A recuperação das vendas de máquinas veio de forma mais lenta que o esperado no fim de 2012 e o faturamento do setor fechou em R$ 80 bilhões, queda de 3% sobre 2011. O valor representou aprofundamento do recuo visto em outubro. Naquele mês, o último dado apresentado anteriormente pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) mostrou que a receita caía 2,3% em relação aos dez primeiros meses do ano anterior.
O nível de utilização da capacidade fechou com média mensal de 75,6%. Houve recuperação sobre o patamar médio de outubro (75%), mas ficou bem abaixo dos 80,8% de 2011. O nível de emprego baixou 1,9%, para 255,83 trabalhadores ocupados, com leve recuperação (0,4%) em relação a novembro.
A boa notícia foi a evolução das exportações, que "salvou a lavoura", nas palavras do diretor de competitividade da Abimaq, Mario Bernardini. Impulsionadas pela desvalorização do real, as vendas para o mercado externo avançaram 11,2%, enquanto as importações cresceram apenas 0,9%. O resultado foi uma queda no déficit comercial do setor, movimento inédito desde 2004, quando a balança de bens de capital deixou de ser superavitária. O déficit fechou o ano em US$ 16,82 bilhões, baixa de 5,9% em relação ao registrado em 2011.
A Abimaq considerou o dado positivo, mas ainda enxerga o valor alto do déficit como um problema importante a ser enfrentado. "Foi a primeira queda [no déficit] desde 2004, mas é ainda o segundo maior da nossa história", disse o presidente da entidade, Luiz Aubert Neto. O executivo voltou a elogiar as medidas do governo de reduzir custo de energia e de crédito, além das desonerações para estimular fabricantes nacionais. Ele, contudo, disse que a Abimaq está preocupada com a possibilidade de o câmbio se estabilizar abaixo de R$ 2, como vem acontecendo nos últimos dias com a intervenção do Banco Central.
Bernardini disse que uma queda no valor do dólar da ordem de cinco a dez centavos, como tem se cogitado entre economistas, teria um efeito baixo de controle da inflação. "Essa mudança não reduziria a alta de preços e traz ainda o risco de se abortarem investimentos". A Abimaq tem reuniões agendadas, hoje (31), com o Ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e com a presidente Dilma Rousseff, no dia 7. Aubert não adiantou as pautas que serão abordadas.
Para 2013, a Abimaq continua a ver uma recuperação lenta e gradual no setor. Com uma perspectiva de crescimento do PIB de 3% e alta da ordem de 5% nos investimentos, a entidade aposta em um crescimento de 5% a 7% no faturamento de fabricantes nacionais de máquinas, neste ano.
Em coletiva de imprensa realizada ontem (30), em São Paulo, Bernardini lembrou que apesar dos números ruins, consolidados em 2012, observou-se um leve aumento do faturamento do setor do terceiro para o quarto trimestre. Segundo dados coletados pela entidade, entre julho e setembro, os fabricantes de máquinas faturaram R$ 19,65 bilhões. Entre outubro e dezembro, esse faturamento foi de R$ 19,77 bilhões. No último mês do ano, apesar do recuo de 5,3% na comparação anual, houve um aumento de 7,9% em relação a novembro. "Pode ser uma tendência ou um ponto fora da curva, só os próximos meses podem confirmar, a minha leitura é que é uma tendência", disse Bernardini.
Por Ana Fernandes/ Valor Econômico