O Brasil avança em competitividade, mas ainda está no meio do caminho

Problemas de infraestrutura, impostos e educação deixam o País em situação ruim em rankings internacionais de competitividade

 

O transporte de uma tonelada de soja produzida no norte de Mato Grosso para Xangai, na China, passando pelo Porto de Santos, pode chegar a US$ 180, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em comparação, levar uma tonelada de soja de Davenport, nos Estados Unidos, para a mesma cidade chinesa custa US$ 108. Na fazenda, o produto brasileiro é mais barato, mas acaba se tornando mais caro por causa da deficiência logística. O custo do transporte representa 19% do valor final do produto americano, comparado a 30% do brasileiro.
 
O gargalo da infraestrutura, no entanto, é apenas um dos problemas que afetam a competitividade do Brasil. "A questão da competitividade está razoavelmente bem diagnosticada", afirma o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da consultoria MB Associados.
 
"Não era tão clara há dois ou três anos, mas, ao longo do tempo, nos levou a uma grande convergência." Além da infraestrutura, ele aponta a complexidade do sistema tributário e a alta carga de impostos, a capacitação inadequada da mão de obra e a baixa qualidade da educação como pontos fundamentais que precisam ser melhorados para que o Brasil possa competir com mais sucesso no mercado global.
 
Os rankings globais de competitividade mostram um país no meio do caminho. No relatório mais recente do Fórum Econômico Mundial, o Brasil ficou em 48.º lugar, entre 144 países analisados. Outro estudo, feito pela Economist Intelligence Unit (EIU), mostrou o Brasil na 37.ª posição entre 82 países. Existe um contraste grande entre o posicionamento do País nesses rankings e o tamanho de sua economia, a sexta maior do mundo.
 
Num evento da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação, em São Paulo, Justine Thody, diretora para as Américas da EIU, mostrou uma nova versão da famosa capa de uma edição de 2009 da Economist, em que o Cristo Redentor decolava como um foguete. A afirmação da capa original – "Brazil takes off" (Brasil decola) – ganhou um ponto de interrogação.
 
Segundo Justine, o Brasil foi o país que teve o crescimento mais prejudicado pela crise mundial entre os Brics (sigla que também inclui Rússia, Índia e China). "Também é o que tem a economia mais fechada", destacou. Ela mostrou o desempenho de um segundo grupo de países em desenvolvimento, chamado Civets (sigla em inglês de Colômbia, Indonésia, Vietnã, Egito, Turquia e África do Sul), que vem registrando um crescimento maior que o brasileiro.
 
Na lista do Fórum Econômico Mundial, o Brasil ganhou cinco posições no último ano, ficando pela primeira vez entre os 50 primeiros. O avanço se deu principalmente por melhoras na condição macroeconômica e na ampliação do uso de tecnologias da informação e comunicação. Entre os pontos positivos, o relatório destacou a sofisticação da comunidade de negócios do País (33.º lugar), em um dos maiores mercados internos do mundo (7.º). Entre os pontos negativos, estão a confiança nos políticos (121.º), a excessiva regulação do governo (144.º) e o desperdício de gastos públicos (135.º). A qualidade da infraestrutura de transportes ficou em 79.º lugar e a da educação em 116.º.
 
A pesquisa mostrou as regulações tributárias como o fator mais problemático para fazer negócios no Brasil, sendo apontado em 18,7% das respostas. Em segundo lugar, veio a oferta inadequada de infraestrutura (17,5%), seguida da carga tributária (17,2%), da burocracia governamental ineficiente (11,1%) e das regulações trabalhistas restritivas (10,1%).
 
Gargalos
Os impostos brasileiros não são somente altos. Também é complicado pagá-los. Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), a carga tributária brasileira, que está próxima de 36% do Produto Interno Bruto (PIB), é a quarta maior do mundo, ficando atrás somente de Suécia, Noruega e Dinamarca. O excesso de regulação exige que as empresas cumpram 97 obrigações contábeis, o que representou, em 2011, um custo médio de 1,5% de seu faturamento.
 
"As empresas gastam muito nas chamadas informações parafiscais, que as empresas são obrigadas a enviar para a Receita", disse o economista Mendonça de Barros. Ele destacou que, se o Fisco simplificasse e tornasse mais claros os regulamentos, se reduzisse a quantidade de relatórios que as empresas precisam fornecer, já haveria um aumento de competitividade, mesmo sem mexer na carga tributária.
 
Recentemente, o governo anunciou um pacote de concessões que prevê o investimento de R$ 133 bilhões em ferrovias e rodovias federais. Para o professor Carlos Arruda, da Fundação Dom Cabral, tudo vai depender da execução. "Nos últimos anos, houve projetos fantásticos de infraestrutura, que não foram implementados", disse. A Fundação Dom Cabral é parceira do Fórum Econômico Mundial na elaboração do estudo sobre competitividade.
 
Boa parte dos projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) está atrasada por problemas como falta de licenciamento ambiental e indícios de irregularidades. Em 2011, o investimento brasileiro em infraestrutura cresceu apenas 2%, chegando a R$ 173 bilhões, de acordo com a Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib).
 
Na área da educação, existe um problema emergencial, que é a falta de engenheiros e de profissionais com formação em ciências no Brasil. O grande desafio, no entanto, é aumentar a qualidade do ensino, principalmente do ensino fundamental.
 
O resultado mais recente do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostrou que o Brasil está abaixo da média dos países avaliados em leitura, ciências e matemática e que, nas três áreas, mais da metade dos estudantes não consegue passar do nível mais básico de compreensão.
 
O programa avalia jovens com 15 anos completos. "Países como Coreia do Sul e China cresceram com investimento na educação", destacou o professor Carlos Arruda. "Mas o avanço nessa área demora uma geração."
 
Renato Cruz/ O Estado de S. Paulo

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