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Os dirigentes do setor automotivo têm se reunido com integrantes da equipe econômica com frequência para pedir que o governo facilite o caminho da indústria na obtenção de empréstimos bancários. Na semana passada, eles conversaram com o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, e esta semana terão reunião, por videoconferência, com o ministro da Economia, Paulo Guedes. Participam desses encontros presidentes de montadoras e representantes da indústria de autopeças e das revendas.
“Se isso não acontecer nas próximas semanas não haverá dinheiro para pagar salários”, afirma o presidente da Volkswagen na América Latina, Pablo Di Si. O executivo argentino diz não ter a fórmula para que a autoridade monetária interfira no assunto. Mas cita, como exemplo, outra crise, em 2008, quando o então presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (hoje secretário da Fazenda de São Paulo) criou mecanismos por meio dos quais era mais vantajoso para o banco emprestar do que reter o dinheiro.
Na Alemanha, onde fica a matriz da Volkswagen, o governo tem assumido o risco na concessão de empréstimos bancários, afirma. Para Di Si, como Guedes já reconheceu que “o dinheiro está empoçado nos bancos”, o próximo passo (uma ação do governo) “é a parte mais fácil”.
A indústria pressiona para que o governo tome medidas simultaneamente. Di Si considera importante medidas como a concessão do bônus emergencial de R$ 600, que começa a chegar à população mais pobre. “Mas as coisas têm que acontecer ao mesmo tempo porque é uma questão de sobrevivência. Na Segunda Guerra ao menos uma ou outra indústria conseguia operar. Agora, com a pandemia, não temos para onde ir. Nenhuma empresa, seja pequena ou grande, tem fôlego para ficar dois meses parada”, destaca.
Há exatamente três semanas, quando a Volkswagen começava a parar as máquinas de suas quatro fábricas no Brasil e duas na Argentina, Di Si afirmou ao Valor que “a roda precisava voltar a girar em três ou quatro semanas”. Caso contrário, a indústria “teria outro tipo de problema”. Desde então, a Volks já esticou o período de férias de duas para quatro semanas e na próxima semana iniciará reuniões com os sindicatos para buscar meios de flexibilizar o trabalho.
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Já é certo, afirma Di Si, que a montadora alemã retomará a atividade de forma bem gradativa. E, para isso, tem se inspirado no que as fábricas da companhia na China têm feito. “Diminuiremos a quantidade de turnos, aumentaremos o número de ônibus fretados que levam os funcionários até as fábricas para evitar aglomerações, garantiremos o distanciamento no local de trabalho e forneceremos máscaras de proteção”, destaca.
Outra decisão também inspirada na solução chinesa é a instalação de termógrafos para medir a temperatura do pessoal na entrada dos turnos. Outra decisão do governo alemão, de reiniciar a atividade pelos setores estratégicos que mais empregam também poderia servir de inspiração ao Brasil, sugere o executivo. Nessa estratégia, a Alemanha incluiu a indústria automobilística, logística e de telecomunicações. “Aqui o governo pode escolher, por exemplo, as empresas brasileiras que mais dão emprego”, afirma o executivo.
Além de preparar as fábricas para a volta ao trabalho, a Volkswagen, maior produtora de veículos do país, tem preparado vídeos com informações de segurança e higiene para seus 15 mil funcionários. Esse trabalho de comunicação será intensificado na próxima semana por meio de mensagens internas e aplicativos. Quando as fábricas voltarem a funcionar a comunicação visual continuará a ser exibida por meio de telões espalhados pelas linhas de produção.
Segundo Di Si, na próxima semana, a Volks iniciará um trabalho com fornecedores para que eles também reforcem a comunicação sobre medidas de segurança e higiene para evitar a disseminação da covid-19.
Aos poucos, as montadoras que haviam se programado para retomar o trabalho na metade do mês tem optado pela esticar a paralisação. Ontem a coreana Hyundai anunciou a prorrogação das férias coletivas dos 2,5 mil empregados que trabalham na fábrica de Piracicaba, no interior de São Paulo, e dos 200 que ficam no escritório na capital paulista. Inicialmente, as férias que começaram no dia 26 terminariam no dia 13. O retorno foi, agora, marcado para o dia 22.
Ao todo, 123 mil empregados da indústria de veículos e de máquinas agrícolas estão afastados do trabalho em todo o país desde a última semana de março.
As montadoras analisam estratégias para não só garantir segurança aos operários mas também saber o momento ideal de retomar a produção. A Volks, por exemplo, se prepara para voltar no dia 5 de maio, segundo a atual previsão de Di Si. Mas quando isso ocorrer haverá compradores para os carros? “Essa é a pergunta de um milhão de dólares”, afirma Di Si.
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