Siderúrgicas reajustam o preço do aço

Preço do minério de ferro dobra e força alta no aço

O preço do minério de ferro já dobrou desde setembro. Ontem (8), a commodity foi negociada a US$ 159 a tonelada no mercado "spot" chinês. A alta é impulsionada por um movimento de reposição de estoques das siderúrgicas e portos da China se antecipando as comemorações do Ano Novo, celebrado em fevereiro e a uma expectativa de melhora da economia global.

O "rally" do minério favorece principalmente as mineradoras como BHP, Rio Tinto e Vale. A ação da Vale já subiu 32% desde setembro. No entanto, já tem forte impacto sobre as siderúrgicas. A alta da matéria-prima do aço já levou ArcelorMittal e CSN a anunciar reajustes de preços entre 3% e 8% neste mês no mercado brasileiro. O mesmo deve ocorrer com Usiminas até o início de fevereiro.
 
Segundo cálculo de fontes do mercado siderúrgico, o custo de minério e carvão metalúrgico para produzir uma tonelada de aço subiu US$ 110 de setembro a janeiro. Em setembro, o custo dos dois insumos para produzir uma tonelada de aço era de US$ 240 e esta semana subiu para 350.
 
Em contrapartida, em setembro o aço chinês estava negociado a US$ 500 a tonelada da bobina a quente e, no momento, está sendo vendida a US$ 550. Para manter a mesma margem, as usinas teriam que subir pelo menos mais US$ 60 dólares no preço do aço, pressupondo que os outros custos se mantenham estáveis.
 
Essa é a primeira vez que ocorre um descasamento tão grande entre o custo da matéria prima - minério e carvão - e o preço da bobina a quente, avaliam operadores de mercado. O carvão metalúrgico subiu cerca de 10% em cinco meses, passando de US$ 146 a tonelada para US$ 161, enquanto o minério de ferro disparou de um piso de US$ 86 para quase US$ 160.
 
A situação é pior para as usinas que dependem do fornecimento direto da commodity das mineradoras, como é o caso da ArcelorMittal Tubarão, que compra todo seu minério da Vale. "Para a Arcelor essa alta da matéria-prima foi na veia", comentam fontes. A ArcelorMittal já anunciou aos clientes aumento entre 3% a 8% a partir do dia 15 de janeiro para a tonelada de bobinas a quente, entre 7% e 8% para chapas a frio e 3,5% para o material galvanizado.
 
A CSN passará a praticar novos preços para os laminados a partir do dia 18, mesmo não tendo o impacto do minério, pois é autossuficiente na matéria-prima. Já a Usiminas deve comunicar reajustes para bobinas e galvanizados no final do mês ou início de fevereiro. Apesar de contar com uma mina de minério de ferro, a Usiminas também compra boa parte de seu minério da Vale.
 
O aumento de preços do insumo, que acontece a partir do último trimestre do ano, deve levar a Usiminas, agora sob o comando da argentina Ternium, a fechar o quarto trimestre no vermelho, avaliam fontes do setor siderúrgico.
 
Em relatório divulgado ontem (8), o HSBC disse ser "insustentáveis" os preços atuais do minério de ferro. Segundo a equipe de Metais & Mineração do banco inglês, a alta vem sendo "motivada provavelmente pela recomposição de estoques", já que dados do Brasil e da Austrália não acusam problemas de redução de oferta do produto. Admitem, porém, que condições climáticas desfavoráveis podem alterar este quadro neste primeiro trimestre, período de chuvas nas áreas de produção de minério nos dois países.
 
O HSBC projeta preço de US$ 105 para tonelada do minério em 2013, abaixo do consenso de mercado - mais próximo de US$ 120. O documento rebaixa o rating da Vale de "overweight" para neutro, mas eleva o preço alvo da ação para R$ 52,50.
 
Por Ivo Ribeiro e Vera Saavedra Durão/ Valor Econômico
 
 

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