Brasil precisa priorizar setores industriais no pré-sal

As descobertas do pré-sal entraram no radar de todas as grandes empresas ligadas ao setor de petróleo no mundo. O campo de Lula, com 8,3 bilhões de barris, superou o topo das previsões inicialmente anunciadas. Segundo estimativas, a indústria de óleo e gás,que representava 9% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010,poderá responder por 20% ao fim desta década. No entanto, para que essas expectativas sejam transformadas em números reais, muitos furos na política industrial para a cadeia do petróleo precisam ser preenchidos,na opinião de José Sá, especialista em óleo e gás e sócio da consultoria Bain & Company.

Para Sá, a lição de casa está longe de estar pronta. “Acho que toda a descoberta passa por um período de ‘oba-oba’. Agora, começamos a entrar na fase do ‘epaepa’, o que significa que há muito trabalho a ser feito”, diz o especialista.Para que a importância da cadeia do petróleo nas riquezas nacionais venha mesmo a dobrar até 2020, o governo precisa decidir agora quais serão as prioridades no desenvolvimento de setores relacionados à exploração de óleo e gás,como as indústrias naval, de máquinas e de geração de energia elétrica.

Por enquanto, o governo federal só definiu cotas de conteúdo nacional para as plataformas do pré-sal–dependendo do equipamento, a participação da indústria local deve ficar entre 30% e 60%. No entanto, especialistas alertam que isso poderá apenas encarecer os custos de navios e outros equipamentos produzidos internamente, sem trazer qualquer diferencial competitivo para o País. “É preciso eleger
prioridades. Construir casco de navio, por exemplo, é uma atividade que prioriza o custo mais baixo. Por isso, a construção era feita na Coreia, hoje passou para a China e em breve deverá migrar para países como Indonésia”, explica Sá.

Em vez de atirar para todos os lados, diz o especialista, o Brasil precisa encontrar uma atividade na qual consiga ser competitivo sem abrir mão dos padrões de remuneração e tratamento de mão de obra estabelecidos pela Constituição. Não será um feito inédito. O sócio da Bain & Company lembra que a Alemanha aposta no desenvolvimento de tecnologia para viabilizar a exportação de produtos industriais sem disputar o mercado “low cost”com países asiáticos. “Não há como criar uma indústria competitiva pensando somente no mercado local. A indústria de transformação tem um efeito importante na expansão do PIB, mas precisa mirar mais a demanda externa do que a interna”, diz ele. Afinal, por mais que o País cresça,o consumo de todas as outras ações juntas sempre será maior.

Concentração
Para Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), as cotas de conteúdo local não podem virar um meio de o País repetir o erro da Lei de Informática,uma decisão do governo militar que causou considerável atraso tecnológico no Brasil. A opção de eleger a Petrobrás como única operadora do pré-sal também é questionada pelo especialista. Segundo ele, esse tipo de concentração pode causar lentidão no desenvolvimento do setor.“

Em 2011,na média para os 12 meses, a produção de petróleo da Petrobrás ficou 3,7% abaixo da meta que a própria empresa havia estabelecido no início do ano.” Segundo dados oficiais, a Petrobrás também não conseguiu cumprir o próprio objetivo de investir R$ 84,7 bilhões no ano passado. No fim do ano, a empresa anunciou que o total aplicado ficaria estagnado em relação a 2010, ao redor de R$ 76,4 bilhões.
A petrolífera creditou o resultado à dificuldade em comprar equipamentos de produção. Sem dar números, informou que esperava compensar o resultado em 2012.


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