Toyota projeta novo crescimento após registrar melhor ano no Brasil

Marca japonesa espera vender 219 mil veículos e produzir 225 mil no País em 2019

Em 2018 a Toyota cresceu no Brasil menos da metade do que a média nacional do setor, mas não houve reclamações, pois o resultado foi o suficiente para registrar o seu melhor desempenho de todos os 60 anos da empresa no País, completados no ano passado (foi a primeira operação industrial fora do Japão). Para Steve St. Angelo, CEO da companhia na América Latina, o mais importante é manter o crescimento constante. 

“Estamos registrando crescimento sustentável, pouco a pouco, ano após ano. Essa é a maneira de ser da Toyota. Não vamos desafiar o mercado e ficar sujeitos a altos e baixos. Vamos continuar a investir aqui porque confiamos no Brasil”, disse Steve St. Angelo.

Os brasileiros compraram 200 mil veículos Toyota em 2018, novo recorde anual que superou o anterior de 195 mil em 2014. A expansão foi de 5,3% sobre 2017, fazendo a marca japonesa descer da sexta para a sétima posição do ranking nacional de vendas, com participação de mercado que caiu de 8,7% para 8,1%. “Este ano esperamos por um mercado total em torno de 2,8 milhões de unidades, talvez um pouco mais. Nós devemos avançar um pouco mais rápido desta vez, teremos um ano inteiro com o Yaris que está indo bem. Por isso projetamos nosso crescimento em 9,5%, para 219 mil emplacamentos”, afirma Rafael Chang, presidente da empresa no Brasil. 

O resultado não foi melhor em 2018 porque as fábricas no interior paulista operaram no limite da capacidade. Mesmo assim a produção cresceu 6%, somando 209 mil unidades, 28% para exportação a países sul-americanos, em proporção que deve ser mantida em 2019, quando a Toyota espera expandir em 7,6% a produção brasileira, atingindo 225 mil veículos. “Poderemos chegar a esse volume com o terceiro turno na fábrica de Sorocaba que iniciamos já no fim do ano passado”, recorda Chang. Com todas as expansões, o quadro de funcionários no Brasil cresceu 18%, de 5.880 pessoas para 6.954 até o fim de dezembro passado. 


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Investimentos de R$2,6 bilhões

A Toyota deve consolidar até o fim de 2019 investimentos de R$ 2,6 bilhões na operação brasileira. A planta de Sorocaba recebeu R$ 1 bilhão e foi preparada para a expansão. A unidade já fazia desde 2012 a família Etios (hatch e sedã) e no meio de 2018 passou a produzir também o Yaris hatch e sedã, com o ritmo aumentado para três turnos de trabalho, que exigiu a contratação de 1.570 pessoas na linha de montagem e nos fornecedores. A capacidade na unidade cresceu de 108 mil para 160 mil veículos/ano. 

O mesmo aconteceu com a fábrica de motores de Porto Feliz, que recebeu aportes de R$ 600 milhões para aumentar a capacidade, opera em três períodos para atender a demanda das linhas de montagem pelos propulsores 1.3 e 1.5, mas até o segundo semestre deve começar a produzir nova linha 1.8 e 2.0, incluindo versão híbrida flex (com motor elétrico e a combustão bicombustível etanol-gasolina) que muito possivelmente irá equipar a nova geração do sedã médio Corolla. 

Para fazer o carro, o mais vendido da Toyota no Brasil e décimo do mercado em 2018, a fábrica de Indaiatuba recebe investimentos de R$ 1 bilhão, está em fase de modernização e eliminação de gargalos produtivos. Dificilmente será adotado o terceiro turno na unidade, que em 2018 completou 20 anos operando com horas extras acima de sua capacidade nominal. A Toyota não confirma oficialmente, mas os aportes deverão trazer aumento de produtividade para introduzir na planta a nova plataforma TNGA, sobre a qual a nova geração do Corolla será construída a partir do segundo semestre, incluindo a versão híbrida flex. 

Falta um SUV compacto

Ainda falta à Toyota um SUV compacto para tirar proveito do segmento que mais cresce no País e assim ganhar estatura no mercado nacional. Tanto Steve St. Angelo como Rafael Chang, presidente da Toyota no Brasil, admitem que o modelo está nos planos e demonstram certa ansiedade por até agora não terem conseguido colocar o carro no mercado. “Obviamente é o que está faltando, mas também precisamos de mais capacidade de produção”, diz St. Angelo. “Não quero sair do País enquanto não lançarmos o SUV nacional”, afirma Chang. 

Nenhum dos dois confirma, mas é mais provável a construção desse SUV compacto sobre a plataforma do Yaris produzido em Sorocaba, pois é lá que a empresa tem mais capacidade de produção. Além disso, esta seria uma solução mais barata e acessível para o mercado brasileiro. Outra opção, menos provável, é o C-HR, um SUV compacto lançado há pouco mais de dois anos e fabricado sobre a plataforma TNGA, a mesma da nova geração do Corolla a ser feito em Indaiatuba. É um carro mais caro que necessariamente ocuparia espaço na mesma linha de produção já no limite do campeão de vendas da Toyota no País, o que exige decisões arriscadas fora do perfil conservador de empresas japonesas. 

Linha rentável

Mesmo sem o SUV compacto nacional, St. Angelo chama a atenção para a linha com rede rentável que a Toyota mantém no Brasil. Em um levantamento que leva em conta as vendas de janeiro a outubro de 2017, as 172 concessionárias Toyota no País figuram em primeiro lugar no faturamento mensal por loja, de R$ 8 milhões/mês, quase o dobro dos R$ 4,8 milhões/mês da segunda colocada, a GM/Chevrolet com seus 368 showrooms. A Honda fica em terceiro com 206 pontos e R$ 4,4 milhões/mês por concessionária. 

Com rede mais enxuta, no mesmo período de avaliação a Toyota tem o segundo maior volume mensal de venda por loja, de 1.180 veículos/mês, poucas unidades atrás da primeira colocada, a GM/Chevrolet, que vende 1.180 carros/mês por concessionária. Mais atrás, a Hyundai tinha média de 979 vendas por mês em cada um de seus 211 showrooms. 

Graças à reputação que conquistou, os modelos Toyota mais vendidos no País são também os mais caros e rentáveis – daí a discrepância tão elevada na comparação de faturamento mensal por loja. Os 59 mil Corolla emplacados em 2018, com preços superiores a R$ 100 mil por unidade, representaram 30% das vendas da Toyota no mercado brasileiro. Depois do sedã médio, o segundo veículo da marca japonesa mais demandado pelos clientes brasileiros é ainda mais caro, a picape média Hilux produzida na Argentina, que custa de R$ 112 mil a quase R$ 200 mil, com 39 mil unidades comercializadas no ano passado. 

Na faixa de mercado de sedãs médios e picapes médias a fabricante reina absoluta no País com clientes que trocam um Toyota por outro. A novidade no cenário é o Yaris lançado em junho do ano passado, que está roubando clientes de outras marcas. Em apenas meio ano de vendas o modelo hatch somou 18,6 mil emplacamentos e o sedã 13,6 mil, e segundo a Toyota 70% dos clientes tinham antes carros de outras marcas. Se continuar no mesmo ritmo, o Yaris tem potencial para ser o novo campeão da Toyota no Brasil.