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Dois meses após inaugurar uma fábrica no sul do Rio de Janeiro que consumiu investimentos de R$ 2,6 bilhões, a Nissan trabalha duro para cumprir dois dos objetivos iniciais no país. O mais difícil deles será reverter a queda nas vendas, além do difícil momento da indústria nacional de veículos, para fechar o primeiro ano da nova operação com 3% do mercado - tendo como ponto de partida quase 2%.
Já a segunda meta, na qual a montadora tem conseguido avanços, consiste em ampliar o uso de autopeças brasileiras nos carros produzidos no local. Desde abril, quando inaugurou oficialmente o complexo industrial de Resende (RJ) com a produção do hatch compacto March, o índice de nacionalização do modelo avançou de 60% para 64% a partir da introdução de peças nacionais que compõem os conjuntos de suspensão, freios e vedação do carro. Como o objetivo é ampliar esse percentual para 80% até 2016, a Nissan pretende atrair mais seis fornecedores ao entorno da fábrica. Hoje, outras seis multinacionais japonesas de componentes como assentos automotivos, suspensão e borrachas de vedação já estão instaladas dentro do parque de fornecedores ou na linha de produção.
Para acompanhar mais de perto toda essa transformação da montadora no país, a Nissan separou as operações da América do Sul da América do Norte em meio a uma reorganização conduzida no fim do ano passado que dividiu os negócios globais do grupo em seis regiões. De um mercado até então inexpressivo a uma marca que vende no mundo mais de 5 milhões de carros por ano, o Brasil, a partir dessa reestruturação, se tornou protagonista de uma nova organização independente que engloba 38 países, incluindo mercados na América Central.
Na prática, isso significa maior proximidade da matriz do Japão na administração dos negócios no mercado brasileiro. Nesse contexto, o executivo inglês Trevor Mann, vice-presidente mundial da Nissan e número dois na linha de comando, veio ao país no início da semana passada para ver pela primeira vez como as linhas de Resende estão funcionando. Entre uma reunião e outra, Mann concedeu entrevista ao Valor em uma das salas do Porto Brasilis, prédio no centro do Rio onde está a sede administrativa da companhia no Brasil.
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Assim como já havia dito seu chefe direto, o brasileiro Carlos Ghosn, presidente mundial da aliança Renault Nissan, o executivo reforçou os objetivos de longo prazo da montadora e, lembrando do potencial do país, disse que o momento de queda no consumo brasileiro de carros não muda as estratégias. "Algumas vezes, nossa indústria é uma montanha-russa. Mas nosso compromisso com o Brasil é de longo prazo. Nós não investimos R$ 2,6 bilhões aqui pensando apenas no curto prazo".
Mann foi o homem designado por Carlos Ghosn para coordenar o desenvolvimento de cada uma das seis regiões do grupo. Sua missão é alinhá-las à estratégia global traçada pela marca dentro do programa batizado de "88", na qual a Nissan pretende alcançar 8% do mercado global de automóveis - hoje, ao redor de 6% - e elevar sua margem de lucro operacional para 8%. No Brasil, a empresa tem a ambição de ganhar um ponto percentual de mercado a cada ano, até chegar a 5% das vendas totais em 2016, quando pretende ser a principal marca japonesa no ranking de vendas no país, posto hoje ocupado pela Toyota.
O primeiro desafio será alcançar a fatia de 3% até março de 2015, quando se encerra o exercício fiscal do grupo. Entre janeiro e maio deste ano, quando o consumo brasileiro de veículos caiu 5,5%, a Nissan foi uma das marcas que mais perderam vendas, com queda de quase 20% nos emplacamentos.
Mas a direção da Nissan joga as fichas no volume adicional de Resende para mudar essa cena. Com a capacidade de produção de até 200 mil carros por ano da nova fábrica, a Nissan consegue se livrar de amarras das cotas de importação do México, de onde trazia ao redor de 70% dos carros vendidos no Brasil. "Mesmo sabendo que o mercado está enfrentando um período de dificuldade, temos condições de crescer", diz Mann.
Já o plano de comprar mais peças no Brasil, diz o executivo, tem como objetivo reduzir a exposição a oscilações do câmbio nas compras de componentes do exterior. Ao mesmo tempo, visa atender às exigências do novo regime automotivo brasileiro, no qual benefícios fiscais são atrelados ao uso de autopeças locais na montagem dos veículos. "Tentamos encorajar [a vir ao Brasil] o maior número de fornecedores possível", afirma.
No momento, a montadora se concentra em implementar em Resende os métodos de produção e o padrão de controle de qualidade japonês, no qual cada carro recebe uma hora de inspeção. Depois disso, a fábrica estará pronta para novas possibilidades, como iniciar exportações e ampliar o portfólio de modelos produzidos localmente. "É preciso aprender a andar antes de começar a correr", brinca Mann. Além do March, a fábrica no Rio vai montar o sedã Versa. O executivo, porém, adianta que a linha tem condições de produzir, pelo menos, quatro modelos.
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