Discute-se muito a respeito de inovação e seus impactos no ambiente industrial. Afirmações como “nos dias de hoje, para sobreviver no mercado e se sobressair tem que inovar” ou “atualmente, são poucas as empresas que conseguem gerar valor ou superar as crises sem priorizar a inovação” têm sido constantes em discursos de especialistas da administração moderna. Mas, afinal de contas, será o mantra da inovação um conceito tão “inovador” assim?
No início do século passado, em 1902, um senhor chamado Henry Ford abalou o ambiente industrial ao criar uma fábrica de automóveis. O impacto dessa fábrica não se deu apenas pela chegada de uma nova empresa, mas pelos conceitos que foram então introduzidos, considerados inovadores até mesmo para os dias atuais.
Henry Ford foi o idealizador da produção em massa e linhas de montagem padronizadas, reduzindo consideravelmente os tempos de produção de seus automóveis. Em 1908, o tempo médio de um montador era de 514 minutos. Já em 1914, esse tempo havia reduzido para incríveis 1,19 minutos. Como ele conseguiu isso?
Dentre outras iniciativas, Ford implantou a especialização de seus trabalhadores, ou seja, cada operador tinha uma tarefa fixa dentro de um processo padronizado. Ao invés de despender tempo com múltiplas tarefas ao longo da linha de produção, os operadores ficavam parados, executando a mesma tarefa, enquanto o produto em processo deslocava-se ao longo da linha.
Oferecendo apenas um modelo ao mercado, as peças de seus automóveis também foram padronizadas. Por exemplo: enquanto os concorrentes fundiam separadamente as peças de um bloco de motor para depois juntá-las, Ford trabalhava com uma única peça fundida, reduzindo o número de componentes de seus carros e, portanto, o custo final do produto.
Tais inovações nos processos permitiram a Ford oferecer seus automóveis com custos de produção bem inferiores aos concorrentes. Mas essas inovações conferiram liderança à empresa? Sim, mas por um breve período de tempo.
Quase contemporâneo da Ford, Afred Sloan criou a General Motors. Consciente que não poderia concorrer com a Ford em termos de preço, Sloan buscou a vantagem competitiva na diferenciação de seus produtos. No lugar de oferecer um único modelo ao mercado, a GM trabalhava com cinco modelos (Chevrolet, Buick, Oldsmobile, Pontiac e Cadillac), oferecendo estilo, design, cores e materiais a diferentes perfis de cliente final.
Apostando nas diferenças de renda e estilo de vida de seus consumidores, aliadas à profissionalização de sua administração, a GM ultrapassou a Ford em lucratividade, tornando-se a maior empresa do segmento já nos anos 20 do século passado.
Tanto a Ford quanto a GM foram e são empresas inovadoras. Enquanto a primeira apostou na inovação em processos para garantir a liderança, a GM investiu na inovação de produtos como principal diferencial.
A discussão sobre qual a forma mais efetiva depende da época e ambiente que estaremos analisando. O fato é que a inovação é um conceito que orienta a evolução de empresas líderes desde sempre. Não poderia afirmar que uma empresa pode sucumbir se não inovar, mas é fato que, sobretudo, a inovação pode conduzi-la à liderança.
Flávio L. S. Lima é o novo colunista do Portal CIMM. No espaço Gestão da Inovação, ele discutirá, quinzenalmente, a respeito de inteligência de negócios, estratégias de desenvolvimento na indústria brasileira e sobre a gestão da inovação. Engenheiro de Produção, Lima é mestre com foco em Análise de Investimentos pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Coordena projetos na área de inovação há 10 anos e é diretor comercial na Valor & Foco, empresa de inteligência de negócios sediada no CELTA, em Florianópolis (SC), maior incubadora da América Latina.