Delphi: tecnologia para acompanhar mudanças na mobilidade

Sistemista aposta em conectividade para elevar a segurança nos veículos.

Em resposta à crescente demanda por aumento da segurança nos veículos, a Delphi, fabricante de autopeças e conjuntos para a indústria automotiva, decidiu, além de investir nos dispositivos tradicionalmente ligados a essa função, avançar em tecnologias que aumentem a conectividade dentro do carro. Para a companhia, equipar os automóveis com sistemas do gênero traz benefícios que vão muito além do entretenimento a bordo. A medida também é condição fundamental para acompanhar a evolução da mobilidade individual no mundo.

A organização mostra um exemplo disso no Salão do Automóvel de Frankfurt, que acontece até 22 de setembro, com um carro-conceito equipado com o MyFi, sistema que reúne diversas funções de conectividade, aproveitando telefonia celular, wi-fi, Bluetooth e informações armazenadas em nuvem de informática. Muito mais do que trazer conforto para dentro do veículo, a ideia é que o motorista não precise desviar os olhos da pista para digitar um endereço no GPS, colocar música para tocar ou escrever um e-mail pelo smartphone. Tudo é integrado e feito por comandos de voz.

O condutor pode, por exemplo, avisar o carro que quer tomar um café e ter como resposta uma lista com os endereços por perto para atender a esse desejo. Em vez de ler mensagens do celular em pequenas paradas no trânsito, o motorista tem a opção de solicitar que o carro leia as mensagens recebidas para ele e responder cada uma delas por comando de voz. Pedir para que o veículo toque um disco ou passe determinado filme na tela do banco traseiro também são alternativas para quem conduz um automóvel equipado com o MyFi.

A novidade é combinada ainda a outra tecnologia recente da Delphi, o sistema RaCAM, que integra radares e câmeras em um único módulo e desempenha uma série de funções de segurança ativa. O conjunto reúne informações coletadas por três radares e duas câmeras. Uma é responsável por monitorar a estrada. Outra fica voltada para o motorista. Por meio dela, o sistema é capaz de detectar quando ele desvia o olhar da pista por um longo intervalo de tempo e emitir um alerta sonoro.

Novo consumidor

Sem entrar em detalhes sobre as negociações, a Delphi aponta que o sistema poderá estar no mercado em 2016. A novidade mostra a aposta da companhia para os próximos anos, com a intenção de atender tanto o desejo das montadoras por elevar a segurança dos veículos quanto o dos consumidores, que buscam um carro que faça muito mais do que transportá-los de um ponto a outro.

“Hoje os jovens estão menos interessados em carros e mais interessados nisso”, afirma Jeffrey Owens, vice-presidente global de tecnologia da organização, enquanto mostra um smartphone. Ele reconhece que a mobilidade passa por transformação importante, que demanda evoluções rápidas dos produtos, com veículos que precisam ser cada vez mais leves para cumprir a legislação de eficiência energética de cada país, baratos e recheados de conteúdo para atrair esse novo consumidor.

“A tecnologia costumava evoluir muito devagar na indústria automotiva. Isso mudou. De cerca de seis anos para cá, vemos grandes novidades surgirem a cada três ou quatro meses”, avalia o executivo. Ainda assim, ele admite que há um longo caminho a ser trilhado até que o veículo esteja totalmente integrado. Na visão dele, esse salto tecnológico acontecerá gradativamente.

A chegada do carro elétrico e o avanço dos híbridos representam uma mudança importante nas rotas tecnológicas. Paralelamente há também grande evolução no motor a combustão, que conta com cada vez mais eletrônica. “Tenho certeza de que, à medida que a exigência por eficiência energética aumentar, conseguiremos descobrir como alcançar patamares cada vez mais apertados para atender essas legislações”, aposta. A grande ferramenta para isso, segundo ele, será a eletrônica. “Entregamos mais computadores do que a Dell ou a HP todos os dias”, brinca.

Para Owens, esse desenvolvimento tem longo caminho pela frente. Ele reconhece que, ao longo dos próximos anos, o automóvel ganhará novo papel em resposta ao trânsito carregado nas grandes cidades e ao desejo do consumidor por mais liberdade e conectividade. “As cidades ficarão lotadas com mais de 50% da população vivendo em áreas urbanas, o que pode reduzir a presença do automóvel. Ainda assim, ele não perderá o seu papel na estrada.” O objetivo dele é acompanhar essa transformação, tornando o tempo do motorista dentro do veículo mais bem aproveitado.

Na visão dele, essa evolução será acompanhada pelo aumento do mercado global de veículos, que deverá saltar dos atuais cerca de 80 milhões de unidades por ano para 120 milhões em 2050. Esse é o momento em que o executivo acredita que a expansão das vendas chegue ao limite. Owens projeta que o primeiro mercado a atingir o teto de vendas será a China, que vive explosão nos últimos anos. “Ainda assim, temos muito para crescer até chegar nesse ponto.”

Brasil

Antes mesmo de uma grande mudança no papel do carro, a Delphi já detecta transformações sutis na forma como as novidades alcançam os mercados emergentes, como o Brasil, onde a companhia investe anualmente cerca de US$ 40 milhões do US$ 1,2 bilhão distribuído entre suas operações no mundo. Owens lembra que as plataformas globais encurtaram o tempo que um novo carro lançado na Europa, por exemplo, leva para começar a ser vendido ao cliente nacional.

Outro indício de mudança está na área de infoentretenimento. “Smartphones são a mesma coisa no Brasil ou na Alemanha”, lembra o vice-presidente, indicando que, nos veículos, a tecnologia também deve acompanhar a velocidade das tendências mundiais. Segundo ele, apesar de o mercado brasileiro ter, tradicionalmente, grande presença de carros “pelados”, sem muito conteúdo de série, o consumidor da região é muito conectado e investe nesse tipo de recursos.

Rodney O'Neal, CEO da Delphi, reconhece que a empresa quer “tirar vantagem do cenário de mudança, entregando soluções para as montadoras em todo o mundo”. Ele aponta que muitas das tecnologias da companhia presentes hoje no Brasil são desenvolvidas na Europa ou nos Estados Unidos, mas com produção local. O dirigente enfatiza, no entanto, que o centro de engenharia nacional tem aptidões únicas, como a liderança no desenvolvimento de tecnologias para motores flexíveis. “Certas inovações que nasceram no Brasil poderão, no futuro, chegar a outras regiões com algumas adaptações”, explica.

Ele concorda com Owens ao afirmar que, apesar das necessidades diferentes de cada mercado, os consumidores têm objetivos comuns em todo o mundo: veículos seguros, econômicos e conectados. “Nesse aspecto, tenho me impressionado muito com a expansão da classe média no Brasil nos últimos anos e a busca por mais dispositivos de segurança, que também é motivada pelo governo.”

O executivo acredita que esse fenômeno impulsionará grandes mudanças no perfil do consumidor brasileiro nos próximos anos. “Quando comparamos o número de acidentes no trânsito em mercados emergentes e em maduros, vemos uma diferença expressiva. O aumento da segurança é natural com o enriquecimento da população.”

 

Por Giovanna Riato/ Automotive Business