por Alaercio Nicoletti Junior    |   17/11/2021

A indústria brasileira e a gestão enxuta na COP26

Sustentabilidade é a ordem do dia, a indústria brasileira assume a sua responsabilidade e a gestão enxuta é um caminho seguro para a execução dos compromissos assumidos.

A conferência de Glasgow teve, em sua abertura, o discurso do Príncipe Charles, chamando o setor privado para ser protagonista na atuação climática e pedindo a união dos Estados para permitirem um cenário favorável para atuação dos setores industriais, com as medidas necessárias no sentido de uma economia renovável e sustentável. A conferência trata de desafios chave tanto para Governos quanto para as empresas, envolvendo a redução das emissões de carbono, a proteção das comunidades e habitats naturais, a mobilização das finanças e o trabalho conjunto.

E a indústria brasileira responde à altura, mostrando comprometimento com os quatro tópicos do desafio e, representada pela CNI (Confederação Nacional das Indústrias), identifica, em sua visão para a COP26, oportunidades para adoção de processos mais eficientes, inovação tecnológica e desenvolvimento de novos produtos na busca de soluções com baixo carbono. Diversas informações e cases estão disponíveis no site da Indústria Verde, divulgando números e ações que já estabelecemos como os compromissos com a Logística Reversa, além de casos de sucesso em quatro pilares estabelecidos pela CNI: transição energética, economia circular, mercado de carbono e conversão florestal.

No que tange aos processos e à tecnologia, vale a releitura do artigo publicado em outubro de 2020 que introduziu o nono desperdício (resíduos industriais) na prática do lean manufacturing, associando definitivamente a gestão enxuta com a sustentabilidade. Assim, cabe sempre a reflexão em melhorias na geração, destinação e circularização das sobras e subprodutos da produção, bem como das embalagens pós-consumo, além dos oito tradicionais conhecidos na indústria: excesso de produção/recursos; defeitos; movimentação desnecessária; espera; transporte; estoque; processamento desnecessário e; não retenção de talentos.


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A competitividade organizacional para uma empresa privada está diretamente ligada à sua capacidade de gerar valor para seus consumidores e para a sociedade a custos razoáveis. Assim, a reutilização dos refugos, sobras e embalagens danificadas na produção, bem como a recuperação e correta destinação dos resíduos pós-consumo deve ser rentabilizada, sempre que possível, a partir da Economia Circular e da Logística Reversa. Logicamente que essa preocupação deve começar com os processos produtivos com projetos para eliminação ou diminuição na geração de resíduos, com soluções que envolvem desde a execução de um kaizen (projeto de melhoria, numa linguagem livre) até a introdução de novas tecnologias nos processos, proporcionando maior controle e, consequentemente, maior eficiência fabril com mais produtividade e menos rejeitos.

A concepção dos produtos e processos, por sua vez, deve também estar atenta à sustentabilidade, proporcionando soluções com materiais retornáveis, biodegradáveis ou recicláveis, nesta ordem de preferência, contemplando desde seu projeto, o destino adequado e com o menor dispêndio de energia para reprocessamento do que eventualmente não puder ser eliminado em termos de desperdícios em resíduos. Nesse sentido, o 9º desperdício deve contemplar soluções que envolvam não somente a análise superficial, mas o uso do método científico para trocar materiais por outros que sejam realmente mais benéficos para o meio ambiente e para a sociedade.

Essa abordagem, considerando os resíduos no lean de forma sistêmica, reduz o risco de greenwashing, com ações consistentes e alinhadas efetivamente com a produtividade e o negócio. Resíduos encarecem produtos e proporcionam insatisfação para os clientes com seus efeitos colaterais, como o acúmulo em lixões, rios e mares, que influenciam diretamente a mudança climática. Os setores público e privado demonstram na COP26 suas preocupações e compromissos com o assunto, sendo que a indústria tem assumido uma postura proativa, construtiva e inovadora, até pela questão de competitividade interna e externa, sendo que o foco no 9º desperdício é um caminho sólido para o sucesso genuíno dos compromissos estabelecidos.

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.

Alaercio Nicoletti Junior

Professor da Escola de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, coordenador do curso de pós-graduação Engenharia de Sustentabilidade no Mackenzie e Gerente de Sustentabilidade do Grupo Petrópolis.