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A retração da economia também chegou ao segmento de carros premium, que caminha em 2016 para sua primeira queda de vendas após anos seguidos de crescimento vigoroso. Após avançar 20% de 2014 para 2015, com cerca de 60 mil unidades vendidas, esta porção do mercado brasileiro já acumula contração de 30% entre janeiro e abril deste ano, em comparação com o mesmo período anterior, com emplacamentos totais que giram em torno de 13 mil veículos, considerando as principais marcas que atuam nessa faixa, como Audi, BMW, Mercedes-Benz, Jaguar, Land Rover e Volvo. “Este ano esperamos por redução total do volume entre 15% e 20%”, calcula Helder Boavida, que há três meses assumiu a presidência do BMW Group no Brasil.
“O encolhimento da economia, combinado com a alta do dólar e dos juros estão fazendo o mercado premium sofrer também”, explica Boavida. Depois de anotar crescimento de cerca de 5% em 2015 sobre 2014, as vendas da BMW no Brasil já recuaram 35% no primeiro quadrimestre em relação ao mesmo intervalo de 2015. “Nossa expectativa é que teremos mais dois anos duros pela frente, com algum sofrimento também em 2017 e 2018, para só retomar o crescimento a partir de 2019”, antevê o executivo.
Contribui para esse quadro a desvalorização do real, que afugenta clientes ao pressionar os preços para cima – inclusive dos cinco modelos montados na fábrica brasileira do grupo BMW em Araquari (SC), que têm grande quantidade de componentes importados. A BMW já aumentou sua tabela este ano entre 7% e 8%, em média. A maior restrição às concessões de crédito também afeta as vendas da marca, já que 40% dos negócios são financiados.
A BMW fechou 2015 com participação de cerca de 30% no mercado de veículos premium, em terceiro lugar no segmento que foi liderado por Audi e Mercedes-Benz. Mas Boavida adianta que será difícil defender essa posição este ano: “A concorrência está mais acirrada, especialmente com o avanço pronunciado da Jaguar Land Rover no mercado brasileiro”, avalia – a montadora inglesa começa a montar carros no Brasil no próximo mês, na fábrica que irá inaugurar em Itatiaia BA (RJ).
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Boavida ressalta, no entanto, que não é prioridade elevar a cota de mercado da BMW, mas continuar a sustentar seu crescimento com rentabilidade garantida pelo reconhecimento dos consumidores no País. “Entrar em guerra de preços não é uma estratégia correta, especialmente neste momento de alta do câmbio que encarece nossos produtos”, enfatiza.
Planos mantidos e exportação
Apesar do cenário de retração econômica e queda das vendas, Boavida sustenta que todos os planos estão mantidos no país. “Não nos assustamos com isso, temos um projeto de longo prazo aqui, por isso anunciamos recentemente a abertura de uma fábrica de motos em Manaus e vamos aproveitar melhor a capacidade em Araquari com exportações do X1 para os Estados Unidos”, diz. Ele também confirma que “muito em breve” vai anunciar a produção de mais um carro no Brasil. Será o sexto modelo do grupo montado na planta catarinense, que hoje faz o Série 1, Série 3, X1, X3 e o Mini Countryman.
Boavida reconhece que a taxa de câmbio favorável teve papel fundamental para fazer a BMW exportar a partir da planta brasileira, algo que nunca estave nos planos iniciais da operação. “Quando o mercado interno está mal temos de buscar alternativas. Como a fábrica de Araquari é muito flexível, pode fazer diversos modelos ao mesmo tempo, conseguimos convencer o board da empresa em Munique (Alemanha) a utilizar a capacidade que temos no Brasil para compensar nossas limitações em suprir os Estados Unidos”, explica. Os embarques do X1 começam a partir de julho e no próximo ano e meio, até o fim de 2017, está prevista a venda de 10 mil unidades para o mercado norte-americano. Será um bom alívio para sustentar a produção em Araquari, que este ano deverá montar 16 mil carros em um turno de trabalho, apenas metade da capacidade total.
O executivo afirma que, no momento, não há planos fechados de exportações para outros mercados de modelos montados pela BMW no Brasil, mas admite que a intenção é ampliar as possibilidades de vendas externas, especialmente para países sul-americanos. Segundo ele, a fábrica que a empresa constrói no México não deverá competir com as exportações a partir da fábrica brasileira. “Serão feitos outros produtos lá”, diz.
“Também temos muita esperança que o trabalho do novo governo possa recolocar o Brasil na rota do crescimento, trazendo as reformas necessárias na área fiscal e trabalhista. Mas sabemos que não há milagre. Para voltarmos aos volumes (de vendas) de 2014 vamos precisar de mais dois a três anos”, finaliza.
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