A BMW vai manter volume e cronograma de investimentos previstos para a produção em Araquari (SC). O crescimento da economia abaixo do esperado e as manifestações que tomaram conta das ruas desde junho não mudaram os planos da montadora alemã no Brasil, segundo a diretora de relações governamentais, Gleide Souza. A expectativa é que os primeiros veículos sejam fabricados em setembro de 2014, com a pedra fundamental lançada em novembro.
"O Brasil é um mercado em que vale a pena estar", disse Gleide, acrescentando que a montadora "não está no país de passagem". A executiva falou ao Valor em Nova York, na apresentação do BMW i3, o primeiro carro elétrico a ser produzido em série pela companhia. O veículo deve chegar ao Brasil no segundo semestre de 2014.
A empresa investirá € 200 milhões na fábrica em Santa Catarina, que permitirá a produção de 32 mil veículos por ano. Até o momento, a BMW não anunciou quais carros serão fabricados no Brasil. Hoje, os veículos mais vendidos no país são os da série 1, série 3 e X1. Serão contratados de 1,1 mil a 1,2 mil funcionários, e há a possibilidade é de que, no futuro, a empresa exporte carros produzidos no Brasil para outros países da América do Sul, afirmou Gleide.
Segundo Gleide, o plano de investimentos não se baseia na situação atual. "Nós estamos olhando para a frente e também analisando uma situação que vem lá de trás", afirmou. Gleide observou que o mercado brasileiro apresenta há anos uma tendência de expansão. "Há alguns poucos momentos de queda, mas a trajetória é sempre crescente."
E as manifestações, preocupam a montadora? "Não. É um momento importante para o Brasil, que tem que ser respeitado. Mas não afeta de modo nenhum o nosso plano de investimentos." Segundo ela, a aproximação das eleições de 2014 tampouco muda o projeto da empresa.
Veículos importados ou produzidos no Brasil com baixo índice de componentes nacionais passaram a pagar, desde o fim de 2011, IPI 30 pontos percentuais mais elevado, com o novo regime automotivo. Cada empresa habilitada ao novo regime tem o direito a uma cota anual de 4,8 mil veículos sem a sobretaxa.
Investimentos no país dão direito a cotas adicionais. A BMW, que vendeu 10,7 mil veículos no Brasil em 2012, espera que o número atinja mais de 15 mil neste ano. A decisão de produzir no país é anterior ao novo regime automotivo, disse Gleide, segundo quem o estudo para a fábrica começou em 2010. Com o Inovar Auto, foi preciso reavaliar os planos, para adequá-los às novas exigências.
Não há definição do preço do i3, que teve sua apresentação mundial nesta segunda-feira (29) em Nova York, Londres e Pequim. Fabricado em Leipzig, na Alemanha, o veículo compacto deverá chegar ao mercado europeu em novembro e ao americano no segundo trimestre de 2014. Na Alemanha, o i3 custará pouco menos de € 35 mil. Nos EUA, pouco mais de US$ 41 mil, sem considerar os incentivos para carro elétrico, que podem chegar a US$ 7,5 mil.
O preço no Brasil depende de qual será o tratamento tributário dado aos veículos elétricos no país, disse Carlos Côrtes, gerente de vendas e marketing da submarca BMWi no Brasil. Hoje, eles caem na classificação "outros veículos", que pagam IPI de 25%. Ele lembrou que a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) apresentou proposta ao governo para que os carros elétricos, híbridos e movidos a célula de combustível possam usufruir de vantagens tributárias. As estimativas dos volumes a serem vendidos dependerão do preço, afirmou ele. Outro fator que influenciará no preço é a questão das cotas de importação livres do IPI adicional.
Na apresentação, o principal executivo do BMW Group, Norbert Reithofer, disse que o lançamento do i3 é um capítulo importante da mobilidade urbana sustentável. Trata-se de um carro elétrico bastante leve, segundo ele, composto em grande parte por fibra de carbono, com chassi de alumínio. (O jornalista viajou a convite da BMW)
Por Sergio Lamucci/ Valor Econômico