Convencida de que corre contra o tempo, a presidente Dilma Rousseff pretende atacar a falta de competitividade da economia brasileira em pelo menos duas frentes: deve anunciar em breve um vigoroso programa de financiamento à inovação em setores estratégicos; e prepara mudanças na legislação para facilitar a importação de mão de obra qualificada.
Estuda-se, no governo, a disponibilização de R$ 20 bilhões em novos financiamentos do BNDES e da Financiadora de Projetos (Finep) para projetos de inovação nas áreas de petróleo e gás, etanol, energias renováveis, defesa e aeroespacial, saúde e tecnologia da informação e comunicação.
Nesse pacote, que está em fase de conclusão pela área técnica, haverá recursos a fundo perdido para projetos empresariais de desenvolvimento de patentes junto a universidades; e recursos subsidiados para outras etapas do desenvolvimento tecnológico.
Competitividade
Uma mudança importante em relação a outras linhas de financiamento do BNDES é a criação de um "guichê único" para atender às empresas que se habilitarem a esses financiamentos. Os empresários reclamam que para cada tipo e fase de um projeto há uma linha de crédito e um guichê específico no banco de desenvolvimento estatal, o que leva a uma demora na aprovação, incompatível com a demanda do setor privado. O guichê único sanaria esse problema.
Em discussão desde o início do ano, só há três meses o Palácio do Planalto decidiu levar adiante a abertura do mercado de trabalho doméstico para estrangeiros, aproveitando a extensa oferta de mão de obra qualificada disponível na Europa em crise. As propostas de mudança da legislação - que não proíbe, mas é tão restritiva que inviabiliza -serão levadas à presidente até fevereiro. Elas estão sendo preparadas por um grupo coordenado pelo economista Ricardo Paes de Barros, secretário de Ações Estratégicas.
Essas são medidas para incentivar o aumento da produtividade na indústria, que evoluiu muito aquém do aumento real de salários e produziu um descasamento insustentável para a competitividade da economia brasileira.
Os indicadores de oferta e demanda de trabalhadores qualificados são impressionantes. Para uma demanda estimada de 350 mil engenheiros civis, calculada a partir dos investimentos projetados para os próximos dois anos, as universidades do país formarão no máximo 60 mil. A escassez se repete em outras áreas, como a da tecnologia da informação (TI). As escolas do país devem formar cerca de 34 mil profissionais de TI até 2014, menos da metade dos 80 mil trabalhadores que a economia precisaria.
Indicadores oficiais apontam que caiu de 4% para 2,2% a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) necessária para manter a estabilidade do mercado de trabalho, que hoje vive uma situação de pleno emprego.
Essas são algumas das iniciativas que o governo prepara para mitigar os entraves ao investimento e ao crescimento econômico do país em 2013. Com esse propósito serão, também, retomados os leilões para exploração de petróleo, muito provavelmente em abril-maio, tanto na área do pré-sal como fora dela. Com a reestruturação dos investimentos da Petrobras, a política será mais voltada ao aumento da produção. "Vamos pisar no acelerador da produção", disse uma alta fonte oficial.
"A carência de logística, as deficiências da educação - que afetam a produtividade - e a valorização da taxa de câmbio formam um tripé que está matando a nossa competitividade", avaliou a fonte.