O Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) enxerga no novo Regime Automotivo uma oportunidade para ampliar negócios com empresas do setor, sejam montadoras ou fornecedores de componentes, que poderão usar alguns dos 40 modernos laboratórios que instituição oferece para diversos estudos e ensaios de novas tecnologias automotivas. A política industrial do governo para o segmento prevê a concessão de incentivos fiscais para os fabricantes de veículos que investirem uma parcela do faturamento em pesquisa, desenvolvimento e inovação. Fernando Landgraf, diretor presidente do IPT, avalia que a instituição tem muito a oferecer nesse campo.
“O IPT quer ser parceiro tecnológico do setor automotivo. Existem demandas de desenvolvimento que precisarão ser rapidamente atendidas com a nova legislação e o instituto tem capacidade para atender várias delas”, disse Luciano Almeida, diretor presidente da Investe SP, agência de fomento ao desenvolvimento do Estado de São Paulo, que na terça-feira (25), promoveu evento para apresentar essas possibilidades a representantes da indústria na sede do IPT na Cidade Universitária da USP, em São Paulo.
“O IPT já foi berço da indústria automobilística nacional com atendimento à Brasinca nos anos 60”, exemplificou Landgraf. E o instituto permanece bastante ativo no setor. Este ano, até agosto, já atendeu 89 empresas do segmento (foram 125 em 2011), sendo seis montadoras de veículos leves, quatro de caminhões e ônibus e 79 fornecedores de componentes.
No evento, o presidente da instituição fez um resumo das capacidades técnicas que o IPT tem a oferecer à indústria automotiva. Segundo ele, o instituto recebeu investimentos de R$ 210 milhões nos últimos quatro anos e tem laboratórios e equipamentos modernos de metrologia, para certificações e homologações, bem como capacidade para fazer pesquisa e desenvolvimento em diversas áreas que envolvem o setor automotivo. Entre as 13 unidades de atuação do IPT, Landgraf destacou quatro que podem atender a indústria: conforto e segurança veicular, motores e combustíveis, meio ambiente e sustentabilidade, e componentes e materiais.
Dentre essas áreas de atuação, o IPT pode abrigar pesquisa e desenvolvimento de tecidos e revestimentos automotivos, análises de corrosão, propriedades acústicas, eletrônica embarcada, aprimoramento de processos industriais, testes de motores e emissões (existem cinco bancadas de dinamômetros), ensaios de vibração e fadiga de materiais, composição de ligas metálicas e polímeros, microusinagem e microfabricação de componentes, metrotomografia, estudos de ciclo de vida de produtos, cálculos de créditos de carbono e ecodesign. “Temos aqui 40 lojinhas para atender as diferentes necessidades de pesquisa da indústria”, brincou Landgraf.
Oportunidades
Ele revelou também que o IPT avalia no momento a abertura de mais uma “lojinha” tecnológica, para ensaios de crash test. “Estamos avaliando se existe espaço para o IPT nessa área”, disse. Sobre isso, quase todos os presentes disseram que sim, pois até mesmo as montadoras que já tem seus próprios laboratórios de colisão não dão conta de executar todos os ensaios necessários e poderiam terceirizar parte desses estudos, em vez de enviar carros para matrizes no exterior, trazendo ganho de tempo no desenvolvimento.
Outras possibilidades de desenvolvimento foram relatadas pelos representantes da indústria. “Temos interesse em desenvolver motores mais eficientes no País, nanotecnologia para pintura a prova de riscos (autocicratizante), além de novos tecidos, climatização e para-brisas autolimpante (que dispensa o uso dos limpadores)”, revelou Ricardo Martins, diretor de pesquisa e desenvolvimento para a América do Sul da recém-chegada Hyundai, que começou este mês a operar sua fábrica brasileira em Piracicaba (SP). Pelo lado do IPT, Landgraf disse que é “perfeitamente possível” a cooperação com centros de pesquisa de outros países, como da Coreia, para trabalhos conjuntos.
A grande preocupação dos representantes da indústria presentes ao encontro foi com relação à confidencialidade de novos projetos, com possíveis vazamentos de informações privilegiadas aos concorrentes. Landgraf respondeu que o IPT garante o sigilo absoluto de cada projeto. “Nós aqui vivemos disso, a segurança é total.”
Financiamento
Também foi apresentada a possibilidade de financiamento público das atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação realizadas dentro do IPT, que é um dos três institutos já credenciados (os outros são o INT/RJ e o Senai/BA) para coordenar projetos e receber recursos da Embrapii, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial, criada no ano passado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia para fomentar o desenvolvimento tecnológico da indústria nacional.
Conforme explicou Flavia Motta, da Coordenadoria de Planejamento e Negócios do IPT, os projetos são avaliados pelo próprio instituto em processos bastante rápidos, de cerca de um mês, e uma vez aprovados são financiados pela empresa que apresentou a proposta de estudo, a Embrapii e o próprio IPT, diluindo assim os custos de desenvolvimento. A empresa fica com o direito de uso exclusivo da tecnologia desenvolvida e o IPT recebe royalties, em negociações que podem varias de 0,5% a 4% das receitas obtidas. “Mas isso não tem sido um problema, somos muito abertos a negociação”, garantiu Flavia Motta.
O aporte da Embrapii nos projetos começa em um terço dos custos, mas pode chegar a até 90%, nos casos em que existe elevado potencial de geração de conhecimento, superação de gargalos tecnológicos e ganhos financeiros. “Quanto maior a inovação e o desafio tecnológico, maior o financiamento público”, explica Flavia. No momento, a ação piloto da Embrapii no IPT dá preferência em acolher propostas de empresas que desejam desenvolver plataformas tecnológicas de biotecnologia, nanotecnologia, microtecnologia e metrologia de ultraprecisão.
Por Pedro Kutney/ Automotive Business