por Joacir Martinelli    |   30/11/2021

Como influenciar o comportamento da equipe durante o processo de mudança

Você é um profissional resistente a mudanças? No mundo corporativo, é bem comum a negação rápida ao receber esse questionamento, mesmo que não seja bem assim. O profissional que não aceita mudanças não é bem-visto pelo RH, pelos gestores e pelos próprios colegas. Mas essa é uma mensagem errada, pois a resistência à mudança é algo instintivo.

A forma como o líder lida com as transformações, sejam pessoais ou com a equipe, é que fará a diferença. Ao falar sobre Gestão da Mudança, destacarei a seguir como as atitudes e habilidades do gestor impactam nos resultados. Há metodologias específicas sobre esse tipo de gestão, mas não é sob este aspecto técnico que falarei aqui neste texto.

Uma das atribuições feitas ao gestor é a de estimular a mudança. Na liderança ambidestra, por exemplo, destaca-se a habilidade de gerenciar o hoje enquanto o futuro sustentável é construído. Para promover transformações é necessário perceber as necessidades e se antecipar a elas. Porém, como a mudança impacta o nosso conhecimento é um assunto pouco discutido.

Esconder a resistência é um grande equívoco, pois ao acharmos que estamos errados, utilizamos mecanismos para não enxergar o que estamos fazendo e, assim, criamos desculpas para “esconder isso”. E, ao camuflarmos nossos verdadeiros sentimentos, não conseguimos fazer a gestão deles. Para não cair nessa “armadilha emocional”, a primeira coisa que as pessoas precisam saber é que elas estão autorizadas a resistir à mudança! Não por mim, mas pela natureza humana.

Se a pessoa é saudável psicologicamente ela tem resistência. Isso não quer dizer que não vá mudar. É um instinto, um sentimento que mobiliza e impede a fluência, mas não paralisa. Assim como as demais reações naturais, é funcional; serve como uma proteção e é realmente útil na preparação para situações que de fato podem ser perigosas. A resistência nos faz tomar cuidado e avaliarmos com cautela o contexto. Afinal, o que seria de nós se decidíssemos pular de uma ponte, sair de um carro em movimento ou enfrentar um leão sem nenhum sentimento de resistência para nos frear?


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Por isso, a resistência à mudança é muito bem-vinda, é com ela que não negligenciamos o risco que o desconhecido pode trazer. Mas quando pode ser um problema? Quando ela de fato paralisa ou faz postergar a mudança de um jeito que não é possível mais realizá-la. Assim como todos os nossos sentimentos, a resistência deve ser proporcional e bem dimensionada. E para que seja na proporção adequada, precisamos saber que ela existe e como podemos gerenciá-la.

O primeiro passo para o gestor é reconhecer a resistência em si mesmo, legitimá-la e depois saber como agir quando se manifestar em sua equipe. Quando o líder não sabe lidar com isso, normalmente o time finge que aceita as novas ideias e cria mecanismos para resistir escondido. Depois de perceber e validar esse instinto, o segundo passo é criar um ambiente favorável, no qual os colaboradores possam falar sobre seus medos e inseguranças.

Geralmente, há três razões principais para que os profissionais resistam e para cada uma delas há uma maneira de lidar. A primeira é o medo do desconhecido. Nós somos programados para sobreviver. Nosso corpo enfrenta ameaças e a psique também, pois não sabe se temos repertório para lidar com o que acredita ser uma situação de risco. A segunda é a zona de conforto. Ao realizarmos atividades no automático economizamos energia. A famosa preguiça! E toda mudança promove um descongelamento do organismo, do cérebro, força um novo aprendizado e gastamos mais energia para isso. Faz parte de nossa natureza tentarmos automatizar tudo e fazer as coisas sempre da mesma forma. A terceira razão é que toda mudança implica em uma ou várias perdas. De alguma forma terá um luto, seja de coisas concretas ou subjetivas.

Ao identificar as razões, o gestor pode encontrar mecanismos de minimizar a resistência, ajudar o grupo a percebê-las e a lidar melhor com cada uma delas. Na primeira, o medo do desconhecido, o gestor pode começar analisando se é um medo legítimo, que faz sentido no contexto em que estão, ou é uma fantasia. É um medo factível? Vale a pena se preparar para isso? Se acontecer, como podem lidar com a situação? Deixar as pessoas falarem sobre seus medos é importante e, se for algo que pode vir a se realizar, podem se preparar em conjunto para minimizar os riscos, preparando-se para as situações futuras.

No segundo caso, o da famosa zona de conforto, eu adoraria compartilhar uma fórmula mágica, mas infelizmente não há. A dica aqui é ter disciplina para aprender o novo. Esse novo logo mais será a zona de conforto. A disciplina não prende, ela liberta. As pessoas disciplinadas têm mais opções que as indisciplinadas. A boa notícia é que a disciplina pode ser treinada e aprimorada. O ideal é começar por ações que não sejam muito desafiadoras e ir evoluindo aos poucos, com insistência e determinação.

Por fim, o sentimento de perda. Aqui, a chave é realmente elaborar o luto. Entender que foi uma perda e se permitir vivê-la. Elaborar a mudança, pensar no que ficou para trás, mas focar nos ganhos que ela trouxe. Permitir-se olhar para a perda, falar sobre ela, mas sempre “tirar a roupa preta e seguir em frente”. Depois de um determinado tempo, se concentrar nos ganhos e ajudar os colaboradores a fazerem também essa transição.

É importante fugir do “discurso politicamente correto” em algumas situações. A pessoa pessimista, por exemplo, pode ser uma grande aliada, ao identificar um problema que não estava sendo considerado na elaboração do planejamento e, com a observação feita, é possível se preparar com antecedência para resolvê-lo.

O compartilhamento de informações também é fundamental. Quanto menos conhecimento os colaboradores tiverem, mais fértil será o terreno da imaginação e das suposições. É fundamental explicar os porquês a todos. Ter clareza nas explicações. As pessoas precisam entender os motivos das mudanças. O líder deve entender que qualquer mudança gera uma ansiedade coletiva, qual é o impacto que pode ter na sua equipe e pensar em como pode ajudar a si mesmo e ao grupo a passar por ela de forma mais funcional. A habilidade de lidar com a mudança dessa forma é cada vez mais essencial, especialmente na era digital e pós-pandêmica.

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.

Joacir Martinelli

Perfil do autor

Consultor com mais de 30 anos de experiência no desenvolvimento de líderes em renomadas empresas. Gestor de pessoas desde os 23 anos, é reconhecido por ser “cirúrgico” em seus diagnósticos e pela sua fala assertiva e estratégica. Com diversas especializações na área da Psicologia Social, é coautor do livro Team & Leader Coaching, possui Certificado no Global Leadership for the 21st Century Program, pela Universidade de Saybrook (Seattle).