Brasil pode ter superoferta de etanol, diz George Soros

Fonte: Exame - 12/06/07

A euforia do etanol pode acelerar a produção no Brasil a ponto de gerar um desequilíbrio entre oferta e demanda, afirmou nesta terça-feira (5/6) o investidor George Soros. "A menos que os mercados se abram para o etanol, provavelmente haverá produção demais", disse o americano, que visita o Brasil para participar de um encontro sobre etanol em São Paulo.

Soros reclamou de "tarifas proibitivas" nos Estados Unidos e na Europa e de barreiras no Japão à entrada do combustível e declarou que é papel do Brasil reivindicar mudanças. "Tem de ser chamada a atenção dos países desenvolvidos, porque há uma superoferta no Brasil e uma fome por biocombustíveis no mundo todo", disse o investidor. Soros criticou principalmente os Estados Unidos, dizendo que os estados americanos estão atentos à necessidade de um combustível alternativo, ao contrário do governo federal. Segundo ele, o presidente George W. Bush está "deixando o problema para seu sucessor". Além do risco de uma demanda represada, os produtores de etanol também devem sofrer com as flutuações dos preços da cana até que se forme um mercado internacional de etanol. "A cana é suscetível à variação dos preços porque tem um período de crescimento de cinco anos", afirma.

Estes são temores que o próprio Soros enfrenta. Dono de uma fortuna de 8,5 bilhões de dólares, o americano de 76 anos é sócio, desde 2004, de uma empresa que está apostando no etanol brasileiro, a argentina Adecoagro, dona de negócios ligados a açúcar, álcool, café e algodão. A companhia já possui uma usina em Minas Gerais, adquirida em 2005, que produz 30 milhões de litros de etanol, além de fazendas cafeicultoras e algodoeiras na Bahia. Em 2006, os sócios - brasileiros e estrangeiros - da Adecoagro decidiram expandir as operações de álcool e investir 900 milhões de dólares na construção de três novas usinas de etanol no Mato Grosso do Sul. O empreendimento deve ficar pronto entre 2011 e 2015, e será capaz de produzir 1 bilhão de litros do combustível, que serão vendidos para o mercado interno e externo. A primeira das usinas iniciará as operações já em meados de 2008. Assumindo-se como especulador, Soros afirma apostar na empreitada por acreditar que os riscos do mercado do etanol serão resolvidos. "Estou especulando que essas questões serão resolvidas", diz, "o mercado interno tem demanda considerável para receber a oferta, mas a grande oportunidade está em oferecer o etanol para o resto do mundo".

"Maldição dos recursos"

Durante uma palestra a usineiros brasileiros e empresários ligados ao setor, o investidor afirmou que o mundo passa por uma crise energética desde 2001, quando houve o atentado às torres gêmeas em Nova York. Segundo Soros, só então os países se deram conta do que chama de "maldição de recursos". "Países ricos em recursos naturais possuem governos piores", diz. Segundo o americano, a corrupção gerada pela posse da riqueza gera instabilidade política mundial e a ascensão de "poderes do petróleo" em países como Rússia e Irã. "A maldição já existe desde o tempo colonial, mas está se fortalecendo nos últimos anos".

A instabilidade política, aliada às questões do meio ambiente, criou o dilema energético global, segundo Soros, o que exige a descoberta de alternativas como o etanol. "Enfrentamos uma questão que pode destruir a civilização se não agirmos", diz. Os opositores das soluções são aqueles que deixarão de lucrar com a mudança, na opinião de Soros - o americano citou como exemplo o presidente da Venezuela, que já apresentou críticas ao uso do etanol. "Hugo Chávez é um revolucionário que depende da receita de petróleo. Ele não vai querer o etanol, é óbvio".

Aos países que insistem em permanecer com fontes de energia poluentes como o carvão, Soros afirmou acreditar que deve ser imposto um tipo de taxa. Segundo o investidor, o carvão tem se tornado cada vez mais popular em países como Estados Unidos, China e Índia por ser barato e disponível. "A poluição do ar aumentará em dois terços com a energia gerada pelo carvão. Algo tem de ser feito para substituí-lo".

Economia

Soros também aproveitou para falar sobre a economia brasileira. Ele disse que, assim como a Argentina, o país aprendeu a caminhar desde a crise asiática que abalou os países emergentes em 1997, apesar de ter cometido alguns erros, como as taxas de juros muito altas. Da economia argentina, o investidor reclamou do controle de preços. "Brasil e Argentina estão incomparavelmente melhores do que há dez anos, mas posso dizer que o Brasil está na frente entre os dois", disse Soros.


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