30 dias, como ocorria antes. Com a resolução, veículos comprados durante a quarentena poderão circular sem o documento ou placa até quando perdurarem as medidas de isolamento por causa da Covid-19 – basta apresentar a nota fiscal de compra em caso de fiscalização.
Com isso, os emplacamentos tendem a ficar cada vez mais represados – e não representam o volume real de veículos efetivamente vendidos – até a reabertura completa dos Detrans. A Anfavea reconhece e tenta lidar com mais este problema trazido pela pandemia. Em recente entrevista concedida a Automotive Business na série Lives #ABX20, o presidente da associação dos fabricantes de veículos, Luiz Carlos Moraes, defendeu que os departamentos de trânsito deveriam aproveitar a crise para se reinventar e criar mecanismos on-line mais ágeis.
“Existem Detrans funcionando, outros não. Claro que isso prejudica a evolução das vendas. Estamos tentando resolver um problema por vez e o próximo é a agilidade dos Detrans, que também precisam se reinventar, assim como toda a indústria tem de fazer neste momento. Lanço um desafio: por que não fazer um licenciamento virtual, usar placa uma virtual enquanto o carro não pode ser emplacado? Isso facilita a compra, o seguro. Assim como fazemos vendas virtuais, o sistema público poderia também atender de forma virtual e estimular o mercado. Tem cliente querendo comprar”, defende o presidente da Anfavea.
Segundo levantamento da Autoinforme, em todo o Brasil apenas 2.769 dos 5.570 municípios brasileiros (mais o Distrito Federal) registraram licenciamentos de veículos em abril. Ou seja, apenas cerca da metade dos sistemas de emplacamentos funcionou, e mesmo assim com movimento muito abaixo do normal: só 56 cidades emplacaram mais de 100 veículos.
No maior mercado do País, a cidade de São Paulo, em abril foram registrados pouco mais de 400 veículos, número que em fevereiro – antes da quarentena – somou 52 mil carros. Apenas 72 dos 645 municípios paulistas registraram algum licenciamento em abril e somente 12 emplacaram mais de 10 unidades. Piracicaba foi o município do interior paulista que mais licenciou no mês, com apenas 45 registros, contra volume normal de 600 antes da crise.
Pelos números oficiais, de janeiro a abril foram emplacados 583,8 mil veículos leves no País, volume 27% menor do que o verificado no mesmo período de 2019, quando foram registrados 801,3 mil carros e utilitários vendidos. Esta é a diferença, até agora, de quatro meses normais de vendas contra este ano de dois meses e meio normais e um e meio afetado pela pandemia de coronavírus.
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