Os resultados da indústria em junho voltaram a frustrar a expectativa de retomada na produção. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção subiu 0,2% em relação a maio, resultado abaixo do esperado pelos analistas.
Apesar do tom otimista do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que disse ter chegado o "ponto de inflexão", especialistas ainda não veem sinais claros de uma reação nas fábricas.
Os dados do IBGE mostram que a produção fechou o semestre com queda de 3,8% ante o mesmo período do ano passado. Na comparação de junho com o mesmo mês do ano passado, o tombo é de 5,5%. É o pior resultado desde setembro de 2009.
A maioria dos setores queimou estoques, mas reduziu o ritmo de produção em relação a maio. O setor de bens intermediários -, o maior da indústria, que reúne metalúrgicas e produtores de celulose, borracha e plástico, por exemplo - continua em queda. As exportações caíram, refletindo a crise global.
O resultado só não foi pior porque os fabricantes de veículos e eletrodomésticos tiveram alívio no fim do primeiro semestre, com os incentivos do governo.
"Virada". Embora Mantega tenha comemorado o resultado de junho como o fim da crise na indústria, técnicos do IBGE e analistas não têm a mesma interpretação. "A produção industrial está dando uma virada, depois de um crescimento negativo por vários meses consecutivos. Daqui para a frente, vamos ter resultados melhores", disse Mantega.
Para o gerente da Coordenação da Indústria do IBGE, André Macedo, a pesquisa ainda revela um comportamento negativo do setor industrial. "Até mesmo na comparação de junho ante maio há predomínio de taxas negativas. São 15 das 27 atividades com queda. E o segmento de mais peso, o de bens intermediários (responsável por 55% da produção), se retraiu (0,9%, em junho ante maio). É preciso analisar para qual direção caminhará a indústria nos próximos meses."
Nesse cenário de incertezas, a boa notícia é o aumento na renda dos trabalhadores, responsável pelo crescimento de 1,8% do setor de bens de consumo. Outro ponto positivo da pesquisa foi a melhora do setor de veículos, que produziu 3% mais em junho que em maio, após queda de 3,2% no mês anterior, por causa da redução de estoques. A produção de automóveis impulsiona uma cadeia de empresas e, por isso, respondeu pela alta do setor de bens duráveis, de 4,8%.
"O crescimento dos bens duráveis está cheio de anabolizantes, de medidas de incentivo do governo, que são necessárias, mas impedem uma avaliação mais clara sobre o andamento da atividade", disse o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) Júlio Gomes de Almeida, que aposta numa retomada da produção da indústria no segundo semestre, "mas nada fulgurante."
A indústria ainda sente os efeitos de um menor consumo interno e da crise global, "seja porque houve uma acomodação nos preços de commodities, seja porque a demanda lá fora está menor. E ainda há o fator Argentina, que impôs restrições a produtos brasileiros", disse o economista da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) Sílvio Salles.
Além do quadro externo, pesam sobre a indústria problemas de competitividade, segundo a diretora do Instituto Estudos de Política Econômica Casa das Garças, Mônica de Bolle: "Os estímulos adotados recentemente, como a redução do IPI para automóveis, deverão surtir efeito no segundo semestre, mas não o suficiente para segurar toda a indústria".
Por Fernanda Nunes e Vinícius Neder