Suecos investem para fazer do Brasil um polo de inovação em sistema aberto

Esse modelo começou a ser testado no Brasil há um ano, por meio do Cisb, que se apoia no tripé formado por universidade, empresa e governo

 

Conhecidas pelo trabalho que desenvolvem para se manterem na vanguarda da tecnologia, empresas e instituições suecas de pesquisa e desenvolvimento querem replicar no Brasil o sistema de inovação aberta que ajudou a Suécia a conquistar as primeiras posições no ranking mundial entre as nações mais inovadoras. A Saab, uma das empresas que integra o projeto, já investiu US$ 15 milhões no Brasil e estima mais US$ 50 milhões para os próximos cinco anos.
 
No modelo de inovação aberta, laboratórios de pesquisa e desenvolvimento de grandes empresas, universidades, institutos de tecnologia, empreendedores e investidores de capital de risco trabalham juntos nos parques de ciência e tecnologia instalados em pontos estratégicos, um ambiente propício à colaboração para a inovação, disse Bruno Rondani, diretor do Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro (Cisb) no Brasil.
 
Esse modelo começou a ser testado no Brasil há um ano, por meio do Cisb, que se apoia no tripé formado por universidade, empresa e governo. Os testes incluem o desenvolvimento de projetos na área de redes elétricas urbanas inteligentes e de biocombustíveis de segunda geração, visando a produção de polímeros verdes. São diversos setores beneficiados pelos projetos, que dependem da tecnologia para conquistar inovações. O Cisb foi fundado pela Saab e conta com 11 membros e 40 parceiros, entre suecos e brasileiros.
 
Um laboratório de alta tecnologia, por exemplo, inspirado em uma experiência bem-sucedida da sueca Saab, na África do Sul, será montado na Universidade do ABC com o objetivo de abrigar pesquisas sobre demandas complexas da sociedade, especialmente nas áreas de segurança e transporte.
 
Para incentivar a formação de pessoal especializado, a Saab, segundo o vice-presidente de tecnologia, Pontus de Laval, cofinanciou em parceria com o CNPq cem bolsas de estudos para o programa Ciência sem Fronteiras, com foco nas áreas de segurança e defesa. No total, o governo sueco ofereceu 1.800 bolsas para realizar projetos em diferentes áreas.
 
Para que os pesquisadores brasileiros possam interagir entre si, com a comunidade científica sueca e com os engenheiros da Saab, foi desenvolvido pelo Cisb e pela Saab um sistema que permite a colaboração entre todos os integrantes do projeto.
 
O matemático brasileiro Joni Amorim está se beneficiando dessa integração. Ele já está preparando as malas para iniciar um pós-doutorado de um ano na Suécia, em 2013. Doutor em engenharia da computação pela Unicamp, Amorim disse que terá oportunidade de desenvolver uma metodologia de treinamento em segurança cibernética, para ser aplicada no treinamento de civis e militares no Brasil, voltada para grandes eventos, como a Copa do Mundo e a Olimpíada.
 
"A bolsa era de € 2.100, mas como o valor seria insuficiente para o custo de vida da Suécia, a Saab aumentou 100%", disse Amorim. O pós-doutorado será na Universidade de Skövde, especializada em tecnologia da informação. O campus está integrado a um parque tecnológico, onde a Saab tem uma unidade para interagir com a área de pesquisa de interesse da empresa.
 
Além da Saab, oito empresas e instituições suecas de pesquisa e desenvolvimento participam do Cisb, como as montadoras de veículos Scania e Volvo; a Stora Enso, da área de papel e celulose; empresas de tecnologia, além do SP Technical Institute, Innventia, Chalmers-Frauhoferg, KTH (Royal Institute of Technology) e as universidades de Linköping e de Chalmers.
 
Por ser um país pequeno, a Suécia concentra seus projetos de inovação em soluções que visam negócios globais, disse Rondani, do Cisb no Brasil.
 
Laval, da Saab, disse que a empresa desenvolveu uma gama de radares de curto alcance (até um quilômetro), com aplicações diversas em segurança, gestão de tráfego e minas. A empresa investiu € 30 milhões no projeto do radar e agora procura um parceiro no Brasil que tenha interesse em adaptar essa tecnologia às necessidades locais, disse o executivo. A companhia já está trabalhando com uma empresa que fornece tecnologia para a Companhia Vale do Rio Doce e existe uma oportunidade de fazer o mesmo com a Petrobras, segundo Laval.
 
Na inovação aberta, os parceiros precisam estar dispostos a abrir seus planos e ideias aos demais. "Isso funciona bem com as universidades brasileiras, mas ainda vemos certa hesitação por parte das empresas e também alguns problemas com os órgãos públicos, devido à existência de lei mais rigorosa, em comparação com a Suécia", disse ele, referindo-se às normas para pesquisa e desenvolvimento no Brasil.
 
Para o vice-presidente de pesquisa e desenvolvimento da Scania, Lars Stenqvist, os projetos feitos em colaboração com diferentes empresas e universidades permitem um fluxo maior de conhecimento. "Nem sempre somos os melhores em determinadas áreas, e essa troca é extremamente rica."
 
A Scania investe 550 milhões de coroas suecas por ano (US$ 83,5 milhões) em pesquisa e desenvolvimento e considera o Brasil seu maior mercado no mundo. "Nosso maior desafio é encontrar soluções para a redução do consumo de combustível e das emissões de gases", disse.
 
A Scania desenvolve um projeto pelo sistema de inovação aberta na área de segurança do tráfego. Batizado de Safer, o projeto reúne 26 parceiros na Suécia, entre eles o Parque de Ciências de Lindholmen, em Gotemburgo, a empresa Autoliv e a Volvo. O objetivo é reduzir a zero o número de mortes e lesões graves nas estradas do país. "A combinação de pessoas da indústria, da academia e do setor público gera muitos resultados interessantes e valiosos", disse Lotta Jakobsson, da Volvo Car Corporation.
 
"Estamos pensando em levar esse projeto para o Brasil. A Scania já ofereceu um caminhão equipado com sensores e medidores para analisar o comportamento do caminhoneiro nas estradas", revelou o diretor de Engenharia da Scania, Lars-Henrik Jörnving.
 
A Universidade de São Paulo (USP) e o Centro Universitário da FEI, segundo ele, também deverão participar do projeto. "Queremos ampliar os campos de testes de veículos no Brasil, tendo em vista as particularidades do país em relação a umidade e calor", afirmou Stenqvist.
 
A companhia trabalha também em cooperação com as Universidades de Estocolmo e de Linköping e com o instituto KTH nas área de testes, simulação de impacto e redução de ruído.
 
Por Vírginia Silveira/Valor Econômico

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