Indústria nacional perde espaço para os estrangeiros no mercado interno

Em 2012, mesmo com queda no consumo, importações continuam a crescer

Em queda de braço com os produtos estrangeiros há pelo menos dois anos, a indústria brasileira perde cada vez mais espaço no mercado interno. No ano passado, esses produtos supriram 100% do aumento do consumo de bens industriais no país. Em 2012, mesmo com queda no consumo, as importações continuam a crescer. Isso significa que os importados estão abocanhando uma fatia cada vez maior do mercado antes atendido pela produção nacional. Há dois anos, eles respondiam por apenas 40% do aumento do consumo de bens industriais.

Os dados foram levantados pelo Banco Central (BC) que, pela primeira vez, fez alerta sobre o tema. Estudo com a análise do peso da produção industrial e dos importados no consumo doméstico foi incluído no último relatório trimestral de inflação.
 
"O dinamismo registrado pela demanda interna no período recente não vem sendo acompanhado pelo desempenho do setor industrial. Nesse cenário, elevações da demanda interna ao menos parcialmente devem ser atendidas por importação de bens", diz o BC no documento.
 
A maior entrada dos importados é identificada no setor de bens duráveis. O crescimento das compras nesse segmento chegou a 167% entre 2008 e 2011.
 
- Se a demanda cresceu, por que a indústria não está acompanhando e produzindo mais? Está implícita aí perda de competitividade - diz uma fonte do governo, com base nos dados do BC.
 
Segundo essa análise, quando os importados começaram a ganhar força, a indústria nacional tinha capacidade instalada ociosa, não precisava de investimentos para elevar a produção. Quando a expectativa do empresariado piorou por causa da crise externa e pelo dólar barato, o desejo de investir desabou.
 
Os especialistas dizem que este é um quadro clássico de desindustrialização e a saída agora é tentar "reindustrializar" o país.
 
- Investir menos é consequência e não a causa da invasão de produtos importados no Brasil e o resultado disso é desindustrialização - afirmou o economista-chefe do IEDI, Júlio Gomes de Almeida. - E isso é ruim porque o Brasil ainda é um país relativamente pobre e esse quadro representa menos emprego, renda, demanda, arrecadação de impostos e crescimento.
 
Setor de máquinas já demitiu 6 mil só este ano
Termômetro da indústria, o setor de máquinas e equipamentos, usados para montar as fábricas brasileiras, sofre com a redução das encomendas. A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) admite que já demitiu, só este ano, seis mil funcionários.
 
- O pior é que, para cada vaga no setor de bens de capital, são sete indiretas - disse o vice-presidente da Abimaq, José Velloso.
 
O valor total das importações - que inclui bens de outros setores além da indústria - comprova a invasão de produtos estrangeiros. No primeiro semestre, enquanto as exportações caíram 1,7% na comparação com o mesmo período de 2011, chegando a US$ 117 bilhões, as importações cresceram 3,7% e já somam US$ 110 bi. No resto do mundo, em função da crise, as importações estão caindo.
 
Para o economista-chefe da CNI, Flavio Castelo Branco, a indústria já indicava declínio desde o ano passado. Se a taxa de câmbio antes era compensada pela expansão da economia mundial, hoje a competição do produto brasileiro é dificultada pelo cenário externo adverso.
 
- A demanda mundial caiu e a competição se acirrou. Agora que o câmbio melhorou, o ambiente todo é ruim e, por isso, não se sente o efeito.
 
 
Por Gabriela Valente/O Globo - 09/07/2012

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