Desconhecimento é o principal motivo que impede as companhias de adotar o conceito como estratégia. Segundo pesquisa da FDC, apenas 12% delas estimulam os colaboradores a darem ideias inovadoras.
O termo inovação ainda está longe de obter lugar de destaque na estratégia das empresas médio porte do país.Essa é a conclusão de uma pesquisa realizada pelo Núcleo Bradesco de Inovação da Fundação Dom Cabral (FDC) com 149 companhias com faturamento anual de R$ 16 milhões a R$ 300 milhões - no caso, de empresas de médio-grande porte, segundo classificação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Socials (BNDES).
O principal motivo para esse cenário desanimador é o desconhecimento dos empresários sobre o conceito. Entre os 233 participantes da pesquisa, 48,9% dizem que não conhecem programas de incentivo à inovação, 22,7% afirmam que falta foco no assunto e 9,1% apontam que não veem necessidade em incluir o tema na estratégia organizacional.
Não é de se surpreender, portanto, que menos da metade das empresas pesquisadas enxergam claramente a presença da inovação dentro da companhia - 57,3% dos entrevistados dizem que inovação não está presente ou está apenas parcialmente na estratégia das companhias.
Fabian Salum, coordenador do Centro de Referência de Inovação da FDC e coordenador da pesquisa, explica que o termo não tem uma explicação única.
"Para nós, o conceito parte do pressuposto de que tem de haver geração e percepção de valores. É algo pragmático: tem de se identificar que algo mudou para melhor", diz.
"Estudos mostram que 80% das inovações são incrementos nos produtos ou na gestão e não ineditismo. É o caso de ligar para call center e ser atendido rapidamente. Isso é geração de valor."
Apenas 12% dos participantes afirmam que a alta direção estimula integralmente os colaboradores a terem atitude orientada a inovar. Além disso, 79,8% dizem não fazer uso de incentivos à inovação e 69,4% não possuem parcerias para a inovação com universidades ou institutos de pesquisa e desenvolvimento.
"As médias empresas enfrentam os mesmos problemas que afligem as grandes - como arrumar recursos, gerenciar projetos. Conclusão: independente do porte: falta conhecimento", diz Salum. A saída é incorporar a inovação na estratégia da companhia, no orçamento, na comunicação.
"Quando isso é definido tem de se trabalhar cultura interna. Ensinar, abrir espaço, saber ouvir. Fomentar espaços e fóruns. Não estou falando de open inovação e sim closed innovation. Sem isso, não dá para ter agenda, conselho, recompensar, comitê que reconheça que o projeto trabalhou em prol da melhoria e gerou valor. Não adianta ter ideia, vender para o chefe e depois morrer", destaca.
Segundo Salum, o processo é lento e doloroso, como foi, na década de 1980, a implantação da gestão da qualidade total.
"Se as empresas fizerem esse dever de casa, a sociedade e o ambiente de competitividade do país saem ganhando", diz o professor.
"Fui para a Alemanha e todo mundo só fala que quer vir para o Brasil. Mas isso ainda não foi despertado nas empresas. Tenho medo que isso só aconteça tarde demais. A meta das companhias tem de ser aumentar a competitividade: pensar em sustentabilidade e fazer parceiras."