A Renault reiterou seu engajamento no desenvolvimento de carros elétricos, apesar do colapso de uma parceira israelense que vinha desenvolvendo um sistema visando superar a limitação dos longos tempos necessários para recarga das baterias.
Carlos Ghosn, principal executivo da Renault-Nissan, empenhou-se no projeto "Quick Drop" (troca rápida) como parte do engajamento do grupo em investir € 4 bilhões até 2015 no desenvolvimento de carros elétricos, num dos maiores investimentos do setor nessa tecnologia.
A montadora francesa tinha produzido uma versão especial elétrica de seu sedã Fluence para fornecê-lo à isralense Better Place, que baseou seu modelo de negócio na troca de baterias descarregadas por unidades recarregadas em postos de troca. A Better Place, fundada em 2007, anunciou no domingo o pedido concordata, após não conseguir captar os recursos necessários para mantê-la financeiramente viável.
A Renault e a Better Place pretendiam, até 2016, vender 100 mil Fluences em Israel e na Dinamarca, os dois principais mercados da companhia israelense, mas até agora o número tinha sido de apenas 1,24 mil unidades, a maioria delas em Israel.
A Renault disse ter gasto "uma parte extremamente limitada" do programa de € 4 bilhões no projeto da Better Place, que respondeu por menos de 1% das vendas totais de veículos elétricos da Renault-Nissan. "Isso não significa, absolutamente, que estejamos abandonando nossas iniciativas no terreno de veículos elétricos", disse o diretor da Renault para a região Ásia-Pacífico, Gilles Normand.
Um analista em Paris, que não quis ser identificado, disse estar claro que a estratégia da Renault no terrenos dos carros elétricos está mais fundamentada no Zoe, um modelo de carro elétrico pequeno, lançado neste ano, e no Kangoo, uma van movida a energia tradicional, mas que também tem versão elétrica e depende de recarga.
"Algumas pessoas na Renault estavam reticentes em relação ao método "Quick Drop" desde o início", disse ele, citando o problema da substituição das baterias muito pesadas.
As agruras da Better Place ressaltaram a lenta aceitação, até agora, dos carros elétricos, dificultada pelos obstáculos da limitada vida das baterias e pela inexistência de postos de recarga. O modelo Leaf, carro-chefe da Nissan, teve de ser vendido com desconto nos EUA e Ghosn voltou atrás de uma previsão de que os carros elétricos seriam responsáveis por 10% das vendas de veículos em todo o mundo até 2020.
Georges Dieng, analista da Natixis, disse que a Renault já absorveu os custos associados à Better Place e seu sistema de troca de baterias. "O impacto limita-se ao aspecto de imagem, pois a Renault é a única fabricante que investiu pesadamente nessa tecnologia [de troca de baterias]", disse ele. "Eles agora provavelmente vão se concentrar em sistemas de recarga normal e rápida".
Por Hugh Carnegy/ Financial Times