Indústria naval demite 14 mil trabalhadores no primeiro semestre

Cortes ocorreram sobretudo no Rio, que concentra principais estaleiros do país. Demissões no setor têm os piores números em mais de uma década.

A indústria naval sente os efeitos da crise que atingiu a Petrobras. As demissões no setor têm os piores números em mais de uma década. Ao todo, 14 mil trabalhadores perderam o emprego no primeiro semestre.

Poucos setores da economia cresceram tanto nos últimos anos. No embalo do pré-sal, as encomendas da Petrobras agitaram os estaleiros. Mas aí vieram os escândalos de corrupção, a Operação Lava Jato, a desvalorização do barril de petróleo no mercado internacional. Tudo isso atingiu em cheio o setor naval.

A Petrobras cortou plataformas do seu plano de investimentos e pela primeira vez em 15 anos houve mais demissões do que contratações.

Depois de nove anos empregado como soldador, Odair Francisco da Silva foi dispensado do Estaleiro Mauá, em Niterói, junto com outros 3,3 mil metalúrgicos. “Três meses sem salário, tive problemas seríssimos: minhas dívidas, cartões, conta de luz atrasada, cortaram. Não recebi meus direitos até agora”, conta.

Trabalhadores já foram às ruas protestar contra a empresa. “Nós temos no Estaleiro Mauá três embarcações paradas por causa da briga entre a Transpetro e o Estaleiro. E com isso a demissão dos 3,5 mil trabalhadores que continuam do lado de fora sem suas rescisões de contrato de trabalho”, diz o presidente do Sindicato de Metalúrgicos de Niterói, Edson Rocha.

Ao todo, 14 mil trabalhadores foram dispensados no primeiro semestre no Brasil, principalmente no estado do Rio, que concentra 15 dos 25 principais estaleiros do país e metade da mão de obra nacional.

Fim do expediente em um estaleiro em Niterói e os trabalhadores voltam apreensivos para casa. No início do ano, eram 12 mil metalúrgicos empregados nos nove estaleiros da cidade. Hoje, esse número foi reduzido praticamente à metade. Segundo o sindicato da categoria, há projetos encomendados até janeiro do ano que vem. Depois disso, se a situação não mudar, novas demissões poderão acontecer.


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No auge, em 2013, o estaleiro chegou a ter mais de 5 mil empregados entre contratados e terceirizados. Hoje o número caiu para 2,1 mil funcionários.

A empresa vai concluir dois projetos de construção de plataformas flutuantes e depois não há previsão de novos contratos. A direção já planeja mais demissões. “Nós vamos ficar com equipe de 600, 700 no máximo de pessoal para concluir o trimestre que vem. Tudo nasce com a falta de investimentos da Petrobras, que secou”, afirma o gerente geral do Estaleiro Brasil, Ivan Fonseca.

O soldador Marcos Vinicius Cardoso também perdeu o emprego na crise e pensa em buscar trabalho em outro setor. “Cada vez acumulando mais dívidas, estamos tentando fazer alguma coisa, fazendo bico, tentando ver se arruma alguma coisa porque está difícil”, relata.

O Bom Dia Brasil entrou em contato com a empresa Eisa Petro-Um para saber sobre a falta do pagamento de indenizações trabalhistas no Estaleiro Mauá. Mas não tivemos nenhuma resposta.

A Petrobras informou que está dando prioridade a projetos mais rentáveis com foco na produção de petróleo e que as plataformas que não entraram no plano de negócios atual ficaram para depois de 2019.


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