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Como a crise impactou o mercado brasileiro, a necessidade de incorporar novas formas de gestão e a importância de ter princípios norteadores de negócio.
Uma matéria do começo deste ano, do Estadão, informou que 1,8 milhão de empresas fecharam em 2015, superando o maior índice nos últimos 5 anos. Este número foi obtido a partir do cruzamento de dados reais de todas as juntas comerciais espalhadas pelo País e de informações obtidas no site da Receita Federal.
Esta marca reflete o tamanho da recessão no Brasil segundo levantamento da consultoria Neoway, especializada em inteligência de mercado. O resultado é mais que o triplo do que foi registrado no ano anterior e mostra o tamanho da estagnação no âmbito empresarial.
Se a empresa está em crise, ou simplesmente parou de lucrar como antigamente, bate o medo de entrar para a estatística acima. Também, há aqueles que não têm medo, mas que deixaram de tentar algo novo na rotina há muito tempo, como num casamento que entrou na fase morna pela ação do tempo.
Para este segundo grupo, em geral, o sistema de gerenciamento da empresa é feita por tentativa e erro, como a triste sina de Sísifo.
A história de Sísifo
Sísifo é uma personagem da mitologia grega, condenado a repetir sempre a mesma tarefa de empurrar uma pedra até o topo de uma montanha.
Toda vez que estava quase alcançando o topo, a pedra rolava novamente montanha abaixo, até o ponto de partida, por meio de uma força irresistível, invalidando completamente o duro esforço despendido.
Ao revisitar a mitologia grega, constatamos que todos nós já incorremos em práticas gerenciais à la Sísifo. Buscamos repetir mecanismos do passado, mas almejamos ardentemente novos resultados.
Muitas empresas, embora possuam um histórico de eficiência e reconhecimento, estão bastante atrasadas ou, até mesmo, apagadas no cenário competitivo atual, tamanha a insistência e o apego a práticas gerenciais mais tradicionais.
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Segundo Wood Júnior (1995), como o próprio país, o jeito brasileiro de administrar é marcado por enorme heterogeneidade. Setores inteiros preservam traços da cultura patrimonialista, tecnocrática e conservadora, assim como as relações hierárquicas ou de negócios são ainda personalistas e pouco profissionais.
Para poderem equiparar sua competitividade às demais organizações mundiais, as empresas brasileiras devem abandonar os velhos paradigmas e se permitirem acompanhar as novas tendências da ordem mundial.
Precisam se reinventar estrategicamente, reconquistando seu espaço no mercado de maneira atrativa a fornecedores, clientes e investidores, atuando com profissionalismo, transparência, ética e legalidade.
Este novo jeito de pensar e gerenciar o negócio traduz o conceito de Governança Corporativa.
Por definição própria do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, a Governança Corporativa é o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas.
Envolve os relacionamentos entre:
Trata-se, portanto, do conjunto de práticas, processos, costumes, políticas e leis aplicáveis entre os membros de uma empresa, que regem a maneira como ela é dirigida, administrada ou controlada.
A dinâmica da governança corporativa
Figura 1: Princípios da governança aplicados a cadeia de suprimentos
O melhor modo é quando a empresa conduz os negócios com base em princípios, pois eles são as peças “fundamentais que se formam na consciência das pessoas e grupos sociais, a partir de certa realidade, e que, depois de formadas, direcionam-se à compreensão, reprodução ou recriação dessa realidade"¹.
Junto à aplicação dos princípios, é importante incorporar novos hábitos, para a aquisição de uma gestão mais profissionalizada e transparente, que irá diminuir as perdas e desperdícios operacionais.
Os 4 pilares de sucesso da governança corporativa
Inclusive as empresas de pequeno e médio porte podem fazer uso de técnicas que garantem a prosperidade do negócio. Elas são a base da conquista de boas práticas de Governança Corporativa, e consistem em 4 pilares:
Todos estes princípios convergem a que a empresa dependa menos de pessoas e mais de processos de gestão, ou seja, de mecanismos jurídicos e institucionais estruturados de forma profissional.
A importância da Governança Corporativa é ressaltada não apenas em grandes companhias de capital aberto ou fechado, mas, também, em empresas de pequeno e médio porte, nas quais ainda é notável o peso das relações e sentimentos familiares.
O momento de “passar adiante o bastão” da chefia é marcado por conflitos de toda a espécie. Pode refletir negativamente nos negócios – diminui seu valor de mercado (insegurança dos investidores, credores e fornecedores), amedrontando os empregados e prejudicando o curso normal das operações.
Por estas razões, a Governança Corporativa propõe, no bom português, que a empresa deixe de ser comandada somente por mandos e desmandos de seus “donos”.
São decisões técnicas, embasadas no aconselhamento de profissionais independentes, especialistas nas áreas de Administração, Economia, Contabilidade e Direito.
A busca por aconselhamento de profissionais que formem Conselhos Consultivos independentes já vem sendo, inclusive, identificada e aplicada como um remédio a evitar Recuperações Judiciais malsucedidas ou, até mesmo, falências de empresas importantes na economia nacional.
A gestão dos sonhos e a dura realidade
Sabemos que toda empresa deseja usufruir da sua capacidade de produção máxima, se tivesse em mãos uma gestão dos sonhos, com os melhores profissionais, sistemas de automação e tecnologia de ponta.
No entanto, há muitas barreiras no caminho, entre elas a gestão de pessoas e a alta carga tributária, inclusive no segmento metal mecânico.
Vale uma analogia aqui, segundo o Eng. João Pimenta:
“O chão de fábrica pode ser comparado com um organismo vivo que está sempre se modificando e interagindo e influenciando todas as áreas da empresa. A forma que interagimos com esse setor como gestores molda as atitudes dos funcionários e, por isso, é importante lembrar que estamos Gerenciando Recursos Humanos, principalmente”.
A valorização de talentos e de processos hoje mudou radicalmente a forma de gerir equipes. Todo empresário que se propõe a aplicar planos de cargos e salários e sistemas de meritocracia consegue ver resultado ao longo do tempo, inclusive no seu produto final.
Um artigo publicado no VII Congresso Virtual Brasileiro de Administração fez um excelente comparativo do ritmo brasileiro com o cenário internacional:
“Enquanto no Brasil as empresas valem quatro ou cinco vezes seus lucros anuais, nos outros países chegam a valer sessenta vezes. Essa diferença ocorre devido as empresas estrangeiras maximizarem seus lucros e o acesso ao capital. Sendo assim, as práticas de governança corporativa forçam as empresas a se adaptarem as exigências mundiais, capacitando-as a competirem globalmente”.
Tais exigências entram na esfera da Gestão Documental, aplicada a todas as áreas da empresa. O uso de softwares de gerenciamento e de hospedagem de banco de dados trazem a preservação e integridade dos dados, que são um dos ativos mais valiosos da empresa.
Sobre a preservação e manutenção dos ativos, um estudo de caso feito da Governança Corporativa, para o aprimoramento da gestão organizacional numa empresa Metal Mecânica mostra como podemos falhar:
“Ainda há muitos empresários preferem viver endividados a compartilhar a empresa com pequenos acionistas, gerando, assim, constantes crises de dívidas. Isso ocorre, pois são incapazes de vislumbrar o futuro, esquecem que seus filhos, netos e bisnetos poderão ser no futuro pequenos acionistas minoritários”.
Desse jeito, repetindo, ano a ano, os mesmos erros de gestão centralizadora e imediatista, mandando a “la Sísifo”, aos poucos alguns destroem os que muitas vezes gerações levaram para construir. “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades”, já dizia o tio do Homem-Aranha.
Depois de mais de uma década acompanhando a rotina das empresas, desde as pequenas até as multinacionais, fica mais fácil de mapear os equívocos mais comuns, pois todos erram, mas sempre há tempos de acertar. Acompanhe nos próximos posts mais dicas de gestão e direito aplicado às empresas.
¹ DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. – 10 ed. São Paulo: LTr, 2011, p.180.
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Advogada no Studio Estratégia, escritório com ênfase na Governança Corporativa. Especialista em direito e processo do trabalho, Consultora de empresas e Professora do Senac SC.
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