No momento em que o governo está perto de definir limites para as emissões de poluentes dos automóveis - o que forçará novas soluções na indústria de autopeças -, a Continental, uma das três maiores do setor no mundo, está inaugurando seu primeiro centro voltado ao desenvolvimento de tecnologias de motor no Brasil.
Foram investidos € 11 milhões para erguer em dez meses o laboratório, instalado dentro do parque industrial de Salto, no interior paulista, onde a Continental produz sistemas de gerenciamento de motor.
Sua principal finalidade será o desenvolvimento e aplicação de novos produtos da Continental nas linhas de powertrain - ou seja, todos os sistemas responsáveis pela movimentação de um veículo. Mas o laboratório também está preparado para servir de apoio a montadoras na realização de ensaios de emissões, homologação e calibração de motores. Nesse sentido, Maurício Muramoto, presidente da Continental no Brasil, adianta que a empresa já fechou acordos para dar suporte a fabricantes de carros ainda neste ano.
Quando a construção do laboratório foi iniciada, em novembro de 2011, o país ainda discutia um programa de eficiência energética para os motores de veículos. Agora - mesmo que o investimento seja tratado pela empresa como estratégia de longo prazo -, não deixa de ser uma feliz coincidência o fato de sua inauguração acontecer às vésperas da regulamentação do novo regime automotivo, que estabelecerá metas de emissões para a indústria automobilística.
Para a direção da empresa de origem alemã, o laboratório vai contribuir para a produção de carros mais eficientes, embora ainda reste a dúvida sobre qual será o grau de exigência do governo no corte das emissões. "Vamos buscar o aumento máximo da eficiência de um motor de combustão interna", afirma Anderson Citron, diretor da divisão de powertrain da Continental.
Um dos focos da unidade será o aprimoramento e a busca por soluções mais dinâmicas da tecnologia flex - já consolidada no mercado brasileiro e que permitiu o funcionamento de carros tanto com gasolina como com etanol. Isso inclui o desenvolvimento de sistemas de partida a frio que eliminariam o reservatório extra de gasolina, acionado em dias mais frios para ligar automóveis abastecidos com etanol.
A Continental diz que o laboratório segue os mesmos padrões e conta com recursos comparáveis aos de seus outros sete centros localizados na Alemanha, França, Estados Unidos, Coreia do Sul e China. Dentro de uma área de 2,4 mil metros quadrados, as instalações incluem laboratório químico, reservatórios de combustíveis e câmaras climáticas para abrigar carros.
Entre engenheiros e técnicos, o centro tecnológico começa a funcionar com 20 funcionários, com potencial de chegar a 50 vagas. Inicialmente, a unidade vai operar em dois turnos. Se houver demanda, um terceiro turno poderá ser adicionado.
No Brasil, onde faturou R$ 2,7 bilhões no ano passado, a Continental investiu € 400 milhões desde 2007. Os recursos foram direcionados, principalmente, ao desenvolvimento de novos produtos e expansão de capacidade. No total, o grupo tem 13 fábricas no país, produzindo uma diversificada linha de componentes automotivos que vai de pneus a dispositivos antifurto.
Segundo Muramoto, a filial brasileira conseguiu crescer a um ritmo de dois dígitos nos últimos três anos e deve seguir em expansão em 2012, apesar do cenário mais desafiador. A empresa diz que o laboratório instalado em Salto deve gerar novos negócios com montadoras instaladas no país e vai atender a uma crescente demanda por desenvolvimento de tecnologias.
Por Eduardo Laguna/Valor Econômico