A redução de até 28% da tarifa de energia elétrica para o setor industrial deve reduzir os custos fixos de produção do setor em até 4%, segundo estimativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Na média, contudo, a queda deve ficar em torno de 0,8%, de acordo com cálculos da confederação com base na Pesquisa Industrial Anual (PIA) de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pelas contas da CNI, as despesas com energia representam 3,9% do custo fixo para a indústria e cerca de 85% do consumo industrial é de energia elétrica.
A indústria elogiou ontem (11) o pacote do governo que reduziu o custo da energia elétrica. Apesar dos elogios, os representantes ponderaram que o impacto direto de até 28% de queda é restrito a um grupo pequeno de empresas e, mesmo com a redução, o custo do insumo no país ainda é elevado.
A tarifa média de energia elétrica paga pela indústria brasileira deverá cair de R$ 329 para R$ 264 por megawatt-hora, segundo cálculos preliminares da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Em um ranking de 27 países, no qual o último tem a tarifa mais cara, com a redução o Brasil ganha quatro posições e passa da 24ª para a 20ª posição da lista. Deixa para trás Chile, México, El Salvador e Cingapura. Para o presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, a redução das tarifas anunciada pelo governo pode ser classificada como "um avanço gigantesco" e recupera a competitividade de setores eletrointensivos, como o de alumínio.
Segundo a CNI, do custo médio total da tarifa de energia elétrica, cerca de 45% são referentes a encargos, taxas e tributos. O Brasil, de acordo com a confederação, paga 143% a mais pela energia do que os outros países que compõem o grupo dos Brics (Rússia, Índia e China e África do Sul). Nas contas da Firjan, a diferença é menor em relação aos Brics - 90%.
O diretor do Departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Carlos Cavalcanti, disse que apenas 1,8% das indústrias do país serão contempladas com a queda de até 28% no preço da conta de luz, a redução máxima anunciada ontem pelo governo. Segundo Cavalcanti, as demais 98,2% de empresas terão um benefício bem inferior, ficando com os 19% de redução anunciados pelo governo. "Os maiores beneficiados serão, especificamente, os empresários da indústria eletrointensiva."
Apesar da pequena participação no setor industrial, o segmento mencionado pelo diretor da Fiesp consome, sozinho, 57% de toda a energia industrial do país. Trata-se de empresas dos setores de alumínio, cimento e siderurgia, entre outros. Mesmo com a concentração dos maiores benefícios nessa categoria da indústria, a Fiesp comemorou os resultados. "A queda média do preço da energia será de 20,2%. Não temos como negar que isso é uma revolução no setor. Nunca houve uma queda de energia na história como essa", comentou Cavalcanti.
Gouvêa Vieira, da Firjan, elogiou bastante a iniciativa do governo de diminuir o preço da energia no Brasil, mas destacou a importância de avançar no assunto. Um dos próximos passos, segundo ele, pode ser a queda das alíquotas de ICMS pelos governos estaduais.
Para o presidente da Alcoa no Brasil, Franklin Feder, a redução de até 28% no preço da energia elétrica aproxima o custo desse insumo na indústria brasileira de alumínio da média internacional, de US$ 35 por megawatt-hora (MWh), segundo ele. "Aqui, chegamos a pagar US$ 82 por MWh, no pico", afirmou. Mas, ainda assim, o valor deve seguir acima do de concorrentes, disse.
Com a recente desvalorização do real, a tarifa baixou para um nível próximo de US$ 60 MWh. Por isso, a expectativa da Alcoa é que o alívio nas contas de luz aproxime o Brasil da média global. Mesmo assim, conforme acrescentou Feder, países do Oriente Médio oferecem energia elétrica abaixo de US$ 20 MWh. O executivo lembrou que a indústria de alumínio está com estoques elevados em termos globais, o que tende a desestimular novos investimentos em ampliação de capacidade.
A diretora-executiva de Sustentabilidade e Energia da Vale, Vania Somavilla, que a redução do custo da energia vai beneficiar não só as empresas: "É um benefício sistêmico", frisou. Para ela, a medida aumenta a competividade e ajuda na geração de renda e empregos, além de expandir novos negócios. Ela ressaltou que o elevado custo da energia elétrica é um dos limitadores do investimento.
Também o presidente da Bayer no Brasil, Theo Van Der Loo, considerou a medida positiva. Mas, segundo ele, o governo necessita anunciar pacotes de incentivos visando o longo prazo. Para ele, os custos da indústria com gás natural e logística ainda são elevados. "As iniciativas tomadas pelo governo ajudam a tornar as indústrias mais competitivas", disse.