Argentina cria barreira para importação de manufaturados

As empresas brasileiras instaladas na Argentina começam a ser informadas pelo governo da presidente Cristina Kirchner que irá aumentar ao longo deste ano a escalada protecionista no país para conter as importações. Na última semana, executivos foram avisados que nenhuma importação de bens acabados será mais autorizada, a não ser que o importador comprove que a mercadoria não conta com produção no país.

Desta vez, o objetivo da medida não é impulsionar a produção local, mas preservar o saldo comercial, que foi de US$ 11 bilhões no ano passado. Desde dezembro, a área de comércio exterior no governo passou do Ministério de Relações Exteriores para o âmbito do Ministério da Economia, em que a figura central é o secretário de Comércio, Guillermo Moreno, e não o ministro Hernán Lorenzino. É o próprio Moreno que tem conversado diretamente com os empresários, segundo afirmou um dos participantes dessas reuniões.

As reclamações não são apenas contra as mercadorias chinesas, como no Brasil. Desde 2003 a Argentina não possui superavit em relação ao Brasil. O jornal portenho “La Nación” noticia que o déficit comercial da Argentina com o Brasil aumentou 42% em 2011, atingindo US$ 5,8 bilhões.

De acordo com o inspetor-analista do Banco Central, Alcides Leite declarou ao blog Radar Econômico “A Argentina está comprando mais produtos manufaturados do Brasil, sobretudo automóveis, máquinas e equipamentos agrícolas, eletrodomésticos, bens de capital e inclusive alimentos industrializados.” O autor de Brasil: a trajetória de um país forte, completa: “No comércio do Brasil com a Argentina, a relação de troca é inversa daquela que acontece no comércio entre Brasil e outros países, sobretudo China, Estados Unidos, Europa e Japão. Para a Argentina exportamos mais produtos manufaturados e importamos mais commodities.”

Fiat paralisa atividades
Na terça, a Fiat paralisou atividades em sua unidade em Córdoba, alegando não ter obtido licença para a importação de autopeças. A decisão da Fiat irritou o governo, que respondeu ontem em uma entrevista da ministra da Indústria, Debora Giorgi, à agência oficial Télam. A ministra classificou a atitude da montadora de "mesquinha e alienada", mas afirmou que a liberação das licenças - uma área da qual a ministra não é mais responsável - foi concedida para que a fábrica volte a funcionar "no menor prazo possível".

A Fiat Argentina possui a produção integrada com a Fiat brasileira. A unidade se abastece de autopeças no Brasil e transfere para o país cerca de 85% de sua produção. De todas as montadoras, é a que mais depende do país vizinho para a sua operação na Argentina. O setor automotivo é o principal na balança comercial entre os dois países.


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