A redução da taxa de juros para a compra de máquinas, equipamentos e caminhões no âmbito do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) já provocou um aumento de aproximadamente 30% em relação ao período anterior à mudança na demanda por financiamentos da Finame, a linha do banco que atende ao programa. A informação é do BNDES. A taxa de juros caiu de 5,5% para 2,5% ao ano, valendo até o dia 31 de dezembro deste ano. Os valores absolutos não foram fornecidos.
Embora o anúncio da redução tenha sido feito no final do mês passado, na véspera da data anterior do vencimento do programa, que seria 31 de agosto, os trâmites legais e os ajustes técnicos que precisaram ser feitos pelo BNDES e pelos bancos repassadores dos recursos retardaram a entrada efetiva em vigor das novas regras. O BNDES passou a receber consultas com as novas taxas a partir do dia 12 deste mês, mas somente no dia 18 foi publicada a portaria do Ministério da Fazenda oficializando que o Tesouro Nacional vai cobrir, equalizar, no jargão setorial, a diferença entre os 2,5% cobrados e a taxa efetiva da operação.
No PSI, o cliente vai a um banco credenciado pelo BNDES, negocia a compra do produto e paga apenas a taxa de juros estabelecida pelo governo para o programa. A diferença entra a taxa e o custo financeiro efetivo da operação, tanto para o BNDES quanto para o banco intermediário é coberta pelo Tesouro Nacional. Um financiamento normal da Finame custa Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), hoje em 5,5%, mais a remuneração do BNDES, mais uma taxa de intermediação financeira e mais a remuneração do banco intermediário, elevando o custo financeiro da operação a cerca de 10% ao ano ou mais.
A Mercedes, uma das principais fabricantes de caminhões do país, informou que há uma expectativa "positiva" quanto ao aumento das vendas, mas que ainda não computou efeitos práticos porque a nova taxa de juros só passou a valer para ela efetivamente na sexta-feira passada, dia 21.
Segundo análise de um especialista do setor, na área de caminhões a tendência é que a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos (Anfavea) divulgue no começo de outubro números ruins referentes ao emplacamento de caminhões em setembro por duas razões conjunturais que tendem a ser superadas nos meses subsequentes: primeiro, setembro terá quatro dias úteis a menos do que agosto; depois, as negociações na maior parte do mês ficaram esperando as novas taxas para serem formalizadas. Como o processo de emplacamento de caminhões é demorado e como os dados da Anfavea são baseados em emplacamentos, o analista espera números negativos, mas que não refletirão a demanda efetiva do momento.
Criado em 2009 como uma das principais medidas contracíclicas à crise internacional desencadeada em setembro de 2008, o PSI nasceu com o objetivo de assegurar recursos para que as empresas não paralisassem seus programas de investimentos enquanto outras medidas estimulavam a demanda doméstica para compensar o freio nas exportações trazido pela crise. A vigência do programa já passou por várias prorrogações e as taxas de juros também vêm sendo manejadas de acordo com os sinais apresentados pela economia. Em maio deste ano ela foi reduzida para 5,5% para a maioria dos itens financiados e agora está em 2,5%, com vigência até 31 de dezembro.
O BNDES informou que dos R$ 227 bilhões previstos para o PSI, R$ 155,4 bilhões foram desembolsados até 17 de setembro, sendo R$ 26 bilhões em 2012, dos quais R$ 13 bilhões para máquinas e equipamentos e R$ 8,3 bilhões foram para ônibus e caminhões. Desde o início do programa, as máquinas e equipamentos responderam por R$ 68,2 bilhões e os caminhões e ônibus por R$ 47,9 bilhões.
Os ônibus não foram beneficiados com a taxa de juros de 2,5%, permanecendo com a taxa de 5,5% estabelecida em maio. O BNDES informou ainda que desde 2009 foram contratadas aproximadamente 490 mil operações no PSI.
Por Chico Santos/ Valor Econômico