Brasil some do plano estratégico da Volkswagen

País tem pouca relevância no planejamento apresentado até 2025.

O Brasil, maior mercado da América do Sul onde a Volkswagen iniciou sua expansão internacional com a construção de sua primeira fábrica fora da Alemanha ainda no fim dos anos 1950, não é citado sequer uma vez no comunicado distribuído pela empresa que explica o plano Transform 2025+, aprovado por seu conselho de administração na terça-feira, 22, na sede da companhia em Wolfsburg. O programa elenca as principais ações da VW como fabricante e marca de veículos até 2030, aponta os objetivos nas diferentes regiões do mundo, com o claro objetivo de limpar sua imagem e superar o escândalo da fraude de emissões de poluentes de motores diesel, por meio de forte ofensiva no lançamento de carros elétricos na próxima década na Europa Ocidental, China e Estados Unidos. 

A profunda e persistente depressão do mercado brasileiro, piorada pela constante perda de participação da marca nas vendas, torna o Brasil menos importante nos planos futuros da Volkswagen – e de outras empresas estrangeiras que atuam no País. A notória perda de importância da operação brasileira fica melhor evidenciada no único trecho do comunicado sobre o plano estratégico em que a região sul-americana é citada em meio a outros mercados emergentes. 

Traduzindo do documento em inglês, a empresa diz: “Na China, a Volkswagen quer reforçar sua posição de ‘topo de volume’ que já conquistou (NR: quer dizer, liderança no alto dos segmentos de altos volumes). Também na China a marca visa se beneficiar do potencial de forte crescimento do segmento econômico (NR: em inglês, economy segment significa carros mais baratos, de entrada, assim como a economy class dos aviões é ‘classe econômica’). Esse trabalho já começou com o desenvolvimento de modelos apropriados. Em outros mercados relevantes como Índia, América do Sul e Rússia, a Volkswagen também pretende desenvolver o segmento econômico”, afirma a nota. Ou seja, a intenção por aqui parece ser de continuar a projetar e vender produtos mais baratos, de baixo valor agregado, sem grandes sofisticações tecnológicas, como sempre foi feito até o momento. 


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Se o Brasil e outros emergentes terão mais do mesmo, a Volkswagen promete mudanças bem mais profundas para Europa, China e América do Norte em seu plano Transform 2025+. “Nossos objetivos são elevados e nossa estratégia é muito ambiciosa. Queremos ganhar com as mudanças e levar a Volkswagen à liderança da nova indústria automotiva. Ao longo dos próximos anos, a Volkswagen mudará radicalmente. Poucas coisas continuarão como são hoje. Em última instância, a nova estratégia é um grande programa de transformação”, resumiu Herbert Diess, presidente do conselho de administração da marca. 

Transformação em três fases

Segundo a empresa, as mudanças vão acontecer em três fases. A primeira, até 2020, é a mais dura, prevê profundas reestruturações na companhia, cortes de custos, programa de demissões de 30 mil funcionários em todo o mundo. O objetivo é realinhar o negócio, recuperar a imagem e os estragos financeiros do dieselgate, criar novas competência e redirecionar recursos para o desenvolvimento de novos produtos, especialmente os elétricos, que chegam com força na fase dois do programa, até 2025, quando a VW pretende lançar mais de 30 modelos elétricos, para “assumir a liderança em mobilidade elétrica com base em sua força recuperada como uma fabricante de alto volume proeminente e lucrativa”, diz o comunicado. 

Com a descontinuação de certos modelos convencionais e de versões de baixo volume e baixa lucratividade, a Volkswagen espera liberar recursos acima de € 2,5 bilhões para desenvolver veículos elétricos, com a meta ambiciosa de ser a número um do segmento. “A partir de 2020 vamos lançar nossa grande ofensiva de mobilidade elétrica. Não estamos mirando em produtos de nicho, mas o coração do mercado automobilístico. Até 2025, queremos vender 1 milhão de automóveis elétricos por ano e ser líderes no mercado mundial. Nossos futuros carros elétricos serão a nova marca registrada da Volkswagen”, afirmou Diess. 

Para esta etapa também está prevista a incorporação de outra tendência da indústria: criar novos serviços de mobilidade, como por exemplo participar do mercado de compartilhamento de veículos que ganha força nas economias desenvolvidas. A intenção para depois de 2025, segundo a Volkswagen, é participar de forma rentável da grande transformação esperada na indústria, com o objetivo de liderar o novo mundo da mobilidade até 2030. 

“Topo de volume”

Com o emergente novo slogan criado para a nova fase da empresa, Moving People Forward (Movendo as Pessoas Adiante), a Volkswagen quer ser líder “no topo do segmento de volume” – traduzindo, ser a que vende os carros mais caros do mercado de altos volumes. A companhia afirma que, até agora, só alcançou este objetivo na China e Europa. Para conquistar essa posição no resto do mundo, a estratégia é muito parecida com a dos demais concorrentes: uma forte ofensiva de lançamentos de novos modelos SUVs no primeiro estágio e com a onda de eletrificação no segundo estágio. 

Com esses dois movimentos combinados (mais SUVs e mais elétricos), a VW espera garantir volumes maiores tanto na China como nos Estados Unidos. Na América do Norte, a meta é passar de uma marca de nicho a uma relevante e lucrativa fabricante de alto volume. Segundo Diess: “Vamos incrementar significativamente nossas atividades nos Estados Unidos. O foco principal será nos segmentos chave no país, como grandes SUVs e sedãs. Num segundo estágio, traremos nossos carros elétricos para a América do Norte. Ao longo dos próximos anos, faremos consideráveis investimentos em infraestrutura elétrica”. A produção local de veículos sobre a plataforma elétrica MEB deve começar em 2021, segundo a empresa. 

A marca também informa que vai desenvolver sua própria plataforma digital, para se aproximar dos clientes e desenvolver novos potenciais de ganhos, por meio da oferta de serviços. Até 2025, a Volkswagen espera ter cerca de 80 milhões de usuários ativos de sua plataforma em todo o mundo, com vendas provenientes de veículos interconectados de € 1 bilhão por ano. 

Crescimento lucrativo

As expectativas em relação aos resultados do programa Transform 2025+ são igualmente ambiciosas. O conselho de administração da Volkswagen espera por significativo aumento no faturamento e na lucratividade ao longo dos próximos 10 anos com o cumprimento das metas do plano. O objetivo é dobrar a margem de lucro operacional dos 2% em 2015 para 4% até 2020, com elevação para 6% até 2025. 

Para alcançar os novos níveis de rentabilidade a companhia também conta com o que chama de “pacto para o futuro” apresentado em 18 de novembro, que com seus cortes e readequações de pessoal e fábricas terá impacto positivo calculado em € 3,7 bilhões por ano até 2020 – sozinhas, as instalações na Alemanha contribuirão com € 3 bilhões deste total. A marca Volkswagen afirma que ao longo dos próximos anos manterá seus investimentos estáveis na casa de € 4,5 bilhões.