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A desvalorização do real não impediu o avanço das importações de carros de luxo neste ano. Marcas como Audi, BMW e Land Rover recuperaram as vendas perdidas em 2012 com as restrições do governo a veículos importados e já estão operando acima dos volumes de dois anos atrás, quando a demanda por veículos importados no Brasil batia recorde.
Desde que deixou de produzir o modelo A3 no Paraná, em 2006, este está sendo o melhor ano da Audi no Brasil. No total, a montadora alemã emplacou 2,8 mil carros nos seis primeiros meses do ano, um volume que supera tanto as 1,9 mil unidades do mesmo período de 2012 como os 2,1 mil veículos do primeiro semestre de 2011.
Já a Land Rover teve no primeiro semestre deste ano seu melhor desempenho no mercado brasileiro, com 5,3 mil carros emplacados, ou 2 mil unidades a mais se comparado ao volume registrado em igual período de dois anos antes. O resultado da BMW neste ano, com pouco mais de 6 mil carros vendidos até junho, também é recorde no país.
A Mercedes-Benz ainda não voltou aos níveis de 2011, mas as vendas de seus carros, importados da Alemanha e dos Estados Unidos, dobraram no primeiro semestre, comparativamente a 2012, chegando a 4,4 mil automóveis e utilitários esportivos.
A reversão da tendência negativa - enfrentada no ano passado por quase todas as marcas importadas diante da sobretaxa de 30 pontos percentuais no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) - se deve a cotas de importação concedidas pelo novo regime automotivo, editado no início de outubro. Elas permitiram a importação de carros sem o adicional do imposto, dando maior competitividade a veículos importados.
A cota estabelecida pelo governo, de até 4,8 mil veículos por ano livres do IPI extra, atendeu bem às necessidades das marcas que exploram nichos de mercado como o segmento premium, cuja participação sobre as vendas de carros no país não chega a 2%. Por outro lado, prejudicou as marcas de maior escala, que importam grandes volumes fora da cota e ainda competem com carros similares fabricados no Brasil, isentos da majoração tributária. Isso ajuda a explicar por que as montadoras de luxo estão conseguindo remar contra a queda quase generalizada das marcas, principalmente, asiáticas, que exploram os segmentos populares.
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A Kia Motors, por exemplo, que chegou a emplacar quase 80 mil carros no Brasil em 2011, vende hoje menos da metade do volume de dois anos atrás. A marca coreana decidiu não se habilitar ao novo regime automotivo, que lhe daria o direito à cota de importações, mas, em contrapartida, exigiria dela investimentos mínimos em um fundo nacional de desenvolvimento científico e tecnológico. Assim, em relação ao mesmo período do ano passado, as vendas da Kia caíram 31,1% no primeiro semestre, somando 15,2 mil carros. Na mesma base de comparação, os volumes da montadora chinesa Hafei, que há pouco tempo fazia sucesso com os utilitários Towner, caíram 60%, para 1,3 mil unidades.
O desempenho negativo de suas associadas mais populares levou a Abeiva, entidade que representa marcas de carros sem produção local, a rebaixar novamente ontem (23) sua expectativa para as vendas deste ano. A meta - que inicialmente era de 150 mil carros e que já tinha caído para 130 mil unidades em junho - agora está em 125 mil veículos, o que significaria uma queda de 3,2% em relação ao já baixo resultado de 2012. Até junho, as vendas de importados registradas pela Abeiva, que excluem as importações feitas pelas montadoras, acumularam queda de 23,2%, somando 54,5 mil carros, ou 3,2% do total de automóveis e comerciais leves vendidos no Brasil.
Flavio Padovan, que preside a Abeiva e comanda a Jaguar Land Rover na América Latina, diz que, além do desequilíbrio causado pelas cotas, a disparidade entre os desempenhos de carros de luxo e populares está ligada à elasticidade da demanda, que é menor no caso do público que consome produtos de alto valor agregado. Ou seja, quanto maior o poder aquisitivo do comprador, menor será o impacto de aumentos de preços, seja pela valorização do dólar, seja pela elevação de tributos. "Quem tem menor poder aquisitivo sofre mais nessa situação", afirma.
Mesmo com cotas que permitem a importação de grande volume de carros - em virtude de projetos de produção local - as vendas das chinesas JAC Motors e Chery também estão em baixa neste ano. No primeiro semestre, os emplacamentos da JAC caíram 12,9%, para 8,9 mil carros, enquanto os volumes da Chery cederam 72,5%, somando 2,5 mil unidades.
Animadas com o crescimento do consumo brasileiro de automóveis mais sofisticados, Land Rover, Mercedes-Benz e Audi estudam investir em fábricas no Brasil, seguindo um caminho já tomado pela BMW. Embora tenham permitido uma recuperação das vendas neste ano, as cotas de importação impedem que o mercado de veículos de luxo atinja todo seu potencial, avalia Dimitris Psillakis, diretor de vendas e marketing da Mercedes-Benz. "O mercado, neste ano, está sendo regulado pelas cotas, e não pela demanda", afirma.
Por Eduardo Laguna/ Valor Econômico
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