O mercado de carros novos ainda não reagiu neste mês. Depois de cair 31,4% em setembro na comparação com agosto, as vendas seguem negativas na primeira quinzena de outubro. Em relação a igual período do mês passado, a queda é de 10,2%, com 141,7 mil unidades vendidas, incluindo caminhões e ônibus.
Só o segmento de automóveis e comerciais leves, beneficiado pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) vendeu 135,7 mil unidades, 10,8% menos que na primeira quinzena de setembro.
Já na comparação com a primeira metade de outubro de 2011, as vendas totais deste mês estão 11,9% maiores. No acumulado do ano foram vendidos até segunda-feira (15) 2,93 milhões de veículos, 4,3% a mais se comparado ao mesmo período de 2011.
Isolando-se o segmento de automóveis e comerciais leves, a alta acumulada é ainda maior, de 5,8%. Caminhões e ônibus seguem com dificuldade de vendas.
Mesmo com os números anuais mais positivos no segmento que representa 95% das vendas nacionais de veículos, algumas montadoras, como a Volkswagen, começam a cancelar trabalho extra nos finais de semana, segundo a Comissão de Fábrica.
O corte do IPI, em vigor desde 22 de maio, teve impacto médio de 5% a 10% nos preços dos automóveis e está previsto para terminar no dia 31, o que pode levar a uma corrida de última hora às revendas.
Para o diretor da RC Consultores, Fabio Silveira, a queda registrada em setembro e na primeira metade de outubro era esperada em razão da corrida às compras em agosto, quando previa-se o fim do benefício, depois prorrogado. Naquele mês, as montadoras registraram venda recorde de 420 mil veículos, volume que despencou para 288,1 mil em outubro.
"É claro que o mercado não continuaria absorvendo mais de 400 mil veículos ao mês", diz Silveira, que prefere trabalhar com comparativos anuais e não de curto prazo.
O diretor da RC reconhece, contudo, que a possível volta do IPI integral a partir de novembro "poderá tirar um pilar importante da estimativa de retomada mais consistente da economia em 2013". Para ele, o fim do subsídio só faria sentido se o mercado estivesse aquecido - o que não é o caso atual, em razão das oscilações dos últimos três meses.
Mais dias úteis
O consultor da Carcon Automotive, Julian Semple, vê grandes chances de reversão da queda das vendas até o fim do mês. Ele lembra que outubro tem 22 dias úteis, três a mais que setembro. Com isso, calcula ele, mesmo que a média diária de vendas se mantenha mais baixa que no mês passado, o resultado deste mês deve ser melhor que o do anterior.
Levando-se em conta a média da primeira quinzena, de 14.175 licenciamentos ao dia, o mês fecharia com cerca de 312 mil unidades. Tradicionalmente, porém, o mercado de automóveis zero quilômetro é mais intenso na última semana de cada mês.
Além disso, as montadoras em breve devem iniciar campanhas publicitárias anunciando os últimos dias de IPI reduzido, como fizeram em agosto. Outro tradicional estímulo ao mercado será o Salão do Automóvel, de 24 a 4 de novembro, em São Paulo.
A Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) trabalha com projeção de crescimento de 4% em relação aos 3,633 milhões de veículos vendidos em 2011. Para a RC Consultores, o aumento deve ficar em torno de 3%, para 3,74 milhões de unidades, desde que o IPI continue reduzido pelo menos até o fim do ano.
Por Cleide Silva/ O Estado de S. Paulo