Montadoras importam até buzina e ampliam déficit em autopeças

Importação de peças atingiu US$ 4,5 bi em 2011 e deve somar US$ 6 bi este ano

Nas últimas três décadas, as buzinas da empresa Fiamm (antes Sogefi) equiparam os carros feitos pela General Motors no Brasil, do Opala e Monza aos modelos atuais. Há dois meses, a empresa de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, perdeu os últimos contratos de fornecimento ao grupo, que passou a trazer o equipamento da Ásia.

"Me deixaram na mão depois de 30 anos", diz Mário Milani, sócio da Fiamm, única fabricante de buzinas no País. Sem o contrato, a empresa cortou um turno de produção e demitiu 15 funcionários. Agora, tenta renegociar com a GM, mas está difícil competir com o produto coreano, que chega em média 30% a 40% mais barato que o nacional.
 
O cenário da Fiamm se repete em outras empresas do setor. Segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), só neste ano cerca de 10 mil trabalhadores do setor foram demitidos, parte em razão dos importados e parte por causa da queda de produção das montadoras. No fim de 2011, o setor empregava 229,5 mil funcionários.
 
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior mostram que, no primeiro quadrimestre, o segmento de autopeças acumula déficit de US$ 1,86 bilhão na balança comercial brasileira, com exportações de US$ 3,69 bilhões e importações de US$ 5,55 bilhões.
 
Em 2011, o setor teve déficit de US$ 4,5 bilhões. "Este ano deve bater novo recorde e chegar aos US$ 6 bilhões", prevê o presidente do Sindipeças, Paulo Butori. Para ele, o novo regime automotivo, que prevê desconto de impostos para o produto nacional, não muda muito esse quadro: "Há brechas na lei que permitem a entrada dos importados".
 
A importação também é feita pelas próprias fabricantes de autopeças, especialmente as de grande porte. A Corneta, que entre outros itens produz peças forjadas e usinadas em Osasco, vai perder, a partir de julho, um contrato de R$ 5 milhões ao ano para uma sistemista (empresa que adquire peças de vários fabricantes e entrega kits completos para as montadoras).
 
Segundo o presidente da Corneta, Antônio Carlos Bento, sua cliente decidiu trazer da Ásia todo o kit hoje montado no Brasil. "Não conseguimos competir com os preços deles", lamenta. Com isso, a empresa estuda alternativas para evitar a demissão de 17 funcionários, do total de 640.
 
Salto. Os dados do ministério também mostram que, neste ano, a GM foi a montadora que mais aumentou as importações. O salto ante o mesmo período de 2011 é de 102,13%, para US$ 469,9 milhões. A empresa, que no ano passado era a 34.ª na lista dos maiores importadores, agora está na 12.ª colocação.
 
A Volkswagen é a montadora que mais importa. É a sexta no ranking nacional - liderado pela Petrobrás -, com US$ 723,3 milhões, alta de 37% em relação aos primeiros quatro meses do ano passado. Em porcentual, a segunda que mais cresceu foi a Nissan (51%), para US$ 338,7 milhões.
 
Também maior exportadora, Volkswagen informa que sua balança comercial tem sido superavitária nos últimos anos. Já a Nissan alega que a maior parte da sua importação é de automóveis, principalmente os mexicanos March e Versa, que não eram vendidos no início de 2011.
 
Os números do ministério incluem todas as compras externas, como veículos acabados, autopeças, matérias-primas e maquinário. No caso da GM, a importação de automóveis caiu 22,7%, para 23,8 mil unidades. Uma das justificativas para o resultado superior em valores pode ser a compra de autopeças.
 
Por Cleide Silva/O Estado de S. Paulo