A reunião realizada ontem (15) no Palácio Itamaraty entre os chanceleres do Brasil, Antonio Patriota, e Héctor Timerman, do Brasil, não chegou a conclusões concretas quanto a restrições comerciais entre os dois países. O debate envolveu principalmente as licenças não-automáticas e as declarações antecipadas juramentadas. Segundo os ministros, uma reunião de comissão de monitoramento bilateral de comércio deve ocorrer em junho. "Com o objetivo de reduzir o déficit comercial da Argentina", explicou Timerman.
"Consideramos que épocas de crises pedem uma correta administração de comércio. Nos parece que as medidas tomadas pelo Brasil não são barreiras aos produtos argentinos, mas uma continuação da política que a Argentina vem tomando há bastante tempo", disse Timerman. "A ideia desta reunião de trabalho do Comitê Técnico e Político é, evidentemente, ajudar a reduzir o déficit comercial que o Brasil tem com o Brasil", afirmou o chanceler. Segundo Timerman, a Argentina tem capacidade de exportar US$ 2 bilhões em fármacos e pescado para o Brasil.
Segundo o ministro argentino, será resolvida "nos próximos dias" a questão da carne suína brasileira, que enfrenta cotas de importação na Argentina. Instantes depois, o secretário de Comércio da Argentina, Guillermo Moreno, afirmou que a questão das cotas seria resolvida "naturalmente" quando o Brasil passasse a comprar mais produtos argentinos, como cítricos, uvas e fármacos. "A situação é sensível. Estamos de acordo, as duas delegações, de que é necessário incrementar o comércio entre Argentina e Brasil", disse Moreno.
Europa
O chanceler Antonio Patriota classificou de "inconcebível" a ideia de o Mercosul negociar um acordo de livre comércio com a União Europeia sem a participação da Argentina. Essa ideia foi sugerida por autoridades espanholas. "É inconcebível imaginar um exercício dessa natureza", disse Patriota. "Esperamos continuar avançando no formato birregional. Não existe outra hipótese", disse o chanceler brasileiro. Amanhã o chanceler espanhol, José Manuel García-Margallo, se encontrará com Patriota, em Brasília. A Argentina ocupa atualmente a presidência do Mercosul.
"Lamentamos essa atitude do chanceler espanhol. Parece que voltamos ao tempo de colônia, em que a Espanha decide quem negocia", criticou Timerman. "Estamos confiantes de que não serão eles que escolherão quem vai se sentar à mesa", reforçou.
Cúpula
Segundo Timerman, a Argentina vai propor na próxima Cúpula do Mercosul que a união aduaneira eleve ao máximo permitido pela Organização Mundial do Comércio (OMC) a tarifa de alguns produtos. O chanceler, no entanto, preferiu não detalhar quais produtos estariam nessa lista, justificando que essa proposta será primeiro enviada aos sócios do Mercosul.
Por Iuri Dantas / Agência Estado