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Rumores de que a gigante da informática Apple tem intenção de lançar um carro elétrico com sua marca agitaram o mercado no fim da semana passada. Segundo a agência Bloomberg apurou junto a fontes não identificadas, há alguns meses a fabricante do iPhone contratou um time de centenas de profissionais para trabalhar secretamente no Projeto Titan, focado no desenvolvimento de uma minivan movida a baterias e com sistemas de direção autônoma, que podem conduzir o veículo sem interferência do motorista. Seria o que alguns analistas já chamam de “junção perfeita” da conectividade, uma especialidade da Apple, com a mobilidade elétrica. Outros, no entanto, avaliam que seria um “desastre” para a empresa se meter em um terreno que não conhece bem, com alto grau de manufatura, que exige altos investimentos bilionários com baixos retornos financeiros.
Pelo sim ou pelo não, o fato é que a Apple é hora a maior companhia do mundo em valor de mercado acionário, avaliada em US$ 700 bilhões, e tem mais dinheiro do que é capaz de gastar: terminou dezembro de 2014 com US$ 178 bilhões em caixa. Para se ter ideia do que esse valor representa, é seis vezes maior do que a Volkswagen contabilizou e sete vezes o que a General Motors afirma ter nos cofres. Portanto, mais que suficiente para desenvolver um carro completamente novo, investimento que alguns especialistas afirmam girar em torno de US$ 1 bilhão.
Além de fartos recursos para desenvolver quantos carros quiser, também parece não faltar gente que entende do assunto. Ao contrário do que o senso comum pode fazer crer, a Apple tem um time de executivos com ampla vivência no setor automotivo. A empresa já contratou muitos engenheiros dos fabricantes de automóveis, com experiência em cadeia de suprimentos, tecnologias de baterias e interface de sistemas com usuários. O chefe financeiro da Apple, Luca Maestri, passou 20 anos na General Motors nas áreas de finanças e operações. Eddy Cue, o influente vice-presidente de programas de internet, é um entusiasta dos carros e está no conselho da Ferrari. O vice-presidente de design de produto para o iPhone, Steve Zadesky, passou um tempo na Ford no início de sua carreira. Já Marc Newson, um designer industrial de alta reputação que no ano passado se juntou o time secreto de design da companhia, já desenhou um carro-conceito de alta gama para a Ford.
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Com presença cada vez maior da microeletrônica a bordo dos veículos, a Apple também leva vantagem em saber desenvolver todos esses sistemas – e até já tem alguns prontos, como programas de navegação, só para citar um exemplo. A marca tem forte identificação com a alta tecnologia e inovação, capaz de formar filas de aficionados a cada lançamento de uma nova geração do iPhone. Diversos analistas afirmam ser possível a transferência da força para marca para um automóvel. Talvez por isso o valor das ações da Apple subiu ainda mais depois dos rumores.
Contras
Apesar da imensa força financeira, tecnológica e de marketing por trás da Apple, poucas empresas conseguem dominar a complexa operação automotiva – e todas topam com crises cíclicas pelas quais a fabricante de computadores e smarthphones jamais passou.
Para começar, todas as montadoras têm pesados investimentos em fábricas, máquinas e gente que a Apple não tem ao terceirizar a manufatura de seus computadores, iPad e iPhone. Também é muito maior a complexidade da operação desde a estampagem de chapas de aço até a montagem final de milhares de componentes e sistemas do que a produção altamente automatizada de um circuito integrado cheio de processadores eletrônicos.
Outro fator pouco atraente para quem está ganhando dinheiro tão fácil é a enorme lista de regulamentações para produzir e vender carros. As agências reguladoras pressionam cada vez mais as montadoras pelo aumento da segurança dos veículos, aumentando a pressão dos custos com a introdução de novos sistemas e gastos com garantia e recalls. Na ponta do consumo, a maioria dos mercados é altamente regulada, com restrições para os próprios fabricantes venderem seus carros e obrigação de nomeação de concessionários. A Apple tem uma enorme rede de lojas próprias e franqueadas em todo o mundo, mas nada que seja comparável em tamanho e investimento a uma concessionária de veículos.
A Apple não comentou os rumores. Boa parte dos analistas ouvidos pelas agências de notícias avalia que a empresa mergulha no desenvolvimento de um carro não necessariamente para fazer um, mas para ganhar experiência na criação de sistemas automotivos e ser um fornecedor de equipamentos cada vez mais presentes nos carros atuais. Em breve as montadoras saberão se poderão contar com um fornecedor de soluções sofisticadas ou se precisam temer um concorrente com a força de uma das marcas mais valiosas do mundo.
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