Estudo aponta parcerias de longo prazo como mais produtivas para inovação

Relatório europeu destaca vantagens dos acordos estratégicos de cinco a dez anos de duração

 

As parcerias estratégicas de longa duração entre universidades e empresas são as mais produtivas para o ambiente de inovação, conclui um estudo europeu publicado em 18 de junho. O relatório "Making industry-university partnerships work" (Fazendo as parcerias indústria-universidade funcionarem, em tradução livre)  foi realizado pela associação europeia Science Business Innovation Board, uma entidade sem fins lucrativos sediada na Bélgica. Segundo o documento, os acordos de pesquisa conjuntos com duração entre cinco e dez anos, relacionados a convênios mais abrangentes, obtêm melhores resultados do que aqueles de curto prazo, de no máximo três anos e limitados à busca de soluções pontuais.
 
"As parcerias estratégicas projetadas para durar de cinco a dez anos proporcionam maiores e muitas vezes imprevistas vantagens para todas as partes por meio de um ciclo virtuoso de interações", destaca o relatório. "Para a universidade, elas oferecem um fluxo seguro de financiamento que pode estimular a força acadêmica. Elas ajudam a modernizar o ensino e a aprendizagem ao fomentar uma troca de ideias e ao desenvolver capacidades e competências necessárias às pessoas na medida em que as inovações promovem transformações em mercados e indústrias."
 
Tipos de colaborações
O relatório classifica as parcerias em três tipos: parcerias estratégicas, com duração de cinco a dez anos, em que o conhecimento produzido pela colaboração poderá influenciar a estratégia da empresa e a pesquisa e o ensino da universidade no futuro; parcerias operacionais, com duração média de um a três anos, normalmente compreendendo apenas um laboratório ou divisão de pesquisa e desenvolvimento, mas que pode progredir para uma parceria estratégica; e parcerias transacionais, com menor interação e curta duração, como, por exemplo, eventos em parceria, a oferta de cursos por executivos para a universidade ou a alocação de estudantes nas empresas para trabalhos de curta duração.
 
Para o Science Business Innovation Board, o cenário de inovação necessita de mais recursos humanos qualificados para enfrentar os desafios do século XXI, que possam compreender as necessidades tanto da academia quando da indústria e transitar em ambos ambientes com a necessária desenvoltura. O estudo ressalta, no entanto, que a divisão cultural entre universidades e indústria continua grande e barra as colaborações efetivas dos laboratórios de pesquisa com o mundo dos negócios.
 
Contribuição da indústria
Com a meta de acrescentar mais pontos de vista das empresas neste debate eminentemente acadêmico, o relatório apresenta os resultados positivos de algumas parcerias de sucesso na Europa com esses dois atores da inovação. "Cada estudo de caso foi baseado em extensas entrevistas com executivos de alto escalão e gestores de universidades que supervisionam essas parcerias. Vários casos se concentram em iniciativas de parceria com universidades dos Estados Unidos, o que reflete o fato de as instituições educacionais norte-americanas terem encabeçado o processo de evolução das colaborações em grande escala entre indústria e universidade. Mas a Europa também conta com muitas parcerias estratégicas, proeminentes e produtivas", indica o documento.
 
Entre os destaques dos estudos de caso estão parcerias relacionadas às seguintes instituições: as empresas alemãs Siemens e Audi, as finlandesas Nokia e Universidade Aalto, o suíço Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH Zurich), o sueco Instituto Karolinska e as norte-americanas IBM, GE e Universidade da Califórnia.
 
Redefinição do papel das universidades
As principais conclusões do estudo apontam ainda a necessidade de: adoção de uma postura de liderança mais comprometida por parte dos altos escalões das universidades, na busca de entendimento com empresas em parcerias estratégicas; estímulo da abordagem multidisciplinar de P&D em programas acadêmicos; tornar mais flexíveis as exigências em contratos de propriedade intelectual, permitindo mais benefícios para a sociedade a partir do conhecimento produzido; e mudança do papel da universidade de pesquisa como fonte de competência e solução de problemas para a sociedade.
 
"A colaboração com a indústria deve estar ligada à redefinição do papel da universidade de pesquisa no século XXI. Esse papel agora vai além do ensino e do serviço público de pesquisa, incluindo a busca de soluções para importantes desafios sociais e o apoio para impulsionar o crescimento econômico", destaca. O estudo conclui que as universidades atualmente utilizam um modelo de educação superior criado há mais de cem anos, mas que é preciso uma nova visão que inclua o foco na capacitação de recursos humanos para uma economia globalmente competitiva.
 
Por Guilherme Gorgulho/Inova Unicamp

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