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Zeca Chaves | 02/04/2020
Notícias
Test-drive em casa, extensão da garantia, corrida virtual: as boas ideias que ajudam o mercado a ficar próximo do seu público e minimizar a grave crise que vem por aí
A crise no mercado automobilístico vai chegar, e não será pequena. Quem garante não sou eu, mas quem entende bem do assunto. Segundo estudo da Bright Consulting , a produção de veículos leves neste ano deve cair 4% em relação a 2019. Antes da pandemia do novo coronavírus, a previsão dos fabricantes era um crescimento de 7%. Ou seja, uma gigantesca diferença de 11 pontos percentuais.
E pode se preparar porque os efeitos da Covid-19 não ficarão restritos a esse setor. A previsão do PIB do Brasil para 2020 também foi para o espaço. Em janeiro, comemorava-se um crescimento projetado de 2,31%, de acordo com o Boletim Focus. Agora os economistas já dão como certo o encolhimento da economia, que varia de 0% a uma pessimista queda de 7,7%. Só para ter uma ideia do que seria essa tragédia, no pior momento da economia dos últimos 30 anos a maior queda do PIB foi de 3,55%, em 2015.
Já que a crise é inevitável, será que dá para reduzir seu impacto? Como se preparar para o que vem pela frente? Várias empresas do setor mostram que o segredo está na criatividade, buscando ideias que ajudam a minimizar os prejuízos e, principalmente, apostando em ações de marketing para manter a marca conectada com seu público potencial, que poderá voltar a consumi-la em tempos de normalidade. Afinal, um dia essa crise acaba.
Que tal fazer test-drive em casa?
Cada empresa encontrou seu jeito de fazer as coisas. É o caso da Caoa Chery, que criou um programa de test-drive na casa do cliente. O interessado só precisa ligar para o 0800 e, no horário e local agendado, um funcionário treinado para seguir procedimentos de saúde levará o veículo devidamente higienizado.
Para sermos justos, devemos lembrar que outra fabricante teve essa sacada antes: a Renault fez uma parceria com o aplicativo de entregas Rappi em março de 2019 para um serviço semelhante. Mas há algumas diferenças. O programa da Renault era um projeto piloto restrito a duas concessionárias. Já a ação da Caoa é uma adaptação ao cenário da crise para enfrentar a fuga dos clientes que têm medo de serem contaminados ao ir a uma concessionária.
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Para outras marcas, a extensão do prazo de revisão e da garantia de fábrica foi seu modo de entender a situação excepcional do mercado atual e dar uma mãozinha ao consumidor que não pode ou não quer levar seu carro à oficina autorizada. BMW, Chevrolet, FCA, Hyundai, Kia, Nissan e Peugeot ampliaram seus prazos, variando de um mês ou 1.200 km até três meses ou 3.000 km.
Fábrica vai consertar aparelho médico
A GM foi ainda mais longe. Encabeçou uma força-tarefa em conjunto com o Ministério da Economia e o Senai para reparar respiradores mecânicos, equipamento tão necessário nas UTIs que recebem os pacientes mais graves do novo coronavírus. Os 3 mil aparelhos não operantes serão enviados às cinco unidades fabris da GM em três estados (São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina), serão consertados e depois devolvidos aos hospitais. A ação segue a lógica de outras empresas na Europa e nos EUA. Por lá, Ford, GM, Jaguar Land Rover, Rolls-Royce e Tesla se mobilizaram para produzir os respiradores mecânicos.
Você deve se perguntar agora como estas últimas ações ajudarão a manter o dinheiro entrando se não atingem seu público nem retornam em vendas. A resposta é simples: branding. Para quem não conhece o termo, é a gestão de uma marca com o objetivo de torná-la mais conhecida e desejada na cabeça dos consumidores.
Novo logotipo e desenhos para colorir
Foi pensando nos ganhos de imagem que duas empresas do setor tiveram ideias que não pesam no bolso e fazem com que o público continue pensando nelas neste momento em que todos estão em casa na sua quarentena (autoimposta ou não).
A mais conhecida foi a do Grupo Volkswagen, que mexeu em algo que nenhum publicitário tem permissão para alterar numa campanha de marketing: modificou os logotipos de duas de suas marcas. No símbolo da Volkswagen, as letras V e W foram separadas, assim como as quatro argolas entrelaçadas da Audi foram afastadas. Tudo para reforçar a importância do isolamento social a fim de evitar a transmissão do vírus.
Já o designer britânico Ian Callum, que trabalhou para Jaguar e Aston Martin e hoje tem um estúdio independente, optou por um caminho um pouco mais divertido. Ele divulgou desenhos para colorir do Aston Martin Vanquish 25 em cenários diferentes e convidou as crianças em quarentena a publicar seus trabalhos nas redes sociais. E mais: vai escolher e premiar as melhores obras.
Fórmula 1 de mentirinha
Nenhum desafio, porém, é maior do que o da Fórmula 1. Imagine o problemão que os organizadores têm na mão: todo o negócio gira em torno das corridas, mas a pandemia da Covid-19 obrigou ao adiamento de seis provas e ao cancelamento do GP de Mônaco (é a primeira vez desde 1954 que não haverá a corrida). Assim, a temporada só começará em junho. E o que fazer até lá para manter os fãs ligados no esporte?
A alternativa veio na forma de corridas virtuais. A FIA organizou um campeonato de videogame que terá como cenário os mesmos carros e os circuitos que tiveram as provas canceladas. Terá ainda a participação de pilotos de verdade, tanto da F1 quanto de outras categorias. Segundo a organização, a iniciativa foi positiva.
A primeira prova, o GP Virtual de Barein, teve 350 mil visualizações em tempo real. É uma boa audiência considerando que a corrida real de 2019 teve 711 mil espectadores na rede ESPN. E o melhor é o perfil dessa audiência: 80% do público de esportes virtuais estão abaixo dos 35 anos. Uma boa notícia para um esporte que sofre há anos com o envelhecimento do seu público.
Como se viu, para algumas marcas o aperto na economia de modo algum significa uma crise nas ideias.
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Zeca Chaves
Consultor do mercado automobilístico e jornalista especializado na área há 26 anos, Zeca Chaves é colunista do AUTOentusiastas e do portal Automotive Business; foi editor do caderno Veículos da Folha de S.Paulo e trabalhou por 19 anos na revista Quatro Rodas, onde foi redator-chefe.
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