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Gladis Costa    |   21/03/2017   |   Marketing e Comportamento   |  

A voz feminina na agenda

Embora existam mulheres incríveis e grandes histórias, poucas mulheres fazem palestras no Brasil.

No mês dedicado à comemoração do Dia Internacional da Mulher, quando se discute o empoderamento feminino, gender gap - e outras importantes tags, é impossível não notar o número de iniciativas voltadas ao mundo feminino em todos os segmentos. Sem dúvida muito tem sido feito, mas parece que a data tem mais impacto no varejo do que no reconhecimento profissional da mulher, pelo menos algo que se perpetue ao longo do ano. Os ventos (e eventos) sinalizam mudanças!  Tomara que a comemoração não seja apenas um evento pontual.

Apesar de toda esta movimentação, é triste constatar que esta mulher, que amadureceu tanto, é talentosa, articulada, conseguiu revolucionar a NASA, tem baixa representatividade no circuito de palestras. Todos sabemos que além de dar visibilidade à própria persona, falar num evento demonstra autoridade sobre o assunto, fortalece a interação com clientes e parceiros, reforça a percepção da marca e “vende”, porque um bom pitch pode influenciar na aquisição de produtos, cria tendências, transmite valores, engaja.  E mesmo tendo muita informação, as mulheres poucas vezes são convidadas a dar palestras e quando são, nem sempre conseguem confirmar presença. Por que?

Um post divulgado em janeiro por Bobbie Carlton, fundadora do Innovation Women, site de palestrantes que tem o objetivo de aumentar a voz feminina em eventos, joga uma luz sobre o assunto.  As razões deste emblemático “não” podem estar implicitamente ligadas às funções multitarefas que ela exerce, leia-se casa e trabalho. Se analisarmos a imagem do Bingo Female Speaker (https://goo.gl/mw1NyY), uma tabela com as principais justificativas pelas quais as mulheres não são convidadas para eventos ligados a disciplinas STEM -  Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática -  fica fácil entender porque os organizadores declinam de nomes femininos para compor sua agenda. Os motivos são surreais.


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Segundo Bobbie, as razões mais comuns têm a ver tempo, prazo e recursos:

  • Tempo: Uma palestra não tem a ver só com o horário específico da fala. Envolve preparo, viagens e considerável tempo fora do escritório e do lar. Por ser responsável por um número maior de tarefas quando existem crianças na área, o número de recusas tem sido consideravelmente maior do que as apresentadas pelo público masculino.
  • Prazo/Antecedência

Pelo fato de gerenciar compromissos que envolvem médicos, dentistas, caronas ou esportes, é preciso receber o convite com maior antecedência. Convites são recusados justamente porque são recebidos com um deadline curto, complicando a sincronização destas agendas, não permitindo um preparo adequado ou, pior, demonstrando que a escolha foi a segunda opção do organizador. Ela se sente o back-up de um cancelamento de última hora.

  • Recursos: Bobby relata que 50% das solicitações recebidas pelo site não são remuneradas e nem cobrem despesas de locomoção ou estadia. Para algumas empresas,  este pode ser um impeditivo, por política ou budget.

A (reduzida) presença da mulher no mercado de trabalho é algo a se pensar. Antonia Bralic, Customer Success Manager do LinkedIn, publicou um post interessante a semana passada. Ela disse que estava aguardando seu voo para Londres e contou no gate 40 homens e 7 mulheres. Por ser um voo que partia muito cedo num dia útil, ela assumiu que muitos passageiros fossem profissionais e pergunta qual a razão desta disparidade.  No mesmo post, outro comenta que num voo Graz-Munich contou duas mulheres no voo. Onde foi mesmo que vimos esta proporção? Ah, sim, no mercado corporativo.

Lecionei durante 10 anos em cursos de graduação em TI:  80% dos alunos eram homens. Será que esta porcentagem é reflexo do mundo real? Talvez a questão do gender gap tenha começado aí. As jovens universitárias talvez não achem a carreira de TI interessante.  Será que não fazemos palestras porque não estamos presentes nestes cursos ou a gente não frequenta estes cursos por falta de referências profissionais? Não temos exemplos nos quais nos basear? Talvez tenhamos perdido o bonde, mas será que vamos perder este avião também?

Enfim, as mulheres precisam falar: tem conteúdo relevante, histórias para contar e números para compartilhar. Que sua visão estratégica e suas conquistas sejam consideradas no planejamento do conteúdo e que sejam sempre a primeira opção do organizador. Espero que mais mulheres possam ter voz no mercado e que outras mais possam participar, ouvir e aprender. Queremos ter representatividade, no auditório e na plateia. A gente aplaude esta iniciativa.

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.
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Gladis Costa

Gladis Costa é profissional da área de Comunicação e Marketing, com vivência em empresas globais de TI. É fundadora do maior grupo de Mulheres de Negócios do LinkedIn Brasil, que conta com mais de 6200 profissionais. Escreve regularmente sobre gestão, consumo, comportamento e marketing. É formada em Letras, e tem pós graduação em Jornalismo, Comunicação Social e MBA pela PUC São Paulo. É autora do livro "O Homem que Entendia as Mulheres", publicado pela All Print.


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