Distribuidora de máquinas BMC irá construir unidade fabril

Planta será instalada em Minas Gerais em parceria com Zoomlion

 

Com planos de inaugurar em três meses uma linha de montagem em parceria com a chinesa Zoomlion, a Brasil Máquinas de Construção (BMC), até então somente distribuidora, vai se lançar na fabricação de equipamentos. Segundo o presidente da companhia, Felipe Cavalieiri, a unidade fabril será instalada em Extrema (MG), onde a BMC conseguiu alugar um prédio, com área de 20 mil m2, pronto para o empreendimento. Cavalieri relata que o principal motivo para escolher a cidade foi ter encontrado essa oportunidade com uma área já construída, além de a região ser atrativa logisticamente: "A fábrica ficará em Minas Gerais, perto da divisa com São Paulo e relativamente próxima ao Rio."
 
A joint-venture, composta em 40% pela BMC e em 60% pela Zoomlion, está investindo ao todo R$ 40 milhões no projeto. Neste ano, nos primeiros meses de operação, o objetivo é que a unidade produza 160 máquinas para concreto, como betoneiras, centrais e bombas. Em dois anos, Cavalieri afirma que a fábrica de Extrema já estará a pleno vapor, montando mil máquinas por ano. A princípio, a unidade terá 100 funcionários, número que chegará a 300.
 
Esse não é o primeiro passo da BMC em fabricação. Em 2010, a empresa assinou memorando com a chinesa XCMG para a instalação de uma unidade no Espírito Santo, mas o projeto tornou-se conflitante com outro empreendimento - o da joint-venture firmada dois meses depois com a Hyundai. Cavalieri explica que a BMC representa algumas linhas da XCMG, mas é distribuidora exclusiva da divisão de máquinas da Hyundai no Brasil. Como as duas marcas são concorrentes, optou por fabricar em parceira com a coreana e continuar representando a chinesa.
 
A fábrica, de maior porte, está em construção em Itatiaia (RJ). Lá, o investimento estimado é de R$ 180 milhões - 75% da Hyundai e 25% da BMC - em uma área de 600 mil m2. A produção em Itatiaia deve começar no início de 2013, com mil máquinas da linha amarela (escavadeiras, pás carregadeiras e retroescavadeiras). Até 2015, o empreendimento deve empregar 1,5 mil pessoas e produzir 5 mil equipamentos ao ano, produtos que abastecerão também mercados vizinhos do Mercosul.
 
Mesmo após um trimestre ruim para a indústria, o executivo segue otimista na mudança de vertente dos negócios da BMC. "A aposta é grande, mas como a gente controla o canal de vendas e trabalha com parceiros experientes, o investimento fica mais tranquilo." Cavalieri está confiante na recuperação da economia no segundo semestre e afirma que a empresa mantém a expectativa de crescimento para 2012, de alcançar faturamento de R$ 1 bilhão, resultado que foi de R$ 720 milhões no ano passado. Para 2015, a meta é R$ 3 bilhões.
 
Além de ficar menos exposta à variação cambial, Cavalieri afirma que a empresa estará menos sujeita às barreiras que vem sendo impostas a produtos importados. "Neste país, importador às vezes é visto como criminoso", reclama. O presidente conta que com a operação Maré Vermelha, da Polícia Federal, e as dificuldades de comércio com a Argentina, muitos contratos foram perdidos. Ele cita o exemplo de um contrato de R$ 2,5 milhões com um cliente do Rio de Janeiro que acabou cancelado, depois de a encomenda ficar parada por meses no porto. "Com fábricas instaladas aqui a gente consegue ajustar melhor o planejamento."
 
Produzir no país, acrescenta, permitirá ainda ter o grau de nacionalização para os equipamentos, podendo ter financiamentos subsidiado do BNDES na venda. Ele, no entanto, ressalva que irá enfrentar dificuldades do custo Brasil na condição de fabricante.
 
A fabricação responderá por cerca de 80% das máquinas comercializadas da Hyundai e da Zoomlion. Apesar do esforço de fabricação, a BMC continuará atuando como distribuidora, crescendo nas duas frentes. Em 2011, a empresa inaugurou sete postos e outros dois serão abertos este ano, no Rio de Janeiro e em Fortaleza, chegando a 38 unidades comerciais. Fora as duas parceiras de fabricação, a BMC representa marcas como a Shantui, Merlo e Link Belt. Nos próximos meses, a companhia deve anunciar a representação de mais uma marca americana.
 
Antes orgulhoso por representar uma grande distribuidora nacional de máquinas, Cavalieri demonstra agora orgulho por tocar projetos de fabricação com fatias consideráveis de uma brasileira. "A gente olha para uma fábrica com olhos de brasileiro, querendo trazer riqueza e desenvolvimento social para o país." O executivo lembra que a fábrica da Hyundai foi projetada em parceria com a Prefeitura de Itatiaia, para desenvolver o município. A partir desta semana, a BMC e o governo municipal iniciam um programa de treinamento, com o intuito de formar a mão de obra oriunda da cidade. Cavalieri diz que, por enquanto, não há parcerias para a instalação de outras fábricas, mas ele acredita que em vista do potencial de crescimento do mercado de máquinas no país, a estratégia de se firmar como fabricante vai continuar.
 
 
Por Ana Fernandes/Valor Econômico

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