O déficit tecnológico da indústria brasileira cresceu 24,1% em 2011, em relação a 2010, alcançando o nível recorde de US$ 105,4 bilhões, segundo estudo divulgado pela Sociedade Brasileira Pró-inovação Tecnológica (Protec). O indicador foi criado para avaliar o nível de competitividade dos segmentos industriais de maior intensidade tecnológica no comércio exterior de mercadorias e serviços.
O estudo destaca que a indústria, como um todo, registrou déficit de US$ 43,2 bilhões no ano passado. "O número é agravado pelo fato de que, descontado do resultado o superávit do grupo tecnológico de baixa intensidade tecnológica, o saldo dos demais grupos — alta, média-alta e média-baixa — salta para um déficit da ordem de US$ 86 bilhões", diz o documento.
Segmentos de maior impacto
Entre os grupos de intensidade tecnológica, o que exerceu o maior peso no indicador da Protec foi o de média-alta, cujo déficit comercial somou US$ 51,8 bilhões — um aumento de 33% em relação a 2010 e crescimento nominal de US$ 39 bilhões. Esse grupo inclui máquinas e equipamentos elétricos, automóveis, produtos químicos, equipamentos para ferrovia e material de transporte, e máquinas e equipamentos mecânicos. "Desde 2009, todos os setores do grupo vêm apresentando déficit em seu saldo comercial. A indústria automobilística passou de um superávit de US$ 2,2 bilhões em 2008 para um déficit de US$ 7,6 bilhões em 2011", informa o estudo.
Apesar do resultado ruim do segmento automobilístico, o setor que mais contribuiu para o déficit no grupo de média-alta tecnologia foi o químico, excluindo o setor farmacêutico, com um peso de 43,1%. A Protec destaca que, entre 1996 e 2006, o setor químico registrava um saldo negativo médio de cerca de US$ 5 bilhões. A partir de 2007, esse valor foi gradativamente subindo até alcançar a marca de US$ 22,3 bilhões no ano passado.
Segundo a Protec, o crescimento do déficit comercial nos segmentos de alta e de média-alta intensidade tecnológica, agravado pela valorização do real e dos altos custos de produção, acabou por exercer uma influência negativa também nos produtos de média-baixa tecnologia, que é composto pelos setores de construção e reparação naval, borracha e produtos plásticos, petróleo refinado e combustíveis, e produtos minerais metálicos e não metálicos. Pelo segundo ano consecutivo, o segmento de média-baixa tecnologia teve saldo negativo, com US$ 4,5 bilhões em 2011, apesar de historicamente ser superavitário.
De acordo com o economista Fernando Varella, coordenador do estudo Monitor do Déficit Tecnológico, está ocorrendo no País um "desmantelamento" das cadeias produtivas, que podem ser muito difíceis de recuperar. "O pior é que o fenômeno se repercute em cadeia, arrefecendo a produção nacional e, mais ainda, a inovação", destacou o consultor no site da Protec.