A Toyota vai investir cerca de US$ 1 bilhão em uma nova fábrica de motores no Brasil. O anuncio foi feito ontem pelo presidente mundial da montadora japonesa, Akio Toyoda, após reunir-se com a presidente Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto. Ao saber que Dilma não compareceria hoje à festa de inauguração da unidade de Sorocaba (SP), onde produzirá o seu primeiro modelo compacto brasileiro, o neto do fundador da montadora tratou de encontrar a presidente em Brasília.
A fábrica será construída em Porto Feliz (SP), município vizinho à nova linha de montagem em Sorocaba, e produzirá motores para dois modelos de automóveis da empresa: o Etios, o novo compacto que sairá da unidade de Sorocaba; e também para o Corolla, o sedã médio que a montadora japonesa já fabrica em Indaiatuba.
Há 14 anos o Corolla é montado no país, mas durante todo esse tempo o veículo foi equipado com motor importado do Japão. A fábrica de Porto Feliz começará a funcionar no segundo semestre de 2015 no ritmo de produção anual de 140 mil motores - metade para a linha de Indaiatuba e a outra metade para a de Sorocaba. Mas o projeto prevê uma instalação industrial com capacidade para fabricar 200 mil motores por ano. A previsão é que a fábrica deve gerar entre 600 e 700 novos postos de trabalho.
Com a produção de motores no Brasil, segundo informou Toyoda, o índice de nacionalização dos dois automóveis saltará de 65% para 85%. "Tivemos palavras de incentivo e de gratidão em relação aos novos investimentos na fábrica de Sorocaba", disse Toyoda. "Podemos dizer que o Etios será um carro feito por brasileiros para brasileiros", completou. Enquanto a fábrica de Porto Feliz não estiver em funcionamento, os motores do modelo Etios serão importados do Japão.
O projeto de construção de uma fábrica de motores no Brasil prova que a direção mundial da Toyota começou a conduzir as operações no país com mais seriedade. A montadora japonesa, que sempre tomou as decisões na região de forma extremamente cautelosa, surpreende ao repentinamente acelerar investimentos.
O motor é o "coração" de um veículo. Mas somente quando a produção de automóveis atinge um volume que justifique trocar a importação desse componente pela produção local é que as empresas costumam optar pela nacionalização. O caso da Toyota chama a atenção porque o anúncio do plano de produção dos motores chega junto com a inauguração da fábrica de um novo carro. É como se a direção da companhia antecipasse, desde já, a necessidade de em pouco tempo acelerar o ritmo da linha de montagem.
O investimento também revela que as empresas japonesas preferem, agora, se prevenir contra eventual falta de componentes importados, como aconteceu no ano passado, depois do tsunami no Japão. Fábricas de marcas japonesas espalhadas pelo mundo, incluindo o Brasil, tiveram que parar, o que levou a Toyota a perder a liderança mundial, que havia conseguido roubar da General Motors no ano anterior.
Além disso, mostra como o avanço da crise nos mercados maduros também serve de estímulo para que as marcas japonesas olhem com mais interesse para uma região que já ganhara a atenção dos fabricantes de veículos de outras partes do planeta.
Nunca é demais, para um executivo da indústria automobilística, chamar a atenção para os programas de investimentos da sua empresa numa época em que o governo federal dá os últimos retoques num novo programa de incentivos à produção local.
Por Bruno Peres e Marli Olmos/Valor Econômico