As maiores economias do mundo, reunidas no G-20, vão tentar nesta semana reduzir a tensão provocada pela política do Federal Reserve (o BC dos EUA), que causa saída forte de capital de emergentes, com uma mensagem bem semelhante ao que já foi dito no ano passado e que mostra os limites da cooperação internacional.
O Valor apurou que a Austrália propôs um primeiro "draft" (esboço) do comunicado dos ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais do G-20 no qual usa uma linguagem mais enxuta para sugerir a reafirmação para os bancos centrais dos países ricos fazerem mudanças em suas políticas monetárias de forma cuidadosamente calibradas e acompanhada de comunicação adequada.
Além disso, a ideia é que o G-20 reafirme também que os emergentes em geral estão preparados para enfrentar a volta à normalidade da política monetária dos Estados Unidos.
O texto será negociado antes das reuniões dos ministros no sábado e no domingo. Mas a Índia já sinalizou que tem uma expectativa bem além da platitude habitual. Raghuram Rajan, presidente do Reserve Bank of India (o BC indiano), reclamou no mês passado que "a cooperação monetária internacional está quebrada" e que os países ricos "não podem a esta altura lavar suas mãos e dizer que estão fazendo o que é necessário".
Mas mesmo entre os emergentes não há consenso sobre o que se esperar do Fed. Até porque, mesmo com promessas de coordenação de políticas no G-20, espécie de diretório econômico do planeta, no fim cada um é que define como implementar sua política e evidentemente de acordo com seus interesses.
No Brasil, o ministro Guido Mantega e o presidente do BC, Alexandre Tombini, tem preferido reiterar que o Brasil está preparado para a normalização da política monetária dos EUA, procurando afastar as avaliações de que o país é um dos "cinco frágeis".
A nova presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, fará em Sydney sua primeira reunião internacional. E já deixou claro, sem surpresa, que o "tapering" (redução da compra de ativos pelo Fed) será influenciado apenas pela economia americana, e portanto que os afetados que cuidem de seus efeitos.
Joe Hockey, o ministro das Finanças da Austrália e que vai presidir a reunião, já escolheu de que lado vai ficar: do Federal Reserve. Para ele, com o "tapering" o dólar americano vai se reforçar contra o dólar australiano e outras moedas e "isso nos dá um pouco de respiro". O dólar australiano forte tornou suas exportações mais caras.
O sentimento entre certos negociadores é de que a comunicação do Federal Reserve já melhorou, com sua sinalização de que vai prosseguir com o "tapering" até o fim do ano. Ou seja, o Fed vai continuar diminuindo mensalmente sua compra de ativos, reduzindo a liquidez, mas ainda assim terá reservas de cerca de US$ 3 trilhões. A expectativa é de que a primeira subida dos juros nos EUA só ocorra no verão de 2015.
Além disso, o Banco Central Europeu (BCE) tende a afrouxar ainda mais sua política monetária. O Banco Central do Japão vai colocar mais US$ 700 bilhões de liquidez neste ano no mercado, para tentar prevenir a economia japonesa de cair de novo na deflação. O Banco da Inglaterra faz esforço para convencer os mercados de que manterá seu juro baixo por longo tempo.