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Samanta Luchini    |   19/09/2019   |   Desenvolvimento Humano   |  

FOMO ou JOMO: Qual a sua relação com o mundo digital?

É cada vez maior o tempo que as pessoas se mantem conectadas e cada vez mais preocupante o tipo de relação que elas estabelecem com seus smartphones. Problemas que nunca tínhamos enfrentado começam a aparecer devido à uma mentalidade de que é preciso participar de tudo o que acontece nas redes, pois o dilúvio informacional que vivemos hoje pode nos impedir de ver aquilo que é óbvio ou importante. Já uma mentalidade mais equilibrada entre estar on-line e estar off-line pode nos levar a uma vida mais leve, mais satisfatória e mais real.

Antes de começar esta leitura, faça uma verificação. Onde está o seu celular neste momento? Ou então: você está fazendo essa leitura através do seu celular? (o que é bastante provável, eu acredito).

Minha inspiração para escrever esse texto veio de duas fontes. A primeira foi minha filha mais nova Beatriz, hoje com 9 anos, que um dia desses me questionou “Mãe, você não está ficando muito tempo nesse celular?” A segunda, foi uma palestra excelente sobre educação digital, ministrada por uma advogada especialista em direito digital, no colégio onde minhas filhas estudam. Essa palestra tinha o objetivo de orientar os pais para um posicionamento consciente e cuidadoso quando o assunto é internet e, principalmente, redes sociais.

Apesar de me considerar íntima desse universo, fiquei chocada com a quantidade de informações e perigos que eu desconhecia por completo. E isso se intensifica ainda mais quando se tem a responsabilidade de educar e orientar nossos filhos para o uso correto destas ferramentas, pois elas trazem sim facilidade e praticidade para o nosso dia-dia, diversão, além de muito conhecimento.

Então, decidi continuar pesquisando o assunto e quero dividir algumas reflexões com você.

Uma pesquisa feita em julho/2018 pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, apontou que 49% dos internautas brasileiros usam apenas o telefone celular para acessar a internet. Ou seja, o recurso está literalmente na palma mão e permite que as pessoas “fujam” para qualquer lugar que desejarem, na hora que desejarem. Desta forma, se a aula está meio chata, se a reunião está meio longa, se o trânsito está congestionado... Pronto! Basta um único toque na tela do smartphone para se distrair com um infinito de possibilidades.

Em outubro/2018, foi publicado um importante relatório das empresas de marketing digital We Are Social (Reino Unido) e Hootsuite (EUA) sobre consumo de internet e redes sociais no mundo. Esse relatório apontou que o Brasil é um dos campeões mundiais em tempo de permanência na rede, está em terceiro lugar. O internauta brasileiro fica, em média, nove horas e 14 minutos por dia conectado, perdendo apenas para Tailândia (com nove horas e 38 minutos) e Filipinas (com nove horas e 24 minutos). Nove horas e 14 minutos por dia! Pode-se dizer que o celular já virou o BFF – Best Friend Forever (melhor amigo para sempre) de muita gente por aí.


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Fico aqui pensando que essas mesmas pessoas muitas vezes se queixam por não terem tempo para fazer atividades físicas, ler um livro, alimentar um hobby, passear com o cachorro, brincar com as crianças, aprender alguma coisa nova...

A prefeitura de Bodegraven, cidade localizada no oeste da Holanda, instalou luzes de LED no chão de um cruzamento, pensando especialmente nas pessoas viciadas em smartphone. O objetivo é alertar esse pessoal, que está sempre olhando para baixo, se é um momento seguro ou não para atravessar a rua. A prefeitura alega que redes sociais, jogos e música são grandes distrações frente ao trânsito e a ideia é antecipar problemas que possam surgir, como por exemplo o aumento no índice de atropelamentos, uma vez que não é fácil para um governo mudar a forma como as pessoas utilizam seus celulares.

E já que falamos sobre passar muito tempo olhando para baixo, você já ouviu a expressão Tech Neck, ou Pescoço Tecnológico?

Trata-se de um quadro clínico causado pela inclinação excessiva do pescoço para baixo, problema que pode levar à flacidez da região entre o queixo e pescoço. Como nossos músculos podem ser modelados, passar muito tempo com o pescoço curvado pode causar a deformação do tecido adiposo da região do queixo. Além disso, quando olhamos para baixo para mexer no celular, a cabeça fica em um ângulo de 60°, o que faz com que o peso dela passe de 7 para 27 quilos, ocasionando não apenas o Tech Neck, mas outros problemas no pescoço e na coluna.

E sobre Telite, você já ouviu algo? Telite é o uso excessivo das telas digitais, que pode ter consequências danosas à saúde. O uso prolongado das telas, seja em smartphone, computador ou mesmo na televisão, pode ocasionar sintomas psicológicos como cansaço, irritabilidade, mudanças abruptas de humor, isolamento, rejeição, acompanhados por agitação psicomotora e problemas no sono.  Também pode trazer reações físicas frequentes como olhos vermelhos e ressecados, zumbidos nos ouvidos, dores musculares e dores de cabeça.

Mas o que mais me deixou intrigada nesse rol de informações à que tive acesso, foram estes dois acrônimos: FOMO – do inglês Fear of Missing Out (medo de ficar por fora) e JOMO – do inglês Joy of Missing Out (alegria de ficar por fora), que se relacionam diretamente com nossas crenças e comportamentos. A minha praia!

FOMO caracteriza um comportamento de temer a perda de qualquer informação. Com a quantidade extrema de informações recebidas todos os dias pelas redes sociais, criou-se uma espécie de ansiedade digital, onde a pessoa acredita firmemente que precisa participar de tudo. Logo, qualquer coisa que passar despercebida pode ser vista como uma oportunidade perdida para iniciar uma discussão, interagir, se informar, se divertir, se mostrar ou simplesmente receber curtidas.

A pessoa se sente angustiada ou ansiosa para pegar seu celular e ver o que estão comentando na foto que acabou de postar ou saber o assunto que está sendo debatido nos seus grupos de WhatsApp.

Esse medo de ficar por fora faz com que as pessoas fiquem conectadas o tempo todo, atualizando incessantemente os feeds de notícias e as interações com seus perfis nas redes. Com isso deixam de realizar atividades realmente importantes, procrastinam, se atrapalham com prazos e não conseguem se concentrar direito nas tarefas do trabalho, nos estudos, nas comunicações e nos relacionamentos.

Esse dilúvio informacional que vivemos atualmente pode nos impedir de ver aquilo que é óbvio ou importante.

JOMO caracteriza um comportamento totalmente oposto, ou seja, estar alegre e em paz por estar fora. Uma crença de vida mais equilibrada, que se manifesta através de comportamentos mais produtivos, edificantes e que produzem maior satisfação pessoal.

A mentalidade JOMO nos permite selecionar melhor o que fazemos e o que consumimos na internet, ou seja, dizer não àquilo que é interessante para poder dizer sim àquilo que é realmente importante. Permite que fiquemos mais criteriosos e conscientes acerca daquilo que realmente desejamos e favorece a vivência real dos momentos presentes.

Além disso, um estilo de vida mais JOMO ajuda a repensar o significado das palavras sucesso e felicidade. Este na minha opinião, é o maior dos benefícios. Será as pessoas mais populares nas redes sociais são realmente bem-sucedidas? Será que elas são realmente felizes? Quais são os seus próprios indicadores de sucesso e felicidade?  Eles se parecem com os dessas pessoas?

Um número cada vez maior de pessoas está descobrindo que é muito mais divertido aproveitar a própria vida, tal como ela é, do que acompanhar virtualmente a dos outros (que nem sempre é real nas redes sociais) e ter a sua acompanhada em tempo integral. Viver uma parte da vida no modo off-line pode ser mais leve, mais satisfatório e mais real.

Que tal experimentar?

Talvez um bom começo seja traçar uma meta diária de tempo para estar on-line. Não precisa ser uma redução drástica no início, como por exemplo reduzir em 50% o tempo que você costuma ficar nas redes sociais. Mas colocar no papel uma meta de tempo um pouco menor que o habitual e monitorá-la de forma disciplinada pode ajudar bastante.  

Existem também diversos aplicativos que auxiliam na gestão do tempo que é gasto nas redes sociais. Alguns smartphones já possuem com essa função de gerenciamento. Certamente você encontrará algum que se adeque ao seu perfil.

E lembre-se da frase de Stephen Kanitz “melhorias constantes funcionam mais do que uma única revolução”.

Um grande abraço e até breve.

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.
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Samanta Luchini

Mestre em Administração com Foco em Gestão e Inovação Organizacional, Especialista em Gestão de Pessoas pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS e em Neurociência pela Unifesp.
Psicóloga pela Universidade Metodista de São Paulo.
Executive & Life Coach em nível Sênior, com formação internacional pelo ICI (Integrated Coaching Institute) em curso credenciado pela ICF (International Coach Federation).
Professora convidada dos programas de pós-graduação da FGV/Strong, Universidade Metodista e Senac, dos programas de MBA da Universidade São Marcos e Unimonte, e dos cursos FGV/Cademp, para a área de Gestão de Pessoas.
Professora conteudista do Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos – UNIFEOB.
Formadora de consultores e treinadores comportamentais.
Atua há mais de 23 anos com Gestão de Pessoas em diversas empresas e segmentos, dentre elas Wickbold, Bridgestone, Bombril, Solar Coca-Cola, Porto Seguro, Grupo M. Dias Branco, Prensas Schuler, Arteb, Grupo Mardel, Tegma, Pertech, Sherwin-Williams, Grupo Sigla, Unilever, Engecorps, Nitro Química, Grupo Byogene, Netfarma, NTN do Brasil, TW Espumas, Ambev, Takeda, Pöyry Tecnologia,
Neogrid, Scania, Kemp, Ceva Saúde Animal, Embalagens Flexíveis Diadema, Sem Parar, CMOC, Camil e Toyota.
Em sua trajetória profissional e acadêmica, já desenvolveu mais de 27.000 pessoas, com uma média de avaliação superior a nota 9,0 em todos seus treinamentos.
Palestrante, consultora de empresas e autora de diversos artigos acadêmicos publicados em congressos e revistas.
Colunista da revista Manufatura em Foco – www.manufaturaemfoco.com.br


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