O governo argentino decidiu rever o acordo automotivo com o Brasil para eliminar o dispositivo que prevê o livre comércio de carros, partes e peças a partir do segundo semestre. Além disso, quer obrigar as montadoras instaladas no Brasil a localizar parte de seu processo produtivo na Argentina. Esse é um dos pontos de atrito entre os dois países que seria tratado na reunião da semana passada entre as presidentes Dilma Rousseff e Cristina Kirchner, cancelada com a morte do presidente Hugo Chávez.
A possível paralisação dos investimentos da Vale na Argentina é outro ponto de atrito entre os dois países, elevado pelo governo Kirchner a assunto de Estado. A Vale deve decidir hoje (11), em reunião do conselho de administração, se mantém o projeto que prevê investimentos de US$ 6 bilhões em uma mina de potássio na Argentina. A tendência da diretoria é paralisar o projeto. Os argentinos ameaçam retaliar desapropriando a mina, onde a empresa já investiu US$ 1 bilhão aproximadamente. Tanto no caso da Vale como na discussão do regime automotivo, chama atenção a falta de uma proposta clara do governo argentino.
Nos últimos dias, em encontros preparatórios para a reunião das presidentes, as autoridades do país vizinho deixaram claro apenas que querem garantias de que será realizada na Argentina parte do processo produtivo dos automóveis beneficiados pelo programa de incentivos brasileiro, o Inovar-auto. Uma proposta mais detalhada seria entregue ao governo brasileiro até o encontro das duas chefes de Estado, mas a morte de Chávez deixou o tema em suspenso. O Inovar-auto já garante desconto no IPI para automóveis com produção no país proporcional ao conteúdo em partes e peças compradas regionalmente. Mas os argentinos querem garantias de que haverá compras no país.
Por Sergio Leo/ Valor Ecomômico