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Bem antes da Copa do Mundo começar, os fabricantes de estruturas metálicas já viviam uma ressaca de anos de preparação para construção de estádios, vias de acesso e obras de mobilidade urbana. As encomendas não vieram como o esperado e, para piorar, desde meados de 2013 o setor padece com a desaceleração da economia do país. Com carteiras de pedidos magras, empresas já vêm demitindo desde o início do ano.
A Associação Brasileira da Construção Metálica (Abcem) estima em 10% a 15% o tamanho do corte de pessoal sobre o total da mão de obra empregada no setor - que é de cerca de 50 mil. A entidade, diante desse cenário, já trabalha com previsão de declínio de 20% no faturamento do setor no ano, para R$ 16 bilhões.
"Vivemos o fim do ciclo de obras da Copa do Mundo, encerrado no começo deste ano, aliado à suspensão de projetos novos e de expansão em vários setores industriais e ao adiamento de diversas obras de infraestrutura", afirma Luiz Carlos Caggiano Santos, presidente da Abcem e vice-presidente da Brafer, uma das principais empresas do setor, com unidade fabril em Araucária (PR).
"Muita gente ainda trabalhou à plena carga em 2013, mas neste ano as coisas se deterioraram de vez. Já verificamos uma ociosidade de até 40% na maior parte das empresas", afirma Santos. O grupo Codeme, de Minas Gerais, foi obrigado a demitir mais de 200 pessoas nos meses de maio e junho.
O setor de estruturas metálicas tem forte atuação em obras industriais - de grande, médio e pequeno porte - e de infraestrutura. Entre seus clientes estão os setores de mineração, siderurgia, celulose e papel, óleo e gás, açúcar e álcool, shopping centers, centros de distribuição, torres de transmissão de energia, grandes galpões e pequenos e grandes edifícios, entre outros.
A Copa surgiu como uma grande oportunidade de elevar os negócios, mas a demanda de pedidos para montagens e cobertura dos estádios e de projetos ligados ao evento não vieram como o esperado. Uma relevante fatia das encomendas, com benefícios e subsídios tributários do governo, acabou em mãos de fabricantes do exterior, diz o dirigente da Abcem.
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Nas obras dos estádios, afirma Santos, as fabricantes de estruturas metálicas do país fizeram menos da metade. "Os importados, com alíquotas de importação zeradas e isenção de ICMS, ganharam a obra de cobertura do Maracanã e tudo dos estádios de Brasília, Fonte Nova (Salvador), Arena Pernambuco, Manaus, Das Dunas e de Fortaleza", lista o dirigente. Ele diz que os responsáveis pelas obras trouxeram tudo pronto de Portugal, Espanha e China.
Segundo Santos, sobraram para as empresas brasileiras o Beira-Rio (Porto Alegre), a Arena da Baixada (Curitiba), o Itaquerão (São Paulo), as arquibancadas do Maracanã, a reforma do Mineirão e a Arena Pantanal (Cuiabá-MT). "Não era possível competir, com os custos que temos aqui, com o custo chinês", afirma.
Conforme dados da Abcem, compilados com números do IBGE, em abril a fabricação de estruturas metálicas registrou queda de 19,5%, frente ao mesmo mês do ano passado. No acumulado de um ano, desde maio de 2013, o desempenho foi negativo em 13,5%. Ao mesmo tempo, a atividade industrial do país como um todo apresentou desempenho 0,8% positivo.
A construção metálica demandou no ano passado 2 milhões de toneladas de aço, entre produtos planos, longos e especiais, e obteve receita de R$ 20 bilhões, conforme a Abcem. A previsão é que o consumo neste ano caia para 1,6 milhão de toneladas, voltando ao patamar de 2010.
O setor se abastece com aços da Usiminas, CSN, Gerdau, ArcelorMittal, Votorantim e outras siderúrgicas locais. Os principais fabricantes de estruturas, de um universo de centenas espalhadas pelo país, são Medabil, Codeme, Metasa, Brafer, Usiminas Mecânica, ICEC, Alufer e Emtec. Cerca de 80% das empresas estão situadas nas regiões Sudeste e Sul.
No caso da Brafer, explica o vice-presidente da companhia, estima-se queda de 10% no faturamento deste ano, ficando em R$ 320 milhões. No início do ano, a empresa tinha 1,2 mil funcionários e foi uma das que fizeram demissões. "Nosso faturamento vai voltar ao nível de 2012 e estamos trabalhando com margens apertadas para garantir pedidos - estão caindo de 10% para 3% a 4%", afirmou Luiz Carlos Santos.
Conforme o executivo, as perspectivas para 2014 e 2015 "são péssimas" para o setor. "Demissões e paralisações de investimentos estão e vão continuar acontecendo", afirma. Para ele, um dos principais problemas do país é a falta de confiança dos investidores na política econômica do governo.
Santos informa que durante quatro anos, desde 2010, a indústria de estruturas metálicas cresceu em faturamento e capacidade produtiva em torno de 10% ao ano, mantendo uma utilização de 85% da capacidade instalada do seu parque fabril. "Até meados de 2013 estávamos bem otimistas e prevíamos expansão para este ano e 2015 acima da marca de 10% anuais", afirma.
Com as obras da Copa caminhando para o fim, todas as expectativas eram depositadas em projetos de infraestrutura, para o setor industrial e na atividade da indústria bens de capital e consumo. "Logo depois percebemos que o cenário mudou drasticamente", diz o executivo.
Quanto às encomendas de estruturas metálicas para as novas concessões - de aeroportos e rodovias -, segundo o executivo, elas levam um bom tempo para se efetivarem pelos novos operadores. "Por outro lado, n indústria não vemos projetos de crescimento, com raras exceções".
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