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Para alguns diretores de institutos de pesquisa, a aposentadoria e o falecimento de profissionais mais idosos não ameaçam tanto o quadro de funcionários quanto um fenômeno que está atingindo todos os setores do mercado de trabalho: a fuga de profissionais em busca de melhores oportunidades.
Com o aquecimento da economia em áreas de pesquisa (como produção de combustíveis, saúde e defesa), a ciência também gerou um mercado competitivo. "A qualidade dos jovens profissionais hoje é muito boa e o problema maior é a fixação deles, a fixação dessa geração Y nos institutos. Não sei se essa carreira de servidor público é atrativa para os jovens", indaga Domingos Manfredi Naveiro, diretor do Instituto Nacional de Tecnologia (INT).
Para Carlos Oití Berbert, coordenador-geral das unidades de pesquisa (SCUP/MCTI), a carreira no setor público é atrativa, mas o difícil é segurar os profissionais por muito tempo no mesmo lugar. "É um drama em todos os ministérios porque às vezes eles prestam concursos para uma determinada vaga ou cargo, pensando que é uma coisa, e quando chegam não é bem aquilo. Isso é parte da cultura brasileira, são os concurseiros", relata.
"Não temos alternativas para reter essas pessoas porque os salários são determinados pela legislação vigente e nós não temos nenhuma possibilidade de uma gratificação extra, um cargo, uma função remunerada", revela Maria Virginia Alves, chefe de gabinete do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe), a respeito da situação do instituto. "A única atração que existe é, a partir do momento em que ele completa o tempo de serviço, solicitar o abono permanência, e assim ele não contribui para a previdência", completa.
Estímulos
Oití explica que há interesse do MCTI "em manter o pessoal o máximo possível" e que "a carreira em C&T é boa e tem futuro para quem se dedica a ela". "Porém, grande parte desses jovens vem com a cabeça voltada para outras áreas, mais do que propriamente para a carreira. A melhor coisa que se pode e se está fazendo para mantê-los é dar incentivos de trabalho e não incentivos financeiros, pois esses eles podem encontrar em outro lugar", opina.
É o que o Instituto de Pesquisa Tecnológica anda fazendo. João Fernandes Gomes de Oliveira, presidente do IPT, lembra que "qualquer instituição pública, federal ou estadual, tem salários pouco competitivos conforme se evolui na carreira", pois "os tetos são limitados". "Os jovens, ao perceberem isso, hoje estão muito mais preocupados com sua própria carreira do que com o ambiente de trabalho, então é difícil retê-los", ressalta.
Para evitar a evasão, Oliveira conta que foram criadas diversas frentes no IPT. "Fizemos um estudo sobre quais seriam os principais objetos de manutenção das pessoas. E percebemos que nosso plano de carreira tinha que ter características diferentes de um plano de carreira de uma instituição de pesquisa pura", explica, lembrando que o IPT é de pesquisa aplicada. Uma delas é dar mobilidade aos funcionários, "perceber quem são os bons, promovê-los rápido e colocá-los em cargos estratégicos, senão, eles se vão".
Outra medida é incluir o desenvolvimento contínuo do pesquisador para que ele entenda do mercado e da tecnologia em que ele atua, para que ele saiba trabalhar com gestão e saiba negociar e lidar com valores, além de negociar projetos. "Ao inserir essas características, que não são típicas dos pesquisadores, a gente começou a dar treinamento a eles, que estão gostando muito", pontua.
Um programa de capacitação no exterior completa a estratégia de motivação. Dos últimos 300 contratados, o IPT já mandou para o exterior 70 deles. "[A solução] é trabalhar com satisfação em um projeto em que se sabe que terá resultado", resume Oití, que acredita que o investimento em inovação e na criatividade trará bons resultados nesse sentido.
Fonte: Jornal da Ciência / Clarissa Vasconcellos
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