Programa de eficiência energética pode acelerar projeto de motores no Brasil

Nova legislação deve obrigar fabricantes a adotar motores mais econômicos

Vem aí um programa de eficiência energética com potencial para tornar os veículos brasileiros mais econômicos no consumo de combustível e, ao mesmo tempo, reduzir as emissões de CO2, o gás de efeito estufa - até o momento não existe no Brasil nenhuma legislação nesse sentido. A iniciativa deve integrar o rol de regras do novo regime automotivo e está em gestação no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), trazendo exigências semelhantes às adotadas hoje em países europeus e Estados Unidos. 

 
A indústria automobilística já se prepara para o aperto na legislação de emissões e consumo e trabalha no projeto de novos motores, desenvolvendo tecnologias como injeção direta de combustível, turboalimentação, controle de válvulas mais eficiente, redução de massa com a adoção de materiais mais leves e diminuição de atrito entre componentes. Os projetos adotam princípios de "downsizing" para tornar os propulsores menores, mas altamente eficientes. Devem se tornar mais comuns os blocos de alumínio e configurações de três cilindros. 
 
Paulo Cardamone, diretor geral da consultoria IHS Automotive para a América do Sul, apresentou durante o III Fórum da Indústria Automobilística, os principais objetivos do programa de eficiência energética. Ele enfatizou que, além de reduzir o consumo e emissões, os novos motores em desenvolvimento contribuiriam para a retomada das exportações de veículos produzidos no País, que atualmente estão abaixo dos padrões de eficiência exigidos em países desenvolvidos. 
 
Atraso
Em sua apresentação, Cardamone citou que, em 2011, a média de emissões dos veículos produzidos no Brasil está em 176 gramas de CO2 por quilômetro, nível mais alto do que os maiores produtores globais e muito elevado ao se considerar que a frota brasileira é formada, eminentemete, por modelos compactos do segmento B, hatchbacks, muitos deles equipados com motores pequenos 1.0. 
 
Até mesmo China e Índia já acompanham metas de emissões menores, enquanto o Brasil não tem nenhuma. Com isso, motores feitos aqui são substancialmente menos eficientes. Cardamone mostrou dois exemplos: o motor 1.4 do Fiat Punto, que aqui tem emissão de CO2 de 165,3 g/km com gasolina e de 163,8 g/km com etanol, na Europa, equipado com sistema Multiair, emite 134 g/km com gasolina; e o motor 1.6 Sigma da Ford que equipa o novo Ford Fiesta, aqui tem emissão de 168 g/km com gasolina e de 153,5 g/km com etanol, enquanto na Inglaterra o nível é de 133 g/km, graças ao uso de recursos como injeção direta e commando variável de válvulas.
 
Etiquetagem
Existem no governo discussões técnicas dos ministérios do Desenvolvimento e da Ciência e Tecnologia para adotar, no Brasil, um programa de etiquetagem veicular obrigatório, que poderá ser apresentado a representantes da indústria automotiva nas próximas semanas. Nem todas as montadoras apoiam a medida, pois ficar com uma nota ruim de consumo no parabrisa do automóvel na concessionária é algo que poderá mudar a decisão de compra dos consumidores para modelos mais eficientes. 
 
Nas regras já apresentadas do novo regime automotivo, a etiquetagem veicular não é obrigatória; é uma das três entre quatro exigências que uma montadora terá de cumprir para se candidatar ao desconto de até 30 pontos de IPI. A regra prevê, em escala crescente até 2017, a etiquetagem do Inmetro de 100% dos veículos produzidos pela fabricante, mas se não quiser fazer isso a empresa pode cumprir apenas as outras três determinações para a habilitação, que envolvem a realização de processos industriais no País e investimento em tecnologia, inovação e engenharia de produção.
 
Seja como for, só levando em conta as regras atuais, se investirem em motores mais eficientes, esse gasto pode ser incluído na conta do investimento em tecnologia e inovação, o que pode render abatimento extra de 1 a 2 pontos porcentuais no IPI. Seria, portanto, um incentivo também para modernizar os motores usados no País.
 
A equipe do governo Dilma avalia que o mercado interno, quarto maior consumidor de automóveis do mundo, deve ser usado para pressionar as montadoras instaladas no País a investir mais em tecnologia. Na avaliação do governo, os carros saídos das fábricas nacionais são menos eficientes do que os similares fabricados fora.