Thumb_logo2022inicial-colunista
ISA São Paulo Section     |   03/10/2022   |   Automação Industrial   |  

Especialista destaca os caminhos das carreiras dentro da área de automação

Márcio Venturelli fala sobre o mercado, tendências e o futuro das indústrias.

Apesar da popularidade do conceito de indústria 4.0, as plantas fabris brasileiras ainda estão longe de alcançar esse patamar. Uma pesquisa da Folha, de 2019, mostrou que, naquele ano, apenas 1,6% das indústrias nacionais tinham processos inteligentes. Isso abre um espaço para diversos profissionais atuarem na automação e melhoramento dos processos e equipamentos industriais nos próximos anos. A mesma pesquisa revelou que esse mercado tem a projeção de gerar uma movimentação de R$ 76 bilhões por ano. O profissional que atua com automação, portanto, tem um mercado aberto a novas possibilidades de emprego. 

Conversamos com Márcio Venturelli, Coordenador Técnico do Instituto SENAI de Tecnologia, para entender como se preparar para essa profissão e o que ela oferece aos que a escolhem como forma de ganhar a vida e as indústrias do futuro.

ISA: Quais são alguns exemplos de uma trajetória de carreira para quem escolhe a área de automação em indústrias e processos?

Márcio Venturelli: Não existe uma regra. O que a gente percebe é que tem algumas diferenças culturais das empresas e países nessa trajetória. Se formos pensar em uma situação comum no Brasil, o profissional faz sua formação, tanto técnica ou de graduação, e entra como estagiário ou trainee. Algumas empresas optam por colocar os recém-formados na área de manutenção, suporte técnico ou, até mesmo, projetos, que seriam os projetistas iniciantes. Com o tempo, as pessoas vão adquirindo experiência e podem evoluir para a área de aplicações, onde são responsáveis por soluções -- mas não é uma regra, existem empresas que têm a área de aplicações de iniciantes. É possível chegar também à área de desenvolvimento, se você for uma pessoa com esse perfil. Depois de adquirir conhecimento dos processos e experiência, é possível chegar ao patamar de consultor. Eu diria que é quase que um caminho natural, uma vez que você realmente se encontre nessa área de automação, liderar equipes em algum momento, independentemente do tamanho ou complexidade. Esse percurso não é uma regra mas normalmente é assim que acontece: desde iniciante na área de manutenção, podendo chegar até a área de consultoria.


Continua depois da publicidade


ISA: Dentro das funções da automação quais seriam os desdobramentos? (exemplo: elétrica, manutenção...)

MV: Com relação às funções, lembrando que estou fazendo um recorte, evoluiu bastante. Cada vez têm mais desdobramentos, como foi posto aqui. Então, dá para trabalhar na área de vendas técnicas, ser um vendedor; trabalhar como engenheiro de aplicações, com foco em soluções; trabalhar especificamente para projetos de implantação; trabalhar com comissionamento de plantas ou máquinas; manutenção é uma área que absorve bastante esse tipo de profissional; área de desenvolvimento de produtos, equipamentos ou sistemas; área de suporte técnico também é importantíssima; é possível trabalhar como programador, especializado em processos; trabalhar na área de treinamentos sobre funcionalidade de equipamentos ou sistemas; e, porque não, eu arriscaria dizer, controle operacional, hoje menos, mas existem ainda empresas que contratam profissionais de automação para trabalharem nessa área.

ISA: Quais são alguns dos principais resultados que os profissionais de automação devem alcançar em cada função antes de passar para o próximo nível de responsabilidade?

MV: Vou usar o mesmo modelo de resposta anterior para pensar em objetivos. Se o profissional vai trabalhar na área de vendas técnicas, o objetivo é o de sempre: quem trabalha com vendas tem metas, então você seguramente vai ser cobrado por isso. Na área de aplicações de solução, você vai trabalhar muito com solução para o cliente, pode parecer óbvio, mas ter essa capacidade de enxergar soluções é um diferencial no mercado. Na área de projetos, o profissional vai ter que olhar muito a parte de eficiência e custeio em função de uma a realidade -- isso é uma maestria que vem com o conhecimento e experiência. A parte do comissionamento é eficiência de partida, isso é muito importante, uma vez que grandes plantas, por exemplo, a área de papel, o próprio setor sucroenergético, depende muito de conhecimento de especialistas de condicionamento. A parte de manutenção sempre vai focar em disponibilidade. Na parte de desenvolvimento você vai trabalhar muito com fronteiras de tecnologia, enxergando o presente e o futuro. Na parte do suporte, você tem que ter um conhecimento muito abrangente e isso envolve muita experiência -- geralmente quem trabalha com suporte já andou bastante pelo mercado. A parte de programação está muito voltada a conhecer processos. E a área de treinamento, você tem que ter qualidades como saber lidar com pessoas, ter didática e conhecimento em tecnologia. Esses são os principais objetivos e resultados que você vai ser cobrado em cada uma dessas áreas.

ISA: Além da formação técnica ou superior, quais conhecimentos e habilidades os profissionais da área devem adquirir ao longo de suas carreiras?

MV: Além da formação padrão que é a porta de entrada, podemos pontuar alguns outros conhecimentos. A experiência é fundamental e é natural, você não consegue avançar isso. Adquirir experiência é estar e ficar na área, ter resiliência para que isso aconteça, passar por todas as fases. Lembrando que automação é operação produtiva, a gente precisa colocar isso na cabeça. Conhecer o processo é fundamental, é preciso entender que na automação você vai estar sempre trabalhando em cima de um processo. Além disso, é preciso conhecer sua área, se você for trabalhar numa montadora, na área de petróleo ou mineração, por exemplo, é importante conhecer o setor. Depois você vai trabalhar em equipe, então fica aí uma dica importante de desenvolver essa habilidade. Saber pesquisar é um diferencial, afinal, assim será possível colher as informações. Ter conhecimento de gestão de projetos também é relevante, principalmente os ágeis, saber utilizar design thinking, saber o que é UX, quer dizer, desenvolver soluções orientadas ao usuário, isso é muito importante. Usar tecnologias orientadas ao devOp - desenvolvimento e operação - também é uma coisa que cada vez mais a automação absorve. Programação e ciência de dados são a bola da vez. Além, é claro, das soft skills.

ISA: Estamos na era da transformação digital; o que isso impacta nas profissões ligadas à automação?

MV: A transformação digital impacta tudo. Lembrando que a automação é a peça principal de tracionamento da transformação digital, então assim, a automação está mudando. Traçando uma linha de tempo, a automação tinha como objetivo principal fazer controle operacional, mas ela foi evoluindo e o enfoque passou para gestão de produção e hoje são os dados. Então hoje, a automação tem que entregar dados de tudo, ela é uma ponte que vai permitir o controle operacional e gestão industrial, baseado em dados. Tudo órbita ao redor de processos, pessoas e as tecnologias, com olhar nessa parte digital orientada totalmente a dados. Esse é o ponto mais importante a ser observado, a transformação digital quando eu a relaciono com a automação.

ISA: Como a automação pode contribuir para um mundo/sociedade melhor?

MV: Isso não é uma atribuição exclusiva, mas ela compõe todo um processo. A automação gera eficiência e estamos vivendo uma época de progressão sobre restrição em tudo, cada vez mais temos menos tempo, recursos, pessoas e dinheiro. A automação ajuda a fazer mais com menos. Nós estamos falando de uma população maior, estamos falando de 7 bilhões de pessoas e a automação seguramente faz parte dessa equação de melhoria do mundo. Principalmente quando falamos em empresas ESG, que são a base dessa evolução.

ISA: Como a automação ajuda na indústria do futuro?

MV: Só para fechar o contexto, muitas pessoas me perguntam sobre a indústria do futuro. Essa é uma discussão natural no mundo da automação e a resposta é que a gente não sabe. O que a gente pode afirmar é que a indústria do futuro será baseada em dados, é a indústria digital, ela será totalmente orientada a dados. Isso já está sendo construído. Isso é o ponto principal que a gente deve observar. Vamos ter que conviver com dados, vamos ter que aprender a conviver com algoritmos, principalmente na indústria. Outra questão é uma geração nova que está chegando. Geração de novas pessoas, novos profissionais, que vão ficar muito à vontade com os dados, eles já estão sendo preparados hoje e isso leva a um alerta muito importante: as empresas hoje já devem se transformar em digitais, não só pelo o que a gente vem conversando, de otimização de tudo, mas, principalmente, porque as fábricas vão ter de estar preparadas para a nova geração, afinal eles vão ter dificuldades ou não vão conseguir mais trabalhar com pranchetas, planilhas, modelos hierárquicos verticais, para eles isso não vai mais fazer sentido. Então vamos ter que entregar uma plataforma diferente na indústria. Tudo vai ter que fazer sentido pra eles, é um grande desafio paras as empresas, é um novo formato de enxergar o mundo. Vamos ter que ter uma coragem muito grande de inverter as pirâmides, afinal, estamos acostumados a desenhar processos dentro das indústrias que terão que ser redesenhados. Essa é a nova realidade.

ISA:Qual a importância do conhecimento das normas técnicas e do papel da ISA na vida dos estudantes e profissionais da automação?

MV: Uma questão muito importante para um estudante de automação e para o profissional de automação em si é o entendimento sobre a padronizações, as normas. O conhecimento sobre normas técnicas é fundamental para que esse profissional possa trabalhar projeto e aplicações tanto no Brasil como em qualquer outro lugar do mundo, porque na verdade são regras universais que regem nossa área de automação. Para isso, destacamos a importação da ISA (International Society of Automation – em português - Sociedade Internacional de Automação); isso tanto para o estudante, como para o profissional. A ISA pode atuar em diversos papéis, como por exemplo, desenvolvimento de networking, entendimento das normas que são aplicadas, tanto no Brasil como no mundo, e no compartilhamento de notícias do setor, eventos, workshops, palestras e, isso, é muito importante no começo da carreira e também quando você já é um profissional da área usufruindo de todo conhecimento e as atualizações que a ISA oferece; isso numa linha do tempo, proporciona usufruir de uma grande rede de relacionamento que vai poder ajudar em conhecimento de empresas, negócios e evolução de carreira , enfim dado à isso a grande importância da ISA, tanto no Brasil como no mundo.

Márcio Venturelli Senai Tecnologia
Márcio Venturelli, Coordenador Técnico do Instituto SENAI de Tecnologia. Imagem: Acervo pessoal.

Sobre

Márcio Venturelli trabalha há 25 anos no mercado de Automação Industrial. Desenvolveu sua carreira ao longo do tempo com foco em Inovação e Novas Tecnologias, especializou-se em Digitalização e Indústria 4.0, atualmente é Coordenador Técnico do Instituto SENAI de Tecnologia e Professor de Automação Industrial, como foco em Transformação Digital. Trabalhou em diversos projetos e implantação de sistemas de controle e automação industrial, no Brasil e no exterior, além de ser professor de graduação e pós-graduação nas áreas de automação e gestão industrial e desenvolver pesquisa aplicada nas áreas da Indústria 4.0. Graduado em Ciência da Computação com especialização em Controle e Automação Industrial, possui pós-graduação em Ciência de Dados, Gestão Industrial e Tecnologia do Petróleo e Gás e MBA em Estratégia de Negócios.

Imagem de capa: Depositphotos

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.
Logo2022inicial-colunista

ISA São Paulo Section

A ISA International Society of Automation é uma entidade internacional, sem fins lucrativos, para engenheiros, técnicos e profissionais engajados em automação industrial. A ISA define padrões de automação, ajudando seus mais de 40 000 membros ao redor do mundo, além de outros profissionais, a solucionar problemas técnicos. A ISA também certifica profissionais da indústria, oferece treinamentos, publica livros e artigos técnicos, e organiza encontros técnicos e exposições para profissionais da área.

A ISA São Paulo Section é a mais antiga da América do Sul, com mais de 30 anos de existência, e abrange a região da Grande São Paulo e capital além do ABC e Baixada Santista.