Porta aberta na ThyssenKrupp para CSN

No momento, a ThyssenKrupp negocia um desenho societário que permitirá a venda de um terço do capital da CSA para a CSN.

Pelo menos um problema parece não existir mais para uma nova parceria societária entre a ThyssenKrupp e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), do empresário Benjamin Steinbruch, envolvendo a aquisição da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA). Localizada no Rio, no distrito de Santa Cruz, a siderúrgica de aço semi-acabado (placas) foi colocada à venda pelo conglomerado alemão há um ano e a CSN é atualmente a única candidata.

No momento, a ThyssenKrupp negocia um desenho societário que permitirá a venda de um terço do capital da CSA para a CSN. A companhia alemã ainda ficaria com 33% da siderúrgica brasileira e repassaria outros 6% para a Vale, que já é sua sócia com 27%. Conforme sua proposta, a ThyssenKrupp receberia US$ 1,6 bilhão, segundo apurou o Valor e daria a gestão da CSA para a CSN.
 
Dois desafetos de Steinbruch no grupo alemão, que se envolveram em uma ação judicial com a CSN que foi parar em Nova York, EUA, já não estão mais nos quadros da companhia: Ekkehard Schulz, ex-CEO, que foi afastado em janeiro de 2011, e Gerhard Cromme, ex-presidente do conselho, demitido pelos acionistas em março deste ano.
 
Os dois executivos certamente seriam contrários a uma nova associação com Steinbruch, diz uma fonte próxima da companhia alemã. Mas, na sua avaliação, esse problema não existe mais no caminho de Steinbruch. Eles não esqueceram a experiência ruim que tiveram com a CSN dez anos atrás e que terminou na Justiça. Algumas pessoas do grupo ainda devem achar que é "uma fria" ser sócio do dono da CSN. Mas a Thyssen não tem saída para se livrar da CSA.
 
O embate travado entre a CSN e a ThyssenKrupp, que azedou as relações com o empresário brasileiro, começou em 2003, adentrou 2004 e gerou uma ação que acabou decidida em uma corte de arbitragem nova-iorquina. O estopim do caso foram as divergências na gestão da GalvaSud, laminadora e centro de serviços de aço em Porto Real (RJ). As duas empresas dividiam o capital da empresa meio a meio, mas a alemã era quem indicava o CEO.
 
Depois de várias tentativas de acordo, sem sucesso, Steinbruch saiu vencedor no processo de arbitragem. Com isso, a CSN assumiu a participação de 50% dos alemães no negócio. Todavia, o empresário ganhou dois grandes inimigos - Schulz e Cromme -, os quais não facilitariam em nada, se ainda estivessem donos de seus cargos na Thyssen, o projeto da CSN de comprar a CSA.
 
Outro ponto a favor da CSN é que o novo comando da ThyssenKrupp, com Heinrich Hiesinger à frente como novo CEO no lugar de Schulz desde o início de 2011, quer se ver livre da CSA o mais cedo possível. Ele considera que a siderúrgica brasileira, mais uma laminadora no, Alabama, EUA, tornou-se um grande passivo para o grupo e que isso foi gerado pela ineficiência da antiga gestão do grupo.
 
A ThyssenKrupp, no reinado de Schulz e Cromme, injetou US$ 12 bilhões nos dois projetos de aço. Devido a erros na implantação das usinas, aumento de custos, crise global de 2008 e cenário pessimista da siderurgia mundial desde então, ambos vêm acumulando perdas bilionárias. A siderúrgica alemã já teve de fazer duas baixas contábeis: uma em 2011 e outra no ano passado. Elas totalizaram US$ 7 bilhões.
 
Para complicar, a perspectiva de analistas do setor é que a ThyssenKrupp Steel Americas, que controla os dois ativos, ainda amargaria perdas com essas usinas até 2015.
 
Por Ivo Ribeiro/ Valor Econômico

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