Entenda a proposta de Bush para enfrentar o aquecimento global

Fonte: O Estado de S. Paulo - 04/06/07

O presidente americano, George W. Bush, pediu que os países entrassem em um acordo de longo prazo para estabelecer novas metas para o corte da emissão de gases que causam o efeito estufa.

Bush disse que vai reunir os Estados Unidos e outros 14 países responsáveis pela maior parte das emissões de gás carbônico, incluindo países em desenvolvimento, para estabelecer metas até o final de 2008.

O presidente americano fez as declarações a poucos dias da reunião do G8 (o grupo dos sete países mais industrializados do mundo e a Rússia), na Alemanha. A expectativa é de que, no encontro, os alemães peçam novos cortes nas emissões.

O presidente Bush se transformou no mais recente convertido à causa do aquecimento global e da diminuição das emissões de carbono?

É a primeira vez que o presidente americano afirma em público que são necessárias "metas de longo prazo para reduzir os gases de efeito estufa".

A declaração de Bush chamou a atenção da imprensa, mas, até agora, ele não deu detalhes para que seja possível saber se a proposta marca uma mudança de opinião na Casa Branca a respeito da necessidade de metas obrigatórias de emissão de carbono.

Qual é a proposta de Bush?

O presidente Bush pediu que 14 dos países que poluem mais para se juntarem aos EUA em uma nova proposta global para combater a mudança climática, quando o Protocolo de Kyoto expirar em 2012.

Ele planeja uma série de reuniões que visam estabelecer uma meta global, até o final de 2008, para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

Além das economias industrializadas, Bush convidou a Índia e a China a participarem do grupo.

Cada um dos países, explicou Bush, também "estabeleceria metas nacionais no médio prazo e programas que refletem suas necessidades futuras de energia e suas fontes de energia".

Isto é uma mudança da Casa Branca na questão do aquecimento global?

Seria um exagero chamar o anúncio do presidente Bush de uma mudança da posição de seu governo em relação à mudança climática.

Apesar de o governo dos Estados Unidos ter se recusado a ratificar o Protocolo de Kyoto e ter sido apontado como o vilão das negociações sobre o clima do planeta, o país é um defensor de tecnologias de "energia limpa".

Em seu Discurso do Estado da União, em 2006, Bush disse que fontes de energia alternativas são necessárias para acabar com a "dependência do petróleo" dos Estados Unidos.

Pode-se argumentar que seu entusiasmo por biocombustíveis e energia do hidrogênio é motivado pela economia e por razões de segurança energética.

Mas não se pode dizer o mesmo de sua decisão de investir bilhões de dólares no desenvolvimento de novas formas de capturar e estocar geologicamente dióxido de carbono vindo de usinas de carvão.

Analistas observam que o único objetivo dessa iniciativa é limitar a emissão de gases de efeito estufa.

E, em 2005, o presidente Bush estabeleceu uma Parceria Ásia-Pacífico em Desenvolvimento Limpo e Clima.

A coalizão, que inclui a Austrália, Japão, China e Índia, rejeitou a idéia de diminuir as emissões e se concentrou no papel da tecnologia para evitar a mudança climática.

Mas a parceria foi criticada por ambientalistas que viram a iniciativa como uma tentativa de prejudicar a Proposta da ONU da Convenção de Mudança Climática, que administrou o Protocolo de Kyoto.

Críticos, como a organização americana National Environmental Trust, afirmam que o último anúncio de Bush visa desviar a atenção da recusa do presidente em aceitar reduções obrigatórias das emissões.

Isto significa que a reunião do G8, em junho na Alemanha, vai resultar num consenso entre os países mais industrializados do mundo sobre como evitar a mudança climática?

Ainda existe um grande abismo entre as políticas para o clima da União Européia e da ONU em relação às propostas de Bush.

A União Européia estabeleceu uma meta clara de evitar que as temperaturas globais aumentem em 2ºC acima dos níveis anteriores à industrialização. O bloco planeja atingir isto cortando emissões em 50% abaixo dos níveis de 1990, até 2050.

O principal meio de conseguir estes cortes, de acordo com a União Européia, seria um esquema global de comércio de carbono. Bush continua se opondo às duas políticas.

"Precisamos conseguir energia a partir da tecnologia para ajudar nações a atingir suas necessidades energéticas crescentes, enquanto o meio ambiente é protegido", disse.

Negociadores americanos recentemente rejeitaram um rascunho de declaração do G8 a respeito de mudança climática que incluía 50% de redução nas emissões de CO2 até 2050.

Eles expressaram "oposição fundamental" ao comunicado preparado pela Alemanha, que atualmente ocupa a presidência do G8.

Serão colocadas na mesa de negociação duas propostas para a consideração dos líderes políticos. Teme-se que a reunião em Heligendamm termine em impasse e a oportunidade de concretizar uma proposta significativa para diminuir futuras emissões seja novamente perdida.

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